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Opositor do Burundi aceita lugar de topo no Parlamento

Maria João Pinto / Sandner / Tangen Jr. / agências31 de julho de 2015

O líder da oposição no Burundi é agora o vice-presidente da Assembleia Nacional. Alguns dos que o acompanharam nos protestos contra a terceira candidatura do Presidente Pierre Nkurunziza apelidam-no agora de "traidor".

Foto: Reuters/M. Hutchings

Numa votação que se revelou surpreendente, esta quinta-feira (30.07), Agathon Rwasa foi eleito o número dois da Assembleia Nacional burundesa.

A votação teve lugar uma semana depois de o Presidente Pierre Nkurunziza ter conquistado um controverso terceiro mandato – uma vitória que se seguiu a meses de violentos protestos, apoiados por Rwasa e outros membros da oposição.

O líder da Frente Nacional de Libertação (FNL) aceitou ocupar uma das posições de topo no Parlamento do Burundi, apesar de a oposição ter boicotado as eleições legislativas, regionais e presidenciais. A Comissão Eleitoral não reconheceu o boicote, mantendo a candidatura de Rwasa, que ficou em segundo lugar na corrida à Presidência.

O líder da oposição afirma que aceitou o cargo para encontrar uma solução para a crise política no Burundi. Em entrevista à DW, Agathon Rwasa mostra-se disposto a participar num Governo de unidade nacional.

"Os resultados das eleições mostram que os burundeses querem mudança", diz. "Temos de reconhecer este desejo e ver como podemos fazer-lhe justiça. Nenhum Governo pode ser bem sucedido se não tiver o apoio do povo."

O líder da oposição, Agathon Rwasa, ficou em segundo lugar nas presidenciais de 21 de julhoFoto: DW/K. Tiassou

Juntamente com Rwasa, Pascal Nyabenda, líder do partido no poder, o Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD), foi eleito presidente da Assembleia Nacional. Edouard Nduwimana, ministro do Interior, foi eleito segundo vice-presidente.

Críticas

Da oposição chovem críticas ao facto de Agathon Rwasa estar disposto a assumir o lugar de vice-presidente do Parlamento. Há quem use mesmo a palavra "traidor".

As divergências não surpreendem Julia Grauvogel, investigadora no Instituto GIGA de Estudos Africanos, em Hamburgo. A analista lembra que combater um terceiro mandato de Nkuruniza foi o único denominador comum do campo da oposição, pelo que, após a vitória do Presidente, Rwasa está agora a lutar pela sobrevivência política ao aceitar participar no seu Executivo.

"A oposição pode estar a tirar uma lição das eleições de 2010. Na altura boicotou a votação, mas os observadores consideraram o escrutínio livre e justo. E a oposição foi politicamente marginalizada durante cinco anos", lembra Grauvogel.

Novas eleições?

Rwasa foi eleito vice-presidente da Assembleia Nacional com o apoio do partido de Pierre Nkurunziza, conquistando 108 votos em 112.

O líder da oposição não se opõe a um Governo de unidade nacional, desde que o grande objetivo seja preparar novas eleições no prazo de um ano. O partido no poder rejeita essa condição, exigindo que o Presidente Nkurunziza cumpra o seu mandato de cinco anos.

Várias figuras da oposição temem que Rwasa aceite formar um Governo com Nkurunziza, sem que as condições impostas sejam aceites – a decisão poderá criar uma ruptura na aliança da Frente Nacional de Libertação com a União para o Progresso Nacional (UPRONA), outro partido da oposição.

As divisões no seio da oposição, dizem os analistas, podem prejudicar o processo de paz no país nos próximos cinco anos.

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Entretanto, também esta quinta-feira, um grupo de opositores no exílio – incluindo ex-membros do partido de Nkurunziza – reuniram-se em Addis Abeba, capital da Etiópia, para formar um Governo alternativo e desafiar o Presidente.

Vários observadores consideram que, embora haja figuras de peso neste Conselho, não é possível ainda prever que influência terá esta alternativa no panorama político do Burundi.

Num discurso televisivo, na quinta-feira à noite, o Presidente Nkurunziza apelou à unidade nacional, afirmando que será um Presidente para todos: "Todos irão gozar dos mesmos direitos e oportunidades, sem favoritismos."

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