As promessas de realojamento por cumprir do Governo angolano
12 de setembro de 2016Há três anos, cerca de 500 famílias, que viram as suas casas serem demolidas na Areia Branca e que passaram duas semanas desabrigadas, construíram habitações de chapa e de papelão, junto a um depósito de lixo na Kinanga.
Maria Conceição, moradora da Kinanga, conta o que a inquieta. "Eu vivo aqui há 3 anos e dois meses. O que está a nos fazer temer agora mesmo é a chuva que está a chegar, as doenças, muita diarreia, muitos vómitos, o lixo aqui nunca acaba, podemos limpar mas tem sempre lixo. E estamos a adoecer por causa disso. O WC aqui é ao ar livre, faz dentro do seu quarto ou num cantinho depois vai atirar aí no lixo. O lixo é aqui mesmo".
Conviver com doenças
Além da miséria e a falta de saneamento básico que habitam neste bairro de Luanda, que fica a escassos metros da Assembleia Nacional, da sede do Governo Central e da residencial oficial do Presidente Eduardo dos Santos, muitas crianças e adolescentes nem sempre conseguem uma vaga nas escolas públicas, o que lhes hipoteca o futuro.
Mariquinha João é mãe de 5 filhos e neste momento esta grávida. Ela diz à DW África que viver na Kinanga é conviver com todo tipo de doenças."É só doença. As mortes são mesmo demais. Estamos a pedir socorro para sermos tirados daqui. Nós estamos a temer com esta demora por saber que os outros já se foram e, até ao momento, ninguém vem nos dizer nada".
No princípio deste ano, o Governador de Luanda, general Higino Carneiro, visitou a Kinanga e deixou promessas de transferir as mais de 500 famílias para o bairro do Zango. Segundo a moradora Isabel Cândida, no mês de maio do ano em curso, apenas dezessete famílias foram transferidas. De lá para cá, nunca mais receberam quaisquer informações do Governo Provincial de Luanda, algo que preocupa os moradores."Ele -o governador- prometeu mesmo casa, já tiraram algumas famílias e outras ficaram. O Governador disse que vai começar a tirar -transferir- 50 famílias mas até agora só sairam 17 famílias... Estamos a espera mas está tudo parado".
Denúncias de abusos dos militares
Enquanto os populares da Kinanga aguardam pelo cumprimento das promessas das autoridades para que sejam transferidos para o Zango, nos arreadores deste último bairro - mais propriamente nas comunidades de Walale, Cajueiro, Santa Paciência e Cidade Pacífica - centenas de famílias têm vindo assistir à demolição das suas residências por militares afetos a Região Militar de Luanda, liderada pelo tenente-general Simão Carlitos, conhecido por Wala, sob alegação de que os populares teriam construindo numa área afeta à Zona Económica Especial.
Há ainda relatos de que algumas senhoras estarão a ser coagidas a terem relações sexuais com os militares em troca da não demolição das residências. Quem o diz é Rafael de Morais, coordenador da SOS Habitat.
"É muito preocupante porque há situações de violações sexuais e algumas senhoras estão a envolver-se sexualmente com os militares e também os militares estão a extorquir os pacatos cidadãos no sentido de proteger as suas habitações. Só que depois, passando alguns dias, essas casas são demolidas".