ONG alemãs pedem moratória para Moçambique após ciclone Idai
Daniel Pelz | rl
5 de abril de 2019
Organizações alemãs defendem que Moçambique deve receber uma moratória da dívida para ter uma "margem de manobra adicional na situação de emergência" causada pelo ciclone Idai.
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Várias organizações da sociedade civil da Alemanha consideram que devia ser dada a Moçambique uma moratória da dívida, após a passagem do ciclone Idai. É que, para além do número elevado de mortes que fez e do rasto de destruição que deixou, o ciclone veio agravar a já economia frágil deste país altamente endividado.
Em entrevista à DW, Klaus Schilder, da organização Misereor, defende ainda que, para além da moratória, devia também ser analisado, a médio prazo, um corte da dívida.
"Esta seria uma excelente oportunidade para renunciar a reembolsos e assim dar ao país uma margem de manobra adicional na situação de emergência", considerou.
Dívida mundial
Klaus Schilder falava, em Berlim, no início desta semana, na apresentação do "Relatório da Dívida de 2019" da associação Erlassjhar.de, composta por grupos da sociedade civil e da Igreja, e que concluiu que o peso da dívida a nível mundial é dramático e está a aumentar.
Organizações alemãs pedem moratória para Moçambique após ciclone Idai
Dos 154 países analisados, 122 estão altamente endividados, mais três do que no ano passado. Os países mais pobres do mundo não têm estado a conseguir escapar àquilo que a organização alemã considera ser a "armadilha” das taxas de juro baixas. E que acaba por fazer com que os países contraiam empréstimos que não conseguem pagar.
África é o continente mais atingido, diz Jürgen Kaiser, coordenador da organização Erlassjhar.de: "O que há de especial em África é que quase todos os países estão fortemente endividados. Não há quase nenhum país que escape no mapa africano".
Angola entre os mais endividados
Em países como Angola, São Tomé e Príncipe, Gâmbia, Eritréia, Somália, Sudão do Sul e Sudão, a situação é tão grave que as dívidas deixaram de ser pagas.
Embora a corrupção seja apontada como a causa de muitas das dívidas, como é o caso de Moçambique e da República Democrática do Congo, o relatório chama a atenção para outros fatores. Há quem aponte o dedo à China, uma vez que, entre 2000 e 2017, o país concedeu empréstimos a Estados e empresas africanas no valor de 143 mil milhões de euros.
Mas, diz Jürgen Kaiser, o Banco Mundial e algumas iniciativas europeias também têm uma quota-parte de responsabilidade sobre a situação. Segundo Kaiser, iniciativas como o "Pacto com África", lançado durante a presidência alemã do G20, "também podem implicar um alto risco de endividamento, dependendo das modalidades de financiamento escolhidas" pelos países.
População sofre as consequências
Apesar dos alertas das organizações da sociedade civil locais, são vários os Governos africanos que não reconhecem que os seus países estão a caminhar para uma nova crise da dívida, cujas consequências acabam sempre por recair, a curto ou longo prazo, sobre a população. Moçambique é um bom exemplo disso: um país sobrecarregado com dívidas que, após, a ocorrência de uma catástrofe inesperada, se encontra agora de mãos e pés atados para ajudar as cerca de 1,4 milhões de pessoas afetadas.
Jürgen Kaiser explica que "o progressivo sobreendividamento dos Estados contribui para mais pobreza e desigualdade. Por quê? Se grande parte do orçamento de um país for usada para pagar a sua dívida, o Governo será impedido de fornecer os fundos necessários para os setores da saúde e educação".
Os criadores do relatório sobre a dívida entendem, por isso, que deve ser criado um registo mundial da dívida, no qual deverão estar acessíveis ao público todas as informações acerca das dívidas de todos os países - incluindo modalidades de reembolso, credores e outros custos.
Para esta organização alemã, a solução passa também pela criação de um plano internacional de falências, no qual a dívida dos Estados altamente endividados possa ser aliviada de forma ordenada para que a população não tenha de suportar indiretamente estes custos.
Ciclone Idai: Onda de solidariedade alemã para com Moçambique
Na Alemanha, o ciclone Idai provocou uma onda de solidariedade. O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Organizações humanitárias e igrejas cristãs pedem donativos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Cruz Vermelha Alemã: Unidade sanitária móvel para a Beira
A cidade da Beira vai receber uma unidade sanitária móvel para 20.000 pessoas e um sistema de água potável para fornecer 15.000 pessoas, anunciou a Cruz Vermelha Alemã (DRK). Esta organização que coopera com a Cruz Vermelha de Moçambique já conseguiu angariar em termos de donativos individuais 50.000 euros até ao momento. A recolha de fundos ainda está activa.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Cruz Vermelha Alemã: Já esteve ativa na prevenção
Ainda antes do ciclone Idai atingir o território moçambicano houve uma campanha de prevenção para ajudar a população a enfrentar o ciclone. Foram distribuídos comprimidos para purificar a água e kits de primeiros socorros. Além desta ajuda também foram fornecidos cobertores, lonas, colchões e utensílios de cozinha.
Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi
Caritas Alemanha: distribui alimentos
A Caritas alemã, organização da igreja católica, pede donativos no seu site e também já está em Moçambique. Um dos parceiros locais em Moçambique é a Associação Esmabama. Têm distribuído na Beira alimentos como farinha, feijão e óleo para cozinhar e água potável. Também distribuíram produtos de primeira necessidade como roupa, cobertores, sabonetes, kits de primeiros socorros e baldes.
Foto: Caritas International
Diocese de Friburgo: donativo de 100.000 euros
O bispado de Friburgo no sudoeste da Alemanha fez um dos maiores donativos. Deram cem mil de euros à Caritas para ajudar as vítimas do ciclone. "As notícias que nos chegam dos nossos parceiros locais em Moçambique são dramáticas", disse Oliver Müller, director da organização de ajuda da Caritas. Disse que estão a fornecer "alimentos, água potável, artigos de higiene, cobertores e vestuário".
Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger
Diakonie Katastrophenhilfe: cooperação com igrejas em Moçambique
A Diakonie Katastrophenhilfe, a organização de ajuda de emergência da igreja luterana, foi uma das primeiras ONGs a fazer apelos a donativos logo após o ciclone e já conseguiu angariar 100.000 euros. Em conjunto com a CEDES, Comité Ecuménico para o Desenvolvimento Social, tem dado apoio em várias regiões de Moçambique. A ajuda alimentar desta organização já chegou a 50.000 moçambicanos.
Foto: Diakonie Katastrophenhilfe
Igrejas: colheita de donativos
Foram muitas paróquias que dedicaram as colheitas das missas de domingo às vítimas do ciclone em Moçambique. Uma delas foi esta igreja católica reformada de Colónia, a Christi Auferstehung (Alt-Katholische Kirche Deutschlands). O pastor pediu aos fiéis uma ajuda generosa que iria reverter a favor da campanha da Diakonie Katastrophenhilfe.
Foto: DW/J. Beck
Igrejas: Informação sobre a situação em Moçambique
Na porta da igreja, foi afixado um cartaz com informações detalhadas sobre a situação no centro de Moçambique. Destaque para a cidade da Beira e as destruições causadas na província de Sofala. O cartaz lembra a necessidade de apoiar as vítimas que perderam quase tudo.
Foto: DW/J. Beck
Diakonie Katastrophenhilfe: prioridade assegurar água potável
Uma das principais prioridades da Diakonie Katastrophenhilfe é garantir que haja água potável. Nesse sentido já foram distribuídos medicamentos para purificar a água. O director responsável de África da Diakonie Katastrophenhilfe, Kai M. Henning garante o seguinte, “agora temos de sobretudo fornecer água potável às pessoas, há um grande risco das águas ficarem contaminadas e espalharem doenças.”
Foto: DW/B. Jequete
Action Medeor: foco em medicamentos
“A logística para a área do desastre é difícil porque grande parte das infra-estruturas da região foram destruídas pelo ciclone", relata Bernd Pastors. A fim de poder levar rapidamente os medicamentos para a zona sinistrada, a Action Medeor está a processar as entregas de ajuda urgentemente necessárias através das filiais na Tanzânia e no Malawi.
Foto: Action Medeor
Action Medeor e DMG: parceria com a Universidade Católica
Juntamente com a Sociedade Alemã-Moçambicana (Deutsch-Mosambikanische Gesellschaft - DMG), a Action Medeor está a preparar ajuda médica para a Universidade Católica de Moçambique na Beira. Os doentes da cidade mais gravemente afectados pelo ciclone podem ser tratados através do centro de saúde associado.
Foto: DW/J. Beck
UNICEF Alemanha: foco na educação
O comité nacional da UNICEF, a organização educacional das Nações Unidas, juntou-se ao apoio das vítimas do ciclone. Cerca de 2.600 salas de aulas foram destruídas (foto de escola na Beira) durante o ciclone e há uma grande preocupação em recuperar as escolas rapidamente. Será uma das tarefas principais da UNICEF em Moçambique.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hadebe
Ordem de Malta Internacional: equipa de ajuda no local
Uma equipa da Ordem de Malta Internacional da Alemanha (Malteser International) já viajou para Moçambique para prestar socorros urgentes (foto simbólica). "A situação é confusa. ... As infra-estruturas do país estão muito danificadas e estamos numa corrida contra o tempo", diz Oliver Hochedez, Chefe de Ajuda de Emergência da Ordem de Malta Internacional.
Foto: DW/B. Jequete
Technisches Hilfswerk: 5.000 litros de água por hora
A agência estatal da Alemanha de ajuda técnica, Technisches Hilfswerk (THW), enviou uma equipa a Nhangau, nos arredores da Beira. Na quinta-feira (28.03), já conseguiu instalar uma unidade móvel que fornece 5.000 litros de água potável por hora. "Os 30 poços da região estão contaminados com bactérias de diarreia", conta Jens-Olaf Knapp, que lidera a equipa do THW na província de Sofala.
Foto: THW/Jörg Eger
Technisches Hilfswerk: escola com água saudável
Os responsáveis do THW, que na sua maioria costumam ser voluntários alemães, relatam que ficaram muito contentes com a reação da população local de Nhangau após a instalação da central de água. "Um passo muito importante para manter as crianças saudáveis", comentou Esmeralda Basela, a diretora da escola local, onde foi instalada a unidade móvel de água do THW.