Países da África Ocidental: prós e contras do franco CFA
Martina Schwikowski | pr
22 de setembro de 2017
Economista diz que franco CFA é benefício apenas para a França, enquanto governos defendem a permanência da moeda. Guiné-Bissau é o único país lusófono a ter o franco CFA como moeda nacional.
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O franco CFA é usado no oeste e no centro africano por países que foram colonizados pela França. A zona monetária foi criada em 1945 para proteger as então colónias de uma forte desvalorização do franco francês, em baixa após o fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, segue vinculado ao euro e a discussão sobre abandoná-lo ou não volta ser tema na região.
O economista senegalês, Ndongo Samba Sylla, afirma que o povo africano não lucra com a moeda. Para ele, a parceira significa altas taxas de juros, dívidas, barreiras comerciais e baixo crescimento económico aos africanos – e aconselha a criação de uma moeda comum, que poderia criar mais incentivos para o crescimento económico e gerar mais empregos.
"A moeda foi criada na época colonial, e a sobrevivência deste sistema acontece através de alguns grupos que se beneficiam dele: empresas francesas, elites africanas e empresas de importação já que o franco CFA é uma moeda forte por causa da ligação com o euro, mas os africanos não se beneficiam disso", diz Sylla.
Benefícios para a França
Com a permanência do franco CFA, a França consegue um mercado mais fácil aos seus produtos, acesso barato a matérias-primas – e mantém influência política e militar nas ex-colônias. Os franceses estão representados no conselho dos dois bancos centrais da África Ocidental e Central e têm direito de veto.
"Este sistema só pode permanecer se as economias africanas continuarem a crescer vagarosamente. A França pode dizer: garantimos sua moeda. Mas se as economias crescerem mais, a situação muda", explica o economista.
Segundo Ndongo Samba Sylla, a manutenção do CFA nos países da África Ocidental "a França garante que não há crescimento de modo que não podemos emancipar-nos dela".
Países defendem CFA
A Guiné-Bissau é o único país africano lusófono que tem o CFA como moeda nacional. O ministro da Economia e Finanças, Aladje Mamadú Fadia, defende o franco CFA. "É uma falsa questão. A nossa economia funciona bem, a nossa moeda faz inveja porque é convertível", disse o ministro à imprensa internacional.
O primeiro-ministro do Gabão, Casimir Oye Mba, também acha melhor a permanência dos países na zona do franco CFA. Ele chefiou por mais de uma década o Banco dos países do centro africano e diz: "A ideia de que fazemos parte da zona do franco porque somos forçados pela França é ridícula".
Franco CFA-Africa n - MP3-Mono
Oye Mba explica que "quando Madagáscar deixou a zona em 1972, a França não interrompeu suas relações diplomáticas. As empresas francesas ainda estão lá. Todos os países da zona podem sair dela imediatamente, mas eles acreditam que ainda é do seu interesse permanecer".
No Mali, que chegou a criar uma própria moeda depois da independência, a experiência foi negativa e fez o país readotar o franco CFA. O ex-presidente da Comissão da União Económica e Monetária da África Ocidental, Soumaïla Cissé, afirma que a moeda mantém uma inflação baixa, enquanto o contrário acontece em países com uma moeda própria.
A França deixa a escolha para a ex-colónias. Como disse o presidente Francês, Emmanuel Macron, ao visitar o Mali em julho: "Quem não estiver contente na zona do franco CFA, deve deixá-la".
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.