"Péssimas estradas": Transportadora de Nampula ameaça fechar
11 de maio de 2023A empresa "Maning Nice" diz que o Governo não a indemniza pelos prejuízos sofridos, sobretudo devido ao mau estado em que se encontram as vias de comunicação rodoviária em praticamente todo o país. Por isso, a empresa ameaça encerrar as portas definitivamente e declarar falência, caso a situação prevaleça.
No início desta semana, a transportadora "Maning Nice" decidiu estacionar os seus autocarros e camiões e suspender as atividades. Luís Vasconcelos, sócio da transportadora, justifica: "A Maning Nice está num contexto em que só vive do transporte. O custo de manutenção, após uma viagem, nos últimos tempos, era sempre a duplicar, quer dizer que a empresa tinha de ir buscar outros recursos para fazer uma manutenção para os carros se deslocarem, por exemplo, de Nampula a Chimoio. E isso começou a afetar grandemente a própria companhia, e a empresa começou a ter problemas financeiros e acabou entrando na bancarrota", explicou.
"Estado das estradas e portagens não ajudam"
O agravamento do estado das estradas nos últimos anos e os elevados custos dos acessórios e peças sobressalentes para as viaturas terão influenciado a decisão da gerência de suspender as atividades de uma das maiores e mais antigas companhias de transporte da província de Nampula.
E para piorar, segundo Luís Vasconcelos, as portagens instaladas ao longo das estradas degradadas custam muito aos cofres das transportadoras. "Preocupa-nos ainda quando diariamente estão a ser anunciadas novas portagens. Isto vai encarecer ainda mais o custo de vida do pacato cidadão", afirma Luís Vasconcelos em entrevista à DW África.
Vasconcelos antevê o abandono do negócio de muitas outras empresas do ramo dos transportes: "As empresas que vivem apenas de transporte, a nível do país, têm os dias contados, porque a situação das estradas não está a ajudar. E a nossa política, a nível de transporte e comunicações, também não está a ajudar, e esses fatores condicionam as empresas do ramo", lamenta.
Segurança deteriorada devido a conflitos armados e banditismo
A empresa de Nampula diz que nos últimos cinco anos já perdeu quatro autocarros, incendiados no centro e norte do país, devido aos conflitos entre os guerrilheiros da RENAMO e as Forças de Defesa e Segurança, além dos ataques terroristas em Cabo Delgado. Mas nunca teve apoio do Governo.
Luís Vasconcelos sugere: "Deveria haver, a nível do país, um fundo de recuperação dos prejuízos para as empresas de transporte, sobretudo para recuperar aquelas que pagam impostos. Isso devia estar a acontecer, mas não está."
Com a suspensão da sua atividade, a transportadora deixa mais de 800 trabalhadores sem emprego a nível nacional. E diz que, passado um ano do período da suspensão sem soluções do lado do governo, poderá definitivamente encerrar as portas e declarar falência.
Há sete transportadoras interprovinciais que operam na província de Nampula. Tirando a "Maning Nice", apenas três fazem o trajeto direto de Nampula à capital moçambicana, Maputo.
Os utentes é que sofrem com a situação
Os passageiros lamentam a situação, por considerarem que o problema terá impactos diretos na sua vida e pedem ao governo para procurar soluções. Paulo Cândido é um deles: "A situação é muito complicada, eu - como utente da via - confiava no mesmo transporte. Nas minhas viagens com aquela transportadora eram normais. Eu sou negociante, venho a Nampula comprar mercadoria e vendo na Beira", lamenta.
O governo da província de Nampula já tomou conhecimento da paralisação da transportadora "Maning Nice", mas não apresenta soluções. Munira Abudoo é o porta-voz do Conselho dos Serviços de Representação do Estado na província: "O setor [de Transportes e Comunicações] está a trabalhar neste assunto para averiguar e ver quais são as possíveis consequências ao nível da nossa província e da nossa população", disse.
A transportadora "Maning Nice" iniciou as suas operações de transportes de passageiros e carga entre Nampula e Pemba, há mais de 30 anos e expandiu-se depois em todo o país.