Organizações angolanas querem ajudar nas eleições.
Lusa
6 de dezembro de 2016
Associações mostraram-se disponíveis, em evento hoje (06.12), a cooperar para a boa condução das eleições gerais do próximo ano.
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O objetivo é ajudar a direcionar os discursos dos partidos políticos em período de pré-eleitoral para preservar a paz e evitar a abstenção nas eleições gerais de 2017. O mote foi lançado em Luanda no arranque de uma conferência organizada pela Associação Mãos Livres, o Fórum das Mulheres Jornalistas e a Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD).
Em declarações à imprensa, o dirigente da Associação Mãos Livres, David Mendes, referiu que no próximo ano (2017) essas organizações vão mudar as suas agendas em função do processo eleitoral que se avizinha para que o mesmo decorra "da melhor maneira" e sem os "conflitos" que se verificam na vizinha República Democrática do Congo.
Segundo David Mendes, o programa e ações dessas organizações vai se adaptar ao processo eleitoral, nomeadamente no estímulo das pessoas ao registo eleitoral, à votação e educação dos políticos para "assumirem os resultados que vierem das eleições".
Pré-campanha eleitoral
David Mendes referiu que a realização desta conferência de dois dias teve como objetivo juntar partidos políticos, igrejas e sociedade civil, para uma reflexão à volta da situação da paz, da democracia e dos direitos humanos em Angola, a propósito do período de pré-campanha eleitoral.
"Sabemos que quando há campanhas, ou pré-campanhas, os partidos políticos tratam de defender os seus programas e, nessa defesa dos seus programas, às vezes se esquecem de que é preciso preservar a paz, os direitos humanos e a democracia", salientou.
O advogado considerou importante estimular a tolerância política. "Muitas vezes entre nós, em África em geral, não se respeita. Este é um exercício que se quer fazer para envolver os partidos, a sociedade civil, as igrejas, para este espírito de tolerância e de reconhecimento da unidade na diversidade, é esse o nosso propósito", disse David Mendes. Um tema que, segundo o mesmo confirmou, foi escolhido precisamente pelas reclamações dos partidos políticos da oposição, sobre a falta de transparência no processo de registo eleitoral em curso no país.
"Tem a ver com isto, porque se você lança a ideia de que o processo não é transparente permanentemente, não se credibiliza o processo - ainda que haja erros vamos tentar corrigí-los e vamos direcionar para aquelas instituições encarregues de corrigir os erros. Se você continua, enquanto poder político, a dizer à população que isto não está bom, que isto não está certo, vai criar abstenção", frisou.
Abstenção
"Será que os que estão a concorrer querem abstenção, então ao fazerem discursos que não estimulam as pessoas a registarem-se, a concorrem para o registo, estamos a criar condições para abstenção e os discursos os políticos estão muito mal direcionados e a sociedade civil pode ajudar a direcionar os discursos", adiantou o dirigente da Associação Mãos Livres.
David Mendes manifestou o seu agrado pelo compromisso assumido pelos líderes da UNITA, Isaías Samakuva, da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, e da FNLA, Lucas Ngonda, partidos da oposição, de respeitarem quais forem os resultados das próximas eleições, num contexto de um processo transparente. "É isso que para nós é importante, esse compromisso, estamos a ir para as eleições, é preciso que as pessoas assumam que as eleições não são o fim único de um sistema democrático", concluiu.
2015 em imagens: África luta pela democracia
Presidentes que fazem de tudo para se manter no poder. Populações com sede de mudança. 2015 foi um ano marcado pela luta por mais democracia em África e uma forte resistência. Veja a retrospectiva em imagens.
Foto: picture-alliance/AA/H.C. Serefio
Contra um terceiro mandato
Milhares saíram às ruas no Burundi quando o Presidente manifestou o desejo de continuar no poder. A Constituição só permite dois mandatos seguidos, mas isso não impediu que Pierre Nkurunziza fosse reeleito em julho para um terceiro. Forças de segurança recorreram à violência para acabar com os protestos. Pessoas foram intimidadas, detidas e assassinadas. O país esteve à beira de uma guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Huxta
Desentendimentos com o vizinho Ruanda
A crise no Burundi também afetou as relações com o Ruanda. O Presidente Paul Kagame (esq.) criticou Pierre Nkurunziza (meio) em público, acusando o Governo de massacrar o próprio povo. Mas Kagame também não quer deixar o poder. Como não podia recandidatar-se às eleições de 2017, porque a Constituição não permitia, resolveu alterá-la. A população aprovou a mudança em referendo.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karuma
Congo-Brazzaville: 30 anos no poder
Também Denis Sassou-Nguesso, de 72 anos, não quer deixar a liderança. Governa a República do Congo há mais de 30 anos consecutivos. O referendo sobre alterações na Constituição, em outubro, terminou em derramamento de sangue. Segundo a oposição, houve manipulação dos votos. Na vizinha República Democrática do Congo (RDC), civis protestaram contra planos semelhantes do Presidente Kabila.
Foto: picture-alliance/dpa
Mudança de Governo histórica na Nigéria
Na Nigéria, eleições em março conduziram Muhammadu Buhari ao poder. Ele é o primeiro chefe de Estado a chegar à liderança do país por vias democráticas. Ninguém acreditava que o antecessor Goodluck Jonathan desistiria do poder tão facilmente. Buhari quer acabar com a corrupção, altera chefias de cargos importantes e não esconde o seu património. O seu maior desafio é a luta contra o Boko Haram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
100% para o Governo etíope
No final de maio, cerca de 35 milhões de etíopes elegeram um novo Parlamento. Todos os 547 assentos foram para a coligação do partido no poder, a Frente Popular Democrática Revolucionária Etíope (EPRDF). A oposição perdeu toda e qualquer representação no Parlamento e ainda foi alvo de pressões antes do escrutínio, tal como os jornalistas, criticaram observadores.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kolli
Tanzânia: O que Magufuli faria?
Internautas africanos usaram o Twitter, com o hashtag #WhatWouldMagufuliDo (o que Magufuli faria, em português), para reunir ideias para o novo Governo. Tudo porque o novo Presidente, John Pombe Magufuli, prefere investir em novas camas hospitalares do que em banquetes para políticos. Porém, durante as eleições a oposição suspeitou de fraudes. Exigiu vitória e não reconheceu Magufuli.
Foto: Reuters/S. Said
Costa do Marfim: Apoio das mulheres
Tensa e preocupada, a população votou nas eleições presidenciais de 25.10. O último escrutínio do género, há cinco anos, tinha acabado em guerra civil. Desta vez, decorreu de forma pacífica. Alassane Ouattara é o novo Presidente. Mariame Souaré (esq.) acreditou na sua vitória muito antes de serem conhecidos os resultados. Durante a campanha, Ouattara conquistou principalmente as mulheres no país.
Foto: DW/K. Gänsler
Angola: Ativistas em tribunal
Em novembro, jovens angolanos protestaram em frente ao tribunal da capital, Luanda. No interior do edifício, 17 membros de um movimento juvenil começaram a ser julgados. Tinham-se reunido numa livraria para organizar manifestações pacíficas contra o atual Governo. São acusados de planear um golpe de Estado contra José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola há 36 anos.
Foto: Reuters/H. Corarado
A difícil pacificação do Mali
Em meados de maio, o Governo do Mali alcançou um acordo de paz com grupos armados no país. Em junho, rebeldes tuaregues também assinaram o tratado. Após longas negociações, a paz no norte do país parece possível. Mas, em agosto, grupos tuaregues rivais voltam a enfrentar-se. Em novembro, radicais islâmicos fizeram 170 reféns num hotel na capital, Bamako. Vinte pessoas morreram.
Foto: picture-alliance/Photoshot
Otimismo no Burkina Faso
Vitória surpreendente na primeira ronda das eleições: no fim de novembro, Roch Marc Christian Kaboré foi eleito Presidente. O escrutínio aconteceu um ano após Blaise Compaoré ter sido forçado a deixar o poder, depois de 27 anos. As eleições estavam planeadas para outubro, mas parte do exército perpetrou um golpe de Estado em setembro. E as tão esperadas eleições foram adiadas.
Foto: Reuters/J. Penney
Caos e violência na República Centro-Africana
A República Centro-Africana deveria ter ido às urnas em outubro. Mas as constantes desavenças violentas entre apoiantes da ex-coligação Séléka, de maioria muçulmana, e milícias cristãs anti-balaka tornaram o escrutínio impossível. A nova data é 30 de dezembro.