Resultados das eleições presidenciais nos Camarões continuam a ser aguardados com expetativa. O professor universitário camaronês Achille Mbembe espera um "novo impulso" no país.
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O Conselho Constitucional dos Camarões ainda está a conferir os votos das eleições presidenciais de domingo (07.10).
Sem citar números, o candidato do partido Movimento para o Renascimento dos Camarões (MRC), Maurice Kamto, já se proclamou vencedor do escrutínio, na segunda-feira. O anúncio criou tensão social no país. Mas o presidente do Conselho Constitucional, Essombe Emile, frisa que ainda não há resultados oficiais.
"Estamos a corrigir erros que foram cometidos num nível inferior", adiantou Emile em declarações à agência de notícias Associated Press. "Nós não nos importamos com o que as pessoas estão a dizer. Estamos fazer o trabalho para o qual a lei criou esta comissão."
O presidente do Conselho Constitucional assegura que o apuramento dos resultados está no bom caminho: "A nossa democracia está a crescer muito rapidamente. Esta é a primeira eleição presidencial que o Conselho Constitucional está a administrar, e as coisas estão a correr bem. Nós esperamos que, no final do processo, todos os camaroneses fiquem satisfeitos."
Eleições "justas"
Duas missões de observadores declararam as eleições justas e, apesar dos relatos de combates em várias regiões, não terá havido incidentes que pudessem influenciar a conduta do sufrágio.
Entretanto, o presidente da Comissão da União Africana pediu moderação aos representantes políticos dos Camarões. Mussa Faki rogou a todos os partidos que se abstenham de qualquer declaração ou ação que possa gerar violência. As autoridades eleitorais já vieram a público dizer que as declarações de Kamto são ilegais, uma vez que o Conselho Constitucional é o único órgão autorizado a proclamar os resultados nos Camarões.
"Novo impulso"
O filósofo e professor universitário camaronês Achille Mbembe está expectante em relação aos resultados. Mbembe diz, em entrevista à DW África, que "o imperativo neste momento é dar um novo impulso ao país, cuja estabilidade é crucial para toda a sub-região e continente."
"Os Camarões precisam de um novo rumo"
O professor da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, na África do Sul, e vencedor do prémio Gerda Henkel 2018, destinado a investigadores, lembra que a oposição camaronesa passa por muitas dificuldades e, nestas eleições, concorreu "com muitas desvantagens, financeiras, logísticas e estruturais."
Mbembe lamenta que a oposição se tenha unido apenas nas vésperas das eleições contra a recandidatura do Presidente Paul Biya, pois, se o tivessem feito mais cedo, isso "teria criado uma dinâmica vitoriosa que nos teria salvado do caos que transparece neste momento."
"A candidatura do Sr. Biya, depois de 36 anos no poder, é demais. Os Camarões precisam de um novo rumo depois de 36 anos de inércia e abandono", acrescenta.
Os resultados oficiais das eleições presidenciais nos Camarões devem ser anunciados até 22 de outubro.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.