Ossufo Momade: "Seria um escândalo" ir à posse de Nyusi
15 de janeiro de 2020Ossufo Momade estava na lista de convidados para a cerimónia de tomada de posse do Presidente Filipe Nyusi, que decorreu esta quarta-feira (15.01), na capital moçambicana. Mas o líder do maior partido da oposição decidiu recusar o convite, por uma questão de ordem moral. "Seria um escândalo se me vissem a participar naquelas cerimónias", disse em entrevista exclusiva à DW África.
Sobre a eventualidade de um convite para integrar o novo Governo do Presidente Filipe Nyusi, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) garantiu que não é esse o seu objetivo, mas mostra interesse em ver os seus quadros ocuparem cargos de governador que alega ter vencido.
Quanto à manifestação à escala nacional que o maior partido da oposição moçambicana prometeu para contestar as eleições de outubro passado, Ossufo Momade assegura que não desistiu e nega que a sua realização seja extemporânea.
DW África: Foi convidado a participar na cerimónia de empossamento do Presidente Filipe Nyusi?
Ossufo Momade (OM): Sim, sim. Eu recebi o convite.
DW África: E participou na cerimónia?
OM: Não, não pude estar lá. Porque não tenho moral e o povo ia-me confundir...
DW África: Então foi uma espécie de boicote da sua parte?
OM: Não, é para o povo saber que eu não estou aliado a ele [Filipe Nyusi]. Já recebi muitas mensagens a dizer que Ossufo foi comprado... E se me vissem a participar naquelas cerimónias de empossamento seria um escândalo, na medida em que não posso separar-me muito do meu povo.
DW África: Mas vai continuar a dialogar com um Governo que não reconhece?
OM: Vou continuar, na medida em que tenho de respeitar os princípios do meu presidente, o falecido presidente Dhlakama, e temos de pôr fim à ansiedade da população moçambicana para que tenhamos paz em Moçambique.
DW África: Aceitaria ser nomeado para um cargo ministerial ou outro alto cargo no Governo de Filipe Nyusi?
OM: Não, essa não é a minha ambição. A minha ambição é trabalhar para o povo moçambicano e continuar com aquele propósito de cumprir com o manifesto do partido RENAMO.
DW África: A RENAMO aceitaria que algum alto quadro seu fosse nomeado para trabalhar no Governo de Filipe Nyusi?
OM: Nós gostaríamos que as nossas províncias nos fossem entregues, para que pudessem ser dirigidas pelos nossos dirigentes, aqueles que a população moçambicana gostaria que pudessem dirigir. Esta é que é a nossa vontade. Se o Presidente da FRELIMO os indicar para que dirijam aquelas províncias, aquele que é o sentimento da população moçambicana, nós estaríamos muito, muito, muito livres, para que pudéssemos ver esse sentimento.
DW África: E para cargos ministeriais?
OM: Para cargos ministeriais, não sei se ele tem esse projeto. Agora, isto é o sentimento que o próprio Governo pode dar, na medida em que vai escolher qualquer cidadão que é da sua preferência.
DW África: E em relação ao estatuto da oposição, algo que o anterior líder da RENAMO nunca aceitou. O senhor Ossufo Momade estaria interessado em aceitá-lo?
OM: Em primeiro lugar, eu não sou o segundo mais votado. Sou o primeiro mais votado. E, aliás, não é nenhuma oferta, é a vontade da população moçambicana ver Ossufo Momade a governar o país. Neste momento, aquele que está em segundo lugar, não é oferta do partido FRELIMO, é aquele que a lei está a prever. Agora, dizer que eu vou aceitar ou não vou aceitar, isso vai depender do meu partido.
DW África: A RENAMO ameaçou organizar manifestações à escala nacional para contestar os resultados eleitorais. Para quando é que isso está previsto?
OM: Nós ainda não temos uma data. E esse propósito já está ultrapassado, na medida em que nós estamos a trabalhar com a sociedade e, quando chegar a altura, nós vamos poder informar para que todo o mundo saiba qual é o interesse dos moçambicanos.
DW África: Não será extemporâneo, se considerarmos que o Parlamento foi empossado, o Presidente da República também foi empossado e que em breve conheceremos o novo Executivo?
OM: Não, não é verdade o que está a dizer, na medida em que isto é uma democracia, o povo tem de se organizar, a população tem de ser informada, para dizer que a população moçambicana está com a RENAMO e nós contamos com esse apoio.