Paciência dos eleitores no Quénia quase esgotada
6 de março de 2013A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) independente levantou muitas expectativas ao prometer anunciar os resultados finais nas 48 horas que se seguiriam ao escrutínio. Os quenianos perguntam-se agora, porque é que a contagem demora tanto, uma vez que foram investidas somas consideráveis nos mais modernos sistemas electrónicos. Como este taxista de Nairobi, que não esconde a sua impaciência: "O facto de haver tanto atraso aborrece as pessoas. E este aborrecimento pode levar à violência. Nem sequer ainda sabemos os resultados aqui de Nairobi. Se demorar muito mais tempo, as pessoas vão rejeitar os resultados” .
O taxista queixa-se ainda de que chegam resultados de regiões que ficam a milhares de quilómetros no nordeste, mas nenhuns na capital, “o que pode causar problemas", diz
Falta de comunicação da CNE
Esta preocupação é partilhada pelo politólogo queniano, Mwalimu Mati. O activista anti-corrupção aparenta sinais de grande fadiga, resultado das noites que passou em branco desde as eleições de segunda-feira (04.03), explica. E aponta o dedo à Comissão Eleitoral: "Não me parece que ela tenha feito o suficiente para comunicar quais são os problemas e desafios que enfrenta. Em certa medida, deixaram-nos numa situação em que as pessoas começam agora a especular. E a especulação é negativa porque as pessoas começam a desconfiar de motivos ulteriores".
A CNE mantém que os problemas são de ordem técnica, impedindo a transferência rápida das contagens para a central em Nairobi. Acresce que os eleitores foram às urnas sobretudo na segunda-feira, o segundo dia do escrutínio. A comissão lamenta o atraso, mas promete um processo de contagem transparente.
Aviões e helicópteros a postos
Para o obter, os funcionários eleitorais em todo o país terão que levar pessoalmente à capital, Nairobi, os resultados das contagens locais. Para o que foram colocados à disposição aviões e helicópteros. E a imprensa pode observar o processo de controlo dos resultados das 290 circunscrições na central.
Até esta quarta-feira (06.03), à tarde, os resultados já publicados dão uma clara vantagem ao candidato Uhuru Kenyatta. Entretanto os adeptos do seu principal rival, o primeiro-ministro Raila Odinga, esperam que o seu favorito recupere o atraso em relação a Kenyatta. O que não é impossível, uma vez que falta revelar os resultados nos principais baluartes da aliança CORD, encabeçada por Odinga.
Votos nulos ou não?
No Quénia discute-se, entretanto, a questão dos votos nulos. Muitos eleitores enganaram-se na urna, anulando o voto, segundo a lei. Mas 400 mil votos nulos por engano já foram aceites como válidos. A CNE diz que vai contar estes votos, mas os observadores contam com objeções, sobretudo do candidato Odinga.
Uma segunda volta seria no seu interesse, dando-lhe uma nova hipótese de vitória. O politólogo Mati só espera que a discussão em torno dos resultados eleitorais não descambe na violência e coloca a esperança nas reformas já levadas a cabo na Justiça queniana: "Ao contrário do que se passou nas eleições de 2007, a Justiça é hoje uma instituição muito respeitada. Ela ganhou credibilidade graças às reformas. Por isso acreditamos que qualquer candidato que não esteja de acordo recorra antes à Justiça. E esta é uma diferença fundamental entre estas e as últimas eleições".
Autora: Maja Braun (Nairobi)
Edição: Cristina Krippahl/Renate Krieger