Os media da República Centro-Africana queixam-se de insegurança
3 de maio de 2013 Em qualquer uma das frequências de rádio escuta-se sempre o mesmo anúncio: “os meios de comunicação social, na República Centro-Africana, foram pilhados. A segurança dos jornalistas está em risco, todos os dias, e a liberdade de expressão e de pensamento não está garantida pelo governo. Os jornalistas apelam à imprensa internacional para dar atenção a esta situação dramática num país esquecido”.
É este o anúncio que se pode escutar na rádio Ndeke Luka, sintonizada num dos táxis de Bangui, a capital da República Centro-Africana. A rádio repercute o apelo da União dos Jornalistas e anuncia um dia de protesto em todo o país.
Depois do anúncio, a rádio passa música. Não há informação, pois os jornalistas não foram trabalhar, em sinal de protesto. Os poucos jornais do país não publicaram nada. E as televisões, que têm um papel pouco importante devido às constantes falhas de energia, passam apenas documentários.
Apesar do boicote, os jornalistas da rádio Ndeke Luka encontram-se para uma reunião editorial. Jean Claude Ali-Syhlas, o chefe de redação, lamenta o que se tem passado, ultimamente, na sua rádio: “já tivemos problemas no anterior regime. Somos uma emissora independente. Somos uma rádio de proximidade, em que os ouvintes podem fazer perguntas que depois encaminhamos para as autoridades. Por isso, fomos sempre encarados de forma hostil pelo anterior governo. Quando se deu o golpe de Estado, perguntamos aos rebeldes porque o tinham feito. Pelo que, até hoje, o anterior regime culpa-nos de termos ajudado os rebeldes, por lhes termos dado a palavra”.
Assalto à rádio
Mesmo antes de os rebeldes terem tomado a capital, o anterior regime incitou gangs de jovens a atacar e a saquear a emissora.
E alguns dias depois do golpe de Estado de 24 de março, que derrubou o Presidente François Bozizé, a coligação rebelde Séléka invadiu a estação de rádio Ndeke Luka.
O chefe de redação Jean Claude Ali-Syhlas descreve o assalto: os rebeldes “levaram, por exemplo, o ecrã, mas não o computador. Eles pensaram que havia televisões aqui. E levaram o comando do ar condicionado, pensando que era um telefone. São pessoas sem formação. A linguagem deles é a violência”.
Atualmente, na entrada do pequeno edifício da emissora estão dois rebeldes armados, não se sabe se estão a proteger ou a controlar as instalações.
Jean Claude Ali-Syhlas lamenta a falta de segurança: “nós não temos qualquer proteção, apesar de os chefes rebeldes nos terem prometido, mas com uma condição. Disseram: tenham cuidado com o que dizem, senão não vos vamos proteger. Mesmo como cidadãos sentimo-nos ameaçados. O apartamento de um colega foi saqueado. Estamos agora mais entregues aos rebeldes do que durante o ex-Presidente Bozizé”.
A rádio Ndele Luka recebe financiamento externo, da França, Bélgica e União Europeia, de forma a conseguir manter uma linha editorial independente, num país marcado pela pobreza e corrupção.
Regime muda, o país e os media continuam no caos
Durante o mandato do anterior Presidente, a liberdade dos media estava ameaçada: jornalistas foram perseguidos, presos ou desapareceram sem deixar rasto. Pelo que, após a queda de François Bozizé, pensou-se que a situação poderia melhorar com o novo regime. No entanto, os profissionais de comunicação continuam a queixar-se de falta de liberdade e de segurança.
Apesar disso, os media desempenham um papel central no país: “o papel dos meios de comunicação é dar confiança ao povo e mostrar ao regime que não pode governar sem o povo. Os rebeldes vieram para governar. Mas a população está a sofrer”, afirma a diretora da Associação dos Jornalistas para os Direitos Humanos, uma das mais importantes organizações não-governamentais do país.
Após o golpe de Estado de 24 de março, a República Centro-Africana está num caos, com pilhagens frequentes a ameaçarem a segurança tanto dos media como de toda a população.
Face à pressão dos países vizinhos, e depois de várias negociações, os rebeldes da coligação Séléka formaram um governo de transição com elementos do anterior executivo, da oposição e com representantes da sociedade civil. E o líder rebelde Michel Djotodia foi eleito, em abril, por aclamação Presidente de transição.