Países lusófonos em queda no Índice de Liberdade Económica
Lusa | ar
16 de fevereiro de 2017
Todos os países de língua portuguesa pioraram no Índice de Liberdade Económica 2017, à exceção da Guiné-Bissau que subiu 26 posições, para o 119.º lugar do 'ranking' entre cerca de 180 economias analisadas.
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O Índice de Liberdade Económica distribui os países por cinco secções: "livres" (80 a 100 pontos), "quase livres" (70 a 79,9), "moderadamente livres" (60 a 69,9), "maioritariamente não livres" (50 a 59,9) e "reprimidos" (40 a 49,9).
O 'ranking' deste ano estabelece a seguinte hierarquia no universo lusófono: Cabo Verde (116.º), Guiné-Bissau (119.º), São Tomé e Príncipe (124.º), Brasil (140.º), Moçambique (158.º), Angola (165.º) e Timor-Leste (173.º). Portugal caiu 13 posições para o 77.º lugar.
A maior parte dos países lusófonos está classificada como "maioritariamente não livre" -- Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Brasil -- enquanto Angola e Timor-Leste surgem listados como "reprimidos".
Apesar da subida no 'ranking' da Guiné-Bissau, que passou da 145.ª (2016) para a 119.ª posição, o Índice de Liberdade Económica 2017 refere que as "limitadas tentativas de reforma estrutural geraram um progresso desequilibrado no desenvolvimento económico" do país, e que o dinamismo do setor privado continua constrangido.
Cabo Verde
Cabo Verde -- com 56,9 pontos ou menos 9,6 do que em 2016 --, foi o país da lusofonia que registou a maior queda no Índice de Liberdade Económica, ao passar da 57.ª posição para a 116.ª da classificação.
"Cabo Verde beneficiou da manutenção da moderada estabilidade monetária e de uma relativamente elevada abertura de mercado que facilitou as trocas comerciais e investimento" externo, aponta o relatório, que também observa os benefícios para a economia de "um quadro jurídico sólido e transparente".No entanto, "os pontos fortes institucionais de Cabo Verde, incluindo a independência judicial e transparência do Governo, não são acompanhados por um compromisso para uma boa gestão das finanças públicas".
"Com a dívida pública a atingir um nível igual ou superior a 100% do PIB, a redução do défice crónico precisa de ser a prioridade", acrescenta.
Moçambique
Em Moçambique, o relatório destaca que foram empreendidas "reformas para incentivar o desenvolvimento, embora o progresso tenha sido muito gradual", e que o "envolvimento do setor privado na economia é substancial, mas que a privatização das empresas estatais abrandou".
Angola
Em Angola, "a riqueza natural ajudou a atrair o investimento direto estrangeiro e a facilitar uma década de notável crescimento económico", refere o Índice de Liberdade Económica. "Mas a economia sofreu recentemente um grande choque estrutural, resultante da queda dos preços do petróleo, e as receitas do petróleo são incertas", adianta o documento, que observa também que "os monopólios e quase-monopólios continuam a dominar os principais setores".
Brasil
Já o Brasil caiu da 122.ª posição (2016) para a 140.ª. "A crise política, em conjunto com o declínio dos preços, contribuiu para uma forte contração da economia que afetou a confiança dos consumidores e investidores", indica o relatório da Heritage Foundation.
Sobre o Brasil acrescenta que "a condição fiscal tem sido gravemente comprometida" por uma combinação de fatores como "inflação elevada, paralisação política e aumento dos défices orçamentais que aumentaram o peso da dívida pública".
Timor-Leste
Com 46,3 pontos, Timor-Leste manteve o pior lugar entre os países lusófonos (173.º), descendo ainda seis posições em relação ao ano passado (167.º).Apesar dos "progressos na estabilidade desde a independência, em 2002", o relatório aponta que "as deficiências estruturais e institucionais continuam a restringir a liberdade económica" de Timor-Leste, e que "a instabilidade política continua a travar o desenvolvimento económico duradouro".Atrás de Timor-Leste só estão a Guiné Equatorial (174.ª), Zimbabué (175.ª), Eritreia (176.ª), República do Congo (177.ª), Cuba (178.ª), Venezuela (179.ª) e Coreia do Norte (180.ª).
O índice de Liberdade Económica de 2017 coloca nas primeiras posições Hong Kong, Singapura e Nova Zelândia, à semelhança do ano passado.
Para efeitos do estudo -- que contemplou 186 economias, mas excluiu seis países do 'ranking' por falta de dados -- são analisadas dez variáveis englobadas em quatro grupos: Estado de Direito, dimensão do Governo, eficiência ao nível da regulação e criação de novos negócios.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.