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Os benefícios da paz entre a Etiópia e a Eritreia

Gwendolin Hilse | ck
18 de julho de 2018

A paz entre eritreus e etíopes encheu de júbilo dois povos que têm muito em comum. Mas os analistas avisam que uma paz duradoura requer mais do que celebrações.

Foto: Reuters/T. Negeri

Os dois países acabam de dar mais um passo na aproximação que parecia impossível ainda há poucos meses: esta quarta-feira (18.07), partiu da capital etíope Adis Abeba o primeiro voo comercial em 20 anos rumo a Asmara, na Eritreia.

No fim-de-semana anterior, milhares de pessoas celebraram nas ruas de Adis Abeba a assinatura do acordo de paz, que trouxe ao país vizinho o Presidente eritreu, Isaias Afwerki. "Agora os eritreus e etíopes estão unidos", disse Afwerki diante de 25.000 etíopes. E o primeiro-ministro e anfitrião, Abiy Ahmed, não disfarçou a emoção: "A Etiópia está feliz por ter reencontrado a sua irmã perdida", afirmou na mesma ocasião.

Um jovem etíope que celebrava nas ruas da capital disse à DW: "Estou muito feliz por poder voltar a ter contato direto com os meus irmãos e amigos na Eritreia. Agora já não tenho que esperar eternamente por mensagens nas redes sociais. Posso sentar-me no carro e ir visitar os meus amigos pessoalmente."

O primeiro voo comercial em 20 anos entre a Eritreia e a Etiópia Foto: Getty Images/AFP/H. Tedese

De arqui-inimigos a amigos

A Eritreia ganhou a independência da Etiópia em 1993, após três décadas de guerra civil. Mais de 80.000 pessoas morreram numa guerra por território fronteiriço entre 1998 e 2000. As linhas de telefone foram cortadas, as fronteiras encerradas e as famílias separadas. A guerra fria durou outros 18 anos.

Mas de repente aconteceu algo que os observadores consideravam praticamente impossível: após semanas de gestos e palavras de amizade, o primeiro-ministro Abiy Ahmed viajou para Asmara para assinar com Afwerki um acordo de paz e anunciar a retoma de relações diplomáticas.

Os benefícios da paz entre a Etiópia e a Eritreia

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Ventos frescos na política etíope

O analista Solomon Dersso não tem dúvidas a quem cabe a responsabilidade por esta mudança profunda no Corno de África. "O processo de paz deve ser atribuído à coragem e ao empenho do primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed", disse o consultor em questões de segurança. "Há muito que os dois povos ansiavam pela paz e o fim da divisão entre as duas nações."

Abyi Ahmed assumiu a liderança do Governo em Abril. Lançou imediatamente um programa de reformas profundas e aceleradas. O estilo de governo autocrático dos seus predecessores tinha enterrado o país numa crise política e económica, o que resultou em graves distúrbios, que custaram a vida a milhares de pessoas.

Os conflitos ainda não foram todos resolvidos e são particularmente graves no sul da Etiópia. Organizações internacionais de assistência alertam para o número crescente de refugiados e a possibilidade de uma crise humanitária.

Novas oportunidades para todos

Solomon Dersso diz que a alegria e as celebrações não vão bastar para assegurar uma paz duradoura. Mas a paz é fundamental para o desenvolvimento económico dos dois países. "O que importa agora é a forma como o acordo assinado em Asmara vai ser concretizado. Sobretudo em termos da questão fronteiriça, mas também no que toca às relações comerciais entre os dois países."

As celebrações não bastam para garantir a paz, avisam os analistasFoto: Reuters/T. Negeri

As novas relações de amizade podem ser uma oportunidade para os dois lados. Os etíopes passam a ter acesso ao Mar Vermelho, mas também a Eritreia fica a ganhar, diz Dersso. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já anunciou que se delibera a possibilidade de suspender as sanções da ONU contra Asmara. 

Christoph Kannengiesser, diretor-geral da Associação para a África da indústria alemã, acredita que o acordo de paz possa estabilizar toda a região. "Penso que na Etiópia já foram criadas condições para uma liberalização e maior abertura da economia, criando maiores oportunidades para investimentos", disse Kannengiesser à DW. Resta saber se o mesmo se passará na Eritreia, acrescentou. "Mas o acordo de paz vai aumentar a mobilidade e a comunicação, criando automaticamente melhores condições para o comércio e os investimentos com participação externa", incluindo a Alemanha, disse Kannengiesser.

 

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