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Périplo africano de John Kerry inclui Angola

Philip Sandner / Madalena Sampaio 30 de abril de 2014

O secretário de Estado norte-americano está de visita a África. John Kerry está na Etiópia, irá depois para RDC e Angola. Na agenda de Kerry estão direitos humanos, promoção da paz, mas também a cooperação económica.

John Kerry, secretário de Estado norte-americanoFoto: Reuters

A Etiópia é o primeiro destino na deslocação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, a África. A visita acontece poucos dias depois da detenção de seis bloggers e três jornalistas etíopes.

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch exigiu já a libertação imediata dos detidos, sobre os quais ainda não pesam acusações.

Os Estados Unidos da América também pediram ao Governo da Etiópia para rever os casos e libertar imediatamente os detidos. E reiteraram a sua preocupação de longa data sobre a restrição da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão no país.

Mais uma vez, John Kerry não será capaz de evitar o tema das violações dos direitos humanos no Estado autoritário.

Mas durante esta visita a preocupação é outra: a Etiópia é um parceiro importante para os Estados Unidos na luta contra as múltiplas crises em países vizinhos, como a Somália e o Sudão do Sul.

Etiópia, um parceiro estratégico contra o terrorismo

Confrontos entre rebeldes e o exército do Sudão do Sul já fizeram milhares de deslocadosFoto: Reuters

Segundo Alex Vines do instituto britânico de análise política Chatham House “a Etiópia é um país chave e um parceiro estratégico para os Estados Unidos, particularmente no que diz respeito aos métodos de terrorismo (ou de contra-terrorismo) no Corno de África."

O colaborador da Chatham House salienta ainda que "historicamente é uma relação forte. Os Estados Unidos têm investido fortemente em termos de desenvolvimento internacional, mas também em capacitação e no fortalecimento institucional na Etiópia.”

Na agenda da visita de Kerry está também a guerra civil no Sudão do Sul. A capital da Etiópia, Addis Abeba, foi o local onde decorreram as negociações de paz, até agora sem sucesso, sob os auspícios de uma aliança regional no Corno de África.

Observadores acreditam que John Kerry pretenda agora lançar uma nova ronda de negociações.

Para o observador queniano Barack Muluku, a visita do secretário de Estado norte-americano a África mostra a crescente competição entre o Ocidente e as potências económicas emergentes, como a China e o Brasil, que também apostam na cooperação com o continente: “A influência dos países ocidentais e da América em África está a diminuir."

Barack Muluku acredita que "no futuro, viagens a África de diplomatas de topo vão aumentar ainda mais. Esta é uma luta pela influência económica no continente”, remata.

Petróleo também será assunto

O conflito na RDC é preocupação dos EUA e será abordado na visita de KerryFoto: Reuters

O observador queniano lembra que os Estados Unidos e outros países ocidentais intervêm quando têm os seus próprios interesses nos países africanos e cita o exemplo do Sudão do Sul e de Angola, dois países que têm grandes reservas de petróleo.

Depois da República Democrática do Congo, Angola será a última etapa do périplo africano de John Kerry. Além disso, no país operam grandes empresas petrolíferas norte-americanas, como a californiana Chevron.

Mas há também outros interesses, refere o diretor para África da Chatham House, Alex Vines: “Parte da viagem de Kerry é claramente sobre comércio. Mas as visitas a Angola e à República Democrática do Congo são sobre a resolução de conflitos lá."

Alex Vines também acredita que o atuação de Angola na região dos Grandes Lagos é um ponto que merce avaliação positiva de Washington: "Sei que John Kerry visita Angola, em particular, para felicitar o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, pelo seu papel de presidente da conferência inter-governamental para a região dos Grandes Lagos e pelo papel positivo que os angolanos têm vindo a desempenhar na tentativa de pressionar por soluções para as várias crises no leste do Congo .”

Na capital angolana, Luanda, John Kerry debaterá ainda as relações bilaterais e comerciais com o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti.

A visita de Kerry ao país ocorre cerca de três semanas depois de a secretária de Estado Adjunta para os Assuntos Africanos, Linda Thomas-Greenfield, e o enviado especial para os Grandes Lagos e República Democrática do Congo, Russell Feingold, terem mantido contactos oficiais em Luanda.

Mas Alex Vines lembra que “historicamente, as relações entre Angola e os Estados Unidos têm sido pobres" e justifica: "Em parte por causa de acusações e questões em termos de propriedade e de corrupção. Por isso, acho que John Kerry vai seguir o que Hilary Clinton fez durante a sua visita ao país. Ela tentou incentivar as relações diplomáticas Angola e Estados Unidos, que no ano passado celebraram 20 anos.”


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