Na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), os PALOP esforçam-se em promover o seu turismo. Enquanto em Angola os preços são um desincentivo, na Guiné-Bissau são as intermináveis crises políticas e sociais.
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A trigésima edição da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) tem este ano o Marrocos como o país convidado, com exposição no mesmo pavilhão onde se encontram os cinco países africanos de língua portuguesa.
Ciente das suas variadas potencialidades, Angola assume que quer fazer do setor do turismo uma das fontes de receita para a diversificação da sua economia, afetada com a baixa do preço do petróleo no mercado internacional.
Planos existem, mas as limitações em termos orçamentais ainda impedem o desenvolvimento desejado – afirma o secretário de Estado da Hotelaria e Turismo de Angola, José Guerreiro Alves Primo.
"Infelizmente as verbas não são suficientes para nós desenvolvermos tão bem quanto queríamos os nossos planos", lamenta José Guerreiro Alves Primo.
O Governo angolano tem como prioridade a identificação do património existente a nível municipal e provincial, incluindo a definição de roteiros turísticos. Entretanto, o Executivo decidiu impulsionar medidas para atrair turistas estrangeiros, com a aprovação de um decreto de facilitação e isenção de vistos que abrange 61 países.
Acomodação cara é um desincentivo em Angola
José Guerreiro admite existirem outras dificuldades, no que toca ao alojamento e mobilidade, além de "algumas questões inerentes à segurança".
Reconhece, por outro lado, que "o custo [de acomodação] ainda é um fator decisivo para um turista; normalmente vai procurar outras alternativas de alojamento a bom preço que não seja num hotel de cinco estrelas. Esta é uma preocupação que nós temos."
Mas Guerreiro fala em soluções: "Estamos a discutir com os operadores, também com os restantes setores da economia para ver que incentivos podem ser dados aos operadores para eles se multiplicarem, para aumentar a concorrência e diminuir os custos operacionais."
Cabo Verde, Moçambique e STP
Enquanto Cabo Verde reafirma a sua aposta no turismo de sol e praia, as entidades moçambicanas procuram atrair turistas com enfoque na Ilha de Moçambique, que assinala os 200 anos da sua elevação a cidade.São Tomé e Príncipe veio à BTL exibir o selo da sua exuberância natural, tendo apresentado esta quinta-feira (01.03) o seu Plano Estratégico e de Marketing, virado para o turismo sustentável e de qualidade.
PALOP procura atrair mais turistas na BTL
Guiné-Bissau e a promoção
Entre os países africanos de língua portuguesa, a Guiné-Bissau também quer desenvolver o turismo da natureza, usando as ilhas dos Bijagós como referência nacional.
Catarina Taborda é diretora de Promoção e Eventos do Ministério do Turismo e do Artesanato e garante:
"Nós continuamos a promover o arquipélago dos Bijagós. Temos que apostar em algo, temos que começar por algum lado. Estamos a investir nas nossas praias, estamos a mostrar aquilo que a Guiné-Bissau tem de bom para oferecer."
E a diretora revela projetos já em curso: "Estamos também em parceria com alguns resorts que lá temos. Já temos pacotes turísticos do "Sonhando”, que foi lançado agora para quem quiser visitar o nosso país.
Guiné-Bissau luta contra preconceitos
Apesar da prolongada crise política, considerada eventualmente como um dos fatores de retração, esta responsável guineense acredita que o país tem potencial atrativo, que pode contribuir para o desenvolvimento nacional.
E Taborda compara: "Nós temos o exemplo: Portugal vive do turismo e porque não a Guiné-Bissau? O que eu digo sempre é que todos os países têm problemas políticos, sociais. E então eu acho que aquilo que a Guiné-Bissau tem de bom cobre a outra parte."
"As pessoas têm uma ideia pré-concebida da Guiné-Bissau, de forma negativa. Então, peço para lá irem ver, que vejam e conheçam a Guiné-Bissau de perto, e [concluirão] que realmente é muito diferente daquilo que as pessoas falam. O ecoturismo é um ponto forte, sim. Nós temos os hotéis, fazemos visitas guiadas, pode-se ver os hipopótamos das áreas protegidas pela UNESCO e tudo mais, que é fabuloso, é fantástico", assegura Catarina Taborda.
Considerada a maior feira deste setor em Portugal, a BTL abriu as portas esta quarta-feira (28.02.) e encerra no próximo domingo(04.03.), com a previsão de receber mais de 75 mil visitantes, de acordo com a organização.
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.