1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Os efeitos da queda do preço do petróleo em África

Hilke Fischer / Karina Gomes2 de março de 2016

Falta de alimentos, inflação e poucos investimentos externos são algumas das consequências. Baixa prejudica o poder de consumo dos angolanos. Em Moçambique, preço do gás natural também é afetado.

Foto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

Angola: racionamento de itens básicos

Em 2013, Angola exportou 68 milhões de dólares em petróleo, segundo as Nações Unidas. A queda de dois terços no preço do petróleo no ano passado foi sentida no dia a dia dos angolanos. Devido à queda nas receitas, o país teve de reduzir suas importações, afetando principalmente o setor de alimentos. "Há poucos produtos disponíveis no mercado e isso tem elevado o preço dos alimentos", explica o economista angolano Antonio Panzo.

Em muitas partes do país, supermercados e atacadistas estão a racionar seus produtos: é permitida a compra de apenas um saco de arroz, uma lata de óleo e um pacote de açúcar por cliente. A medida tem a intenção de parar a corrida por bens e prevenir o crescimento do mercado negro. Além disso, o governo anunciou uma redução de 25% no orçamento nacional. Projetos de infraestrutura, como construção de novas estradas, portos, aeroportos, hospitais e escolas, serão os principais afetados.

Moçambique: gás natural também em baixa

A economia moçambicana esteve em ascenção nos últimos anos com a aposta em novos campos de gás natural. Empresas dos Estados Unidos e Itália planejam construir usinas para a produção do gás no país.

No entanto, a queda não só no preço do petróleo, mas também do gás natural aumenta a preocupação de que o país não conseguirá obter os bilhões em dinheiro que eram esperados pela exploração do gás.

Chris Bredenhann, especialista em petróleo e gás da consultoria Pricewaterhouse Coopers, diz que não há razão para pânico. Segundo o analista, os preços das commodities são flutuantes. "Empresas fazem investimentos de longo prazo onde veem potencial para um retorno futuro. Elas não esperam resultados em dois, cinco anos. Elas estão a olhar num horizonte de planejamento de 20 a 30 anos", disse em entrevista à DW.

Queda nas importações de alimentos gera racionamento em AngolaFoto: DW/N. S. D´Angola

Congo: aumento dos gastos estatais

Com a proximidade das eleições presidenciais, a República Democrática do Congo tomou um outro rumo. Apesar da queda do preço do petróleo e o facto de o crescimento do país estar baixo (em torno de 1%), o governo pretende triplicar o orçamento público. Em 2014, quando a economia cresceu 6,8%, de acordo com o FMI, a dívida do país dobrou.

O petróleo é a principal fonte de renda da economia congolesa. O país espera aumentar a taxa de financiamento de novos projetos envolvendo o petróleo, o que deve garantir mais dinheiro aos cofres públicos. Ao mesmo tempo, o governo pretende diversificar a economia investindo em infraestrutura, florestamento e mineração. Já especialistas duvidam que o país consiga manter a nova meta do orçamento sem contrair mais dívidas.

Nigéria: nação rica afundada em dívidas

Na maior economia do continente africano, o petróleo representa 80% do lucro das exportações, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A receita gerada pela exploração do petróleo financia boa parte do orçamento da Nigéria. "Acreditamos que o déficit atual deve duplicar devido à baixa do preço do petróleo", afirma Francesca Beausang, analista do instituto de pesquisas BMI, sediado em Londres.

Segundo o Finantial Times, o déficit na economia nigeriana deve chegar a 15 bilhões de dólares. As despesas públicas estão a crescer rapidamente porque o país tem tentado impulsionar a economia lenta com gastos adicionais. O problema é que, com o aumento da dívida pública, os investidores exigem taxas de juros mais altas para conceder novos empréstimos.

Sudão e Sudão do Sul: taxa de trânsito aumenta tensões

Além da queda no preço do petróleo, as economias dos dois países são afetadas pelo conflito político. Em 2011, o Sudão do Sul, que detém a maioria dos campos de petróleo, ganhou sua independência.

Sudão, que administra os gasodutos na região de fronteira, cobra altas taxas do Sudão do SulFoto: Reuters

Desde então, o país tem sido obrigado a pagar taxas de trânsito ao Sudão, que administra os gasodutos. A taxa por barril é de 22 euros, sem contar os custos de bombeamento. Com o preço por barril de petróleo abaixo dos 30 euros, o Sudão do Sul está a sofrer grandes perdas. Se o governo do Sudão não concordar em reduzir as taxas, o Sudão do Sul será forçado a parar a produção, informou o ministro do Petróleo do país em janeiro.

Zimbabué e Malawi: lucros com o petróleo barato

Para alguns países em África, a queda no preço do petróleo não é uma ameaça. Em Malawi e Zimbabué, que não possuem costa litorânea e, portanto, não têm reservas de petróleo, a gasolina é muito cara devido ao custo do transporte. Por esse motivo, os dois países têm um dos valores mais altos de combutíveis no continente. Nos últimos dois anos, a queda do preço do petróleo reduziu em um quarto o valor dos combustíveis no Malawi.

Poucos dias atrás, Glória Magombo, diretora da Autoridade Regulatória de Energia do Zimbabué (Zera), anunciou que o preço dos combustíveis deveria cair ainda mais nas próximas semanas. No final de fevereiro, a população do Zimbabué chegou a pagar 1,24 dólares por um litro de gasolina e 1 dólar por um litro de diesel.

"O Zimbabué usa bastante diesel para a geração de energia", detalha Bredenhann. "Se o preço é baixo, as pessoas têm, consequentemente, mais dinheiro para gastar, porque o custo da eletricidade e dos transportes cai. Isso incentiva o investimento e estimula o crescimento."

Saltar a secção Mais sobre este tema