Dos mais de 13 mil inscritos para estudar em 2016, apenas cerca de seis mil concluíram o ano letivo. Professores não recebem salários e alunos reclamam da falta de material escolar.
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A ONU escolheu o dia 8 de setembro como dia Internacional da Alfabetização, com o objetivo de fomentar a educação em vários países. Mais de 50 anos se passaram e o mundo ainda tem 758 milhões de adultos analfabetos. Desses, 400 milhões são crianças consideradas analfabetas funcionais. O acesso à educação é negado a 62 milhões de meninas e mulheres.
No sul de Moçambique, na província de Inhambane, 57% dos alunos que frequentavam aulas de alfabetização de adultos desistiram dos estudos. As autoridades governamentais dizem estar preocupadas. Enquanto isso, muitos professores deixaram de lecionar por não receberem seus salários há mais de um ano.Segundo Assissa Carimo, porta-voz do Governo provincial de Inhambane, dos mais de 13 mil inscritos para estudar em 2016, cerca de seis mil concluíram o ano letivo. "Tivemos um índice de desistência de 57.3%, o que, de certa forma, preocupa o Governo provincial. Deve-se encontrar um mecanismo para manter os homens na alfabetização, uma vez que não há muita aderência”, disse Carimo.
Nem salário nem material escolar
Maria Paiva é professora de alfabetização no distrito de Maxixe. Ela ganhou seu primeiro salário este mês, após um ano trabalhando sem receber. A professora afirma que as desistências são recorrentes porque o Governo não oferece material escolar aos alunos."Assinei o meu contrato em março do ano passado. Fui receber somente agora; mas mesmo assim eu não desisti”, relata Maria Paiva. Ela lamenta não haver "muita sensibilização” por parte do Governo.
08.09.17 - Alfabetização - Inhambane - neu - MP3-Mono
Fátima Ngulele desistiu das aulas de alfabetização em 2009, por não ter condições de adquirir material escolar, mas agora enfrenta outros problemas."Parei de estudar por falta de material, mas agora meu marido já não aceita que eu regresse à escola”.
Carimo acredita ser preciso melhorar o aproveitamento pedagógico, mas salienta que também os professores de alfabetização devem ser avaliados. Sobre o pagamento dos salários, a porta-voz do Governo revelou que um trabalho de monitoria já está em curso.
As aulas de alfabetização costumam acontecer três dias por semana, no período da tarde. A reportagem da DW visitou várias escolas na última quarta-feira (06.09.), mas não foi possível ver os alunos em salas de aula. Alguns diretores informaram que este ano eles têm apenas uma turma com cinco alunos. Além disso, há dias, só dois ou três alunos comparecem às aulas.
O projeto educacional da FRELIMO no exílio
Em 1962, ano de fundação da Frente de Libertação de Moçambique em Dar Es Salaam, no exílio na Tanzânia, surgiu a escola da FRELIMO em Bagamoyo. A partir da escola a FRELIMO planeou a independência de Moçambique.
Foto: Gerald Henzinger
Lembranças dos tempos coloniais alemães
De 1888 a 1891, Bagamoyo foi capital da colónia África Oriental Alemã, atual Tanzânia. Ainda hoje, os edifícios coloniais – como o da foto – lembram aquela época. Em 1916, a colónia alemã tornou-se britânica e, em 1961, conquistou a independência como Tanganica. Pouco depois, começaram as primeiras ambições independentistas no vizinho Moçambique, então colónia portuguesa.
Foto: Gerald Henzinger
A casa do primeiro presidente
O primeiro presidente de Moçambique após a independência, Samora Machel, morou nesta casa. Tanganica apoiava o movimento moçambicano pela independência. Em 1962, ano de fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, hoje no poder) em Dar Es Salaam, na Tanzânia, surgiu a escola do movimento em Bagamoyo. As instalações ficam a cerca de 5 km a sul de Bagamoyo.
Foto: Gerald Henzinger
Educação para uma nova sociedade
A partir de Bagamoyo, a FRELIMO planeou a independência de Moçambique, ex-colónia portuguesa. Um dos pilares da nova sociedade moçambicana deveria ser a educação. Na altura da independência, em 1975, grande parte da população moçambicana não sabia nem ler, nem escrever. Cinco anos depois, em 1980, a ONU ainda contava 73% de analfabetos. Em 2009, a taxa caiu para 45%.
Foto: Gerald Henzinger
Ajuda da Tanzânia
Placas apontam para a história do edifício da escola da FRELIMO – esta diz que o prédio da foto era um dormitório para combatentes pela libertação moçambicana. Durante as lutas pela independência de Portugal, a FRELIMO obteve ajuda da Tanzânia, já independente, e pôde estabelecer bases neste país vizinho, a norte de Moçambique.
Foto: Gerald Henzinger
Celeiro de dirigentes
Importantes personalidades atuavam no projeto educacional da FRELIMO no exílio, como nesta sala de aulas, em Bagamoyo. Um exemplo destas personalidades é a ex-vice-diretora da escola da FRELIMO no local, Graça Machel, viúva de Samora Machel. Posteriormente, ela tornou-se ministra da Educação de Moçambique e ficou conhecida como a atual esposa do antigo presidente sul-africano, Nelson Mandela.
Foto: Gerald Henzinger
Sobras dos potenciais intelectuais
Esta casa de lata costumava ser uma sala de estudos. Mais tarde, uma biblioteca. Agora, as instalações estão vazias. Muitos dos antigos alunos da escola da FRELIMO em Bagamoyo acabaram por ocupar cargos importantes em Moçambique, como em ministérios. Atualmente, muitos também trabalham nas universidades do país.
Foto: Gerald Henzinger
A Kaole High School
Depois da independência de Moçambique, os combatentes da FRELIMO saíram de Bagamoyo. Entre 1975 e 2011, a "Kaole High School" (escola secundária Kaole) passou a funcionar no local. Para que os alunos pudessem encurtar o caminho até a sala de aula, as autoridades educacionais tanzanianas construíram uma escola no centro de Bagamoyo. Na foto, um antigo dormitório.
Foto: Gerald Henzinger
Decadência
Poucos meses depois do fechamento da "Kaole High School", as condições dos edifícios era catastrófica. Os bancos de madeira estão sujos, cabras defecam nas antigas salas de aula, janelas e portas estão demolidas.
Foto: Gerald Henzinger
Descaso das autoridades?
As autoridades escolares da Tanzânia praticamente desistiram dos edifícios da antiga escola da FRELIMO. O governo moçambicano também não agiu para preservar a área – um dos pilares da história do país.