Os primeiros príncipes negros no Carnaval da Alemanha
Carsten Grün | ni
23 de fevereiro de 2017
O Carnaval, que têm forte tradição na Alemanha, sempre foi liderado por príncipes brancos. Samuel Awasum, que trabalha em prol da integração, vê este momento como uma chance para alcançar outras posições políticas.
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Para o camaronês de 34 anos de idade, que trabalha como informático numa empresa de transportes, a notícia de que seria o príncipe do Carnaval de Ratingen, uma pequena cidade perto de Düsseldorf no oeste da Alemanha, foi algo com o qual não contava: "Nunca me vou esquecer desse momento. Para mim foi algo completamente inesperado. São sonhos que temos e que sabemos que nunca serão realizados. Para mim este é um reconhecimento e um sinal."
Também foi algo inesperado para a esposa Jacinta Awasum, que quando soube da novidade ficou contente, mas também em choque: "Foi uma grande surpresa para mim quando o meu marido chegou a casa e disse-me que seríamos os príncipes de Ratingen. Eu nem quis acreditar. Temos dois filhos pequenos, e eu pensei: e agora, o que fazemos?"
Racismo e exotismo
Jacinta lembra ainda que é diferente do marido: "Também será um desafio para mim. O meu marido está habituado a falar com as pessoas em público. Ele é o presidente do conselho de integração da cidade. Para mim tudo isso é novo."
O seu marido sabe como se movimentar em público. Ele é o presidente do conselho de integração da cidade e saberá ser um príncipe político. Há anos que Awasum trabalha em prol da convivência de culturas em Ratingen. E ele vê a eleição como príncipe como parte da integração. Awasum acredita que, no futuro, deixará de ser exótico ter um casal de príncipes negros no carnaval.
E ele sabe o que é ser atacado por causa da cor da pele. Não se pode dizer que na Alemanha não haja racismo. Ele próprio já viveu isso e lamenta: "Acho triste que até hoje ainda aconteçam casos de racismo nas mais diversas formas. Na verdade, são só pequenas coisas que diferenciam as pessoas umas das outras, como por exemplo a cor da pele ou o sexo. É uma pena que nos dias de hoje as pessoas prestem atenção a essas coisas."
As ambições políticas do príncipe
O carnaval da região da Renânia não é apenas folia e festa, mas é também interação social. O casal de príncipes tem uma agenda preenchida: para além das festas e de desfilarem na segunda-feira de Carnaval, eles visitam lares de idosos, escolas, creches, hospitais, empresas e tem atividades do município por cumprir. A época do Carnaval é longa e desgastante para os dois regentes de Ratinger. O Carnaval dura até princípio de março.
Awasum entusiasmou-se pelo Carnaval desde que chegou a Alemanha. Ele e Jacinta vieram estudar na Alemanha. Samuel conta que mal podia esperar para festejar o Carnaval. O casal tem agora a nacionalidade alemã e os seus filhos nasceram aqui.
Samuel Awasu quer mais do que um papel no Carnaval. Ele é membro da Associação Alemã de Representantes de Descendentes de Africanos. E imagina-se a candidatar-se para o cargo de presidente do município. Os seus contactos na qualidade de príncipe podem ajudá-lo a conseguir isso.
"Afrika Alaaf" no Carnaval de Colônia
Bobos da corte, confetes, doces e foliões entusiasmados: é Carnaval na Renânia. Duas estagiárias da DW África foram às ruas de Colônia para saber como é esta festa na Alemanha e parece que se divertiram.
Foto: DW
Pela primeira vez no Carnaval de Colônia
Os alemães ficaram loucos? Foi o que a tanzaniana Diana Kago e a queniana Flora Nzema perguntaram-se mais de uma vez quando participaram do primeiro Carnaval de rua de suas vidas e ouviram a saudação tradicional do Carnaval da Renânia "Alaaf". Como estagiárias da Redação Suaíli da DW África, ambas também fizeram o foliões de Colônia serem conhecidos na África Oriental postando fotos no Facebook.
Foto: DW
A Serengeti na fria cidade de Colônia
Estes "animais" valeram uma bela foto para as duas jovens. Até aquele momento, Flora e Diana conheciam estas fantasias extravagantes apenas de filmes ou programas de TV norte-americanos. É preciso se acostumar com adultos a usarem fantasias de tigres. "Mas usar um casaco de peles artificial nesta temperatura baixa é bem conveniente", brinca Flora.
Foto: DW
Não é um clichê alemão
"Até agora, nós pensávamos que os alemães somente trabalhavam duro, eram meticulosos e muito sérios", disse Flora Nzema. Depois de participar no carnaval, ela sabe que também pode ser diferente. Os foliões festejam nas ruas – e obviamente ninguém pensa em trabalho aqui. "Eu me impressionei acima de tudo que todos festejam, cantam e dançam juntos de uma forma amistosa", diz Diana Kago.
Foto: DW
Festejando de forma fashion
O que é um Flickenclown? E uma Funke-Mariechen? Flora e Diana não estudaram exatamente as figuras típicas e as tradições do Carnaval alemão. Mas elas gostaram das fantasias porque trajes com retalhos e diferentes pedaços de tecidos montam um estilo visto com bastante interesse em alguns países de África.
Foto: DW
O "mano" e a "mana" do Soul
Flora encontrou este "cabeludo" entre os foliões: seu "soulbrother" com a camisa do FC de Colônia (1. FC Köln), equipa de futebol que logo passou a estar no coração das jovens. "Todos se alegraram bastante ao ver que nós estamos aqui durante o Carnaval. Nós fomos convidados por diversas pessoas, mesmo quando não nos conheciam. Todos queriam dividir suas bebidas ou seus doces conosco."
Foto: DW
As aparências enganam
Durante o que os alemães chamam de "quinta estação do ano", nos redutos carnavalescos da Renânia, nem tudo é o que parece. É o que as estagiárias da DW entenderam rapidamente. Bispos com garrafas de cerveja na mão, freiras bastante masculinas e uma porção de pessoas de uniforme. "Em um momento, nós não tínhamos mais certeza se os polícias que víamos eram de verdade", disse Diana.
Foto: DW
De poncho e sombreiro
Diana gostou especialmente do traje deste jovem "mexicano". "Tem um colorido tão bonito que me lembrou a Kanga tanzaniana." Estes tecidos coloridos tradicionais da África Oriental, que se chamam capulanas em Moçambique, são usados como saia, lenço, vestido ou para transporte de crianças. Talvez seja uma boa idéia de fantasia da próxima vez?
Foto: DW
O Carnaval alemão em África?
"Apesar de nós termos achado todo o desfile um pouco estranho, no final nós nos divertimos muito", disseram Diana e Flora. No entanto, elas não conseguem imaginar uma festa de Carnaval no Quênia ou na Tanzânia. "Apesar de nós, africanos, gostarmos muito de dançar e cantar juntos, um carnaval como o festejado aqui na Alemanha seria algo totalmente fora do comum por lá."