Governo angolano prevê um crescimento económico na ordem dos 2,1%, este ano de eleições gerais. Em declarações à DW, o economista Precioso Domingos diz que "o padrão de vida dos angolanos tende a deteriorar-se”.
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No relatório publicado em 2016, o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC) previa um crescimento económico de Angola de cerca de 2% ao ano até 2020.
O Governo de Luanda prevê para 2017, um crescimento económico na ordem dos 2,1% contra os 1,3% do ano passado.
Segundo o economista Precioso Domingos a perspetiva económica para 2017 é negativa por estar em contramão com o ritmo de crescimento da população. O Censo Geral da População e Habitação realizado em 2013, indica que a população está a crescer a um ritmo de 2,7%.
Assim sendo, diz Precioso, a vida da população será cada vez mais dificil a julgar pelos dados estatísticos.
"Apesar de ter havido uma evolução nesta projeção ou neste crescimento económico, ainda está muito aquém daquilo que é a tendência de crescimento da população. Segundo o INE a população está a crescer a um ritmo de 2,7%. Assim sendo a população que precisa de um rendimento para melhorar as condições de vida, cresce a um ritmo superior. O padrão de vida tende a deteriorar-se o que complica as contas do Governo em relação à redução da pobreza”.
Escassez de divisas complica situação
Uma pobreza que poderá aumentar com a falta de importação de produtos por causa de escassez de divisas mesmo com a subida do preço do barril do petróleo no mercado internacional.
Para o economista é necessário que o problema da moeda estrangeira seja resolvido.
"Se o barril do petróleo continuar a aumentar tal como se está a verificar, o país vai continuar a receber receitas petroliferas que são nomeadamente em dolares. Só que uma coisa é o dólar eletrónico outra coisa é o dólar em notas. E aqui o que está em causa são as notas porque a populção geralmente quando viaja utiliza mais notas”.
No capítulo social, a Econosmist Inteligence Unit (EIU) prevê para 2017, protestos e consequente repressão em resultado das dificuldades orçamentais e a proximidade das eleições.
Em declarações à DW África, o analista político Osvaldo Mboko minimiza esta análise e pesquisa do grupo britânico. Ainda assim, apela à tolerância.
"Convulsão social acho pouco provável ou quase impossível de acontecer numa fase como essa. Deve-se pregar muito a tolerância política que, às vezes, me parece que os próprios políticos não passam, não dão exemplo de tolerância política. Deve-se ter em mente a necessidade do respeito pelas cores partidárias. Cada um de nós deve escolher o que quer e bem entende. E devemos caminhar todos juntos para uma Angola melhor”.
Eleições em tempo de crise económica e financeira
As eleições gerais de 2017 serão as primeiras a serem realizadas em tempo de crise económica e financeira resultante da baixa do preço do petróleo no mercado internacional.
Angola 2017 (Novo) - MP3-Mono
O processo eleitoral está em curso com a realização do registo eleitoral, cuja segunda fase, arranca esta quinta-feira (05.01). O ato tem sido marcado por denúncias da oposição sobre alegadas irregularidades registadas na primeira fase que terminou, no passado dia 20 de dezembro.
Para Osvaldo Mboko, esta falta de confiança nas instituições do Estado que levam a cabo o processo poderá contribuir para um elevado índice de abstenção por parte dos eleitores.
"Existe uma fraca adesão para atualização do registo eleitoral. Alí começamos a ver que muitos eleitores vão ficar de fora”.
É preciso que os problemas registados nas eleições de 2012 sejam evitados este ano, aconselha o analista. "A Comissão Nacional Eleitoral que faça um melhor trabalho do que nos anos transatos. Vimos os constrangimentos que houve. Pessoas que estavam registadas numa determinada província mas foram votar noutra".
"Heróis de hoje": Os mais votados pelos leitores da DW África em 2015
Durante um mês, a DW África pediu aos seus leitores sugestões para "heróis de hoje". Chegaram numerosas respostas e muitas concentraram-se numa dúzia de pessoas. Saiba quem foram os "heróis de hoje" mais votados.
Foto: Maka Angola
12° lugar: William Tonet
O jornalista angolano foi a décima segunda pessoa mais votada pelos ouvintes da DW como "herói de hoje". Tonet é diretor e proprietário do semanário independente "Folha 8" e um dos jornalistas mais conhecidos de Angola. No ano passado, foi constituído arguido num processo que lhe foi movido pelos serviços secretos angolanos por difamação e injúria. Tratou-se da 98ª vez que Tonet foi processado.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
11° lugar: Nelson Mandela
Embora tenha sido um concurso da DW África à procura de "heróis de hoje", Nelson Mandela reuniu um número grande de propostas. O ex-Presidente da África do Sul (de 1994 a 1999) e líder da luta contra o regime racista do "Apartheid" faleceu no dia 5 de dezembro de 2013. Mesmo assim, continua ser um símbolo mundial da luta por uma sociedade mais justa e sem discriminação racial.
10° lugar: Jonas Malheiro Savimbi
Mais um político já falecido fica no décimo lugar. Jonas Savimbi foi guerrilheiro e líder histórico da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) durante mais de 30 anos. Combateu o colonialismo português e depois da independência de Angola em 1975, o Governo do MPLA. Após a morte de Savimbi em combate em 2002, a UNITA assinou um acordo de paz e passou a ser um partido político.
Foto: Getty Images/Keystone
9° lugar: Samora Machel
O nono lugar dos "heróis de hoje" mais votados também pertence a um político já falecido. Samora Moisés Machel foi líder da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), de inspiração marxista. A seguir à independência de Moçambique, em 1975, tornou-se o primeiro Presidente do país. Em 1986, morreu num acidente de aviação, cujas causas continuam por esclarecer, nos Montes Libombos, África do Sul.
Foto: Getty Images/Keystone
8° lugar: Carlos Serra Júnior
O jurista é o ambientalista moçambicano mais conhecido. Ficou famoso pelas suas campanhas contra o desmatamento descontrolado das florestas do seu país. Denunciou práticas ilegais dos madeireiros e dos compradores dos troncos, que em muitos casos acabaram por ser exportados para a China. Ultimamente, Carlos Serra envolveu-se em campanhas contra sacos plásticos e a favor da limpeza das praias.
Foto: privat
7° lugar: Os 15 ativistas detidos em Angola
Muitos ouvintes da DW votaram nos 15 ativistas que estão detidos desde junho, sob a acusação de planearem um golpe de Estado. Vários também votaram em Nito Alves (na foto), o jovem que já foi preso em 2014 depois de ter mandado imprimir camisolas com dizeres considerados ofensivos sobre o Presidente angolano. O rapper Luaty Beirão ("Brigadeiro Mata Frakus") foi outro ativista preso muito votado.
Foto: DW/Nelson Sul D´Angola
6° lugar: Afonso Dhlakama
Assumiu a liderança da RENAMO após a morte do primeiro presidente do movimento, André Matsangaíssa, em 1979. Em 1992, assinou um acordo de paz com o Governo da FRELIMO pondo fim à guerra civil. Candidatou-se cinco vezes à Presidência e lidera a oposição moçambicana. Dhlakama goza de popularidade entre os ouvintes da DW, apesar dos confrontos armados dos últimos anos entre a RENAMO e o Governo.
Foto: António Cascais
5° lugar: David Mendes
O advogado é conhecido como um dos maiores defensores dos direitos humanos, das liberdades e do Estado de Direito em Angola. Nos últimos anos, David Mendes defendeu muitos prisioneiros políticos como Nito Alves. Como membro da organização não-governamental Associação Mãos Livres é uma das vozes mais relevantes da sociedade civil angolana.
Foto: DW/P.B. Ndomba
4° lugar: Brigadeiro Dez Pacotes
O músico angolano Brigadeiro Dez Pacotes recebeu muitos votos dos ouvintes da DW, que louvaram a sua coragem de enfrentar o Governo do MPLA. Em 2011 (na foto), num vídeo no portal Youtube, criticou a censura do seu disco "Ditadura da Pedra" , cuja venda foi proibida pelo Ministério da Cultura. É tido como uma das vozes mais conhecidas dos chamados "jovens revolucionários" angolanos.
Foto: Screenshot Youtube
3° lugar: Azagaia
O rapper moçambicano Azagaia (Edson da Luz) tornou-se famoso através da sua música "Povo no Poder", sobre os protestos contra o aumento dos preços dos táxis coletivos, os chamados "chapas", em 2008. Várias emissoras estatais deixaram de tocar a música. Nos anos seguintes, o cantor fez jus aos seu nome artístico quando lançou críticas ácidas ao Governo da FRELIMO e contra a violência policial.
Foto: DW/R.d.Silva
2° lugar: Alice Mabota
Em segundo lugar está a advogada moçambicana Alice Mabota, a única mulher dentro dos 12 "heróis de hoje" mais votados pelos ouvintes da DW África. Durante muitos anos, foi uma das vozes mais ativas da sociedade civil de Moçambique como presidente da organização não-governamental Liga dos Direitos Humanos (LDH). Como advogada, Alice Mabota também defendeu António Muchanga, o porta-voz da RENAMO.
Foto: DW/Leonel Matias
1° lugar: Rafael Marques
No pódio como "herói de hoje" dos ouvintes da DW África está o jornalista angolano Rafael Marques. Denuncia a corrupção em Angola através do seu portal Maka Angola e tem sido uma das vozes mais críticas em relação ao Governo de José Eduardo dos Santos (MPLA). Recentemente, foi condenado a seis meses de prisão suspensa, acusado de denúncia caluniosa por causa do seu livro "Diamantes de Sangue".