Padre Wacussanga: "Resultados das eleições foram enviesados"
Cláudia Pereira
31 de agosto de 2017
Em entrevista à DW África, Pio Wacussanga salienta que a Igreja Católica deve aconselhar os políticos a aceitarem o voto do povo. Avalia os resultados provisórios das eleições angolanas de 23 de agosto.
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Um grupo de associações e ativistas angolanos publicaram uma declaração sobre o processo eleitoral em Angola. Jacinto Pio Wacussanga é um dos subscritores da intitulada "Declaração da sociedade civil angolana sobre as eleições de 2017".
O padre angolanoavalia o processo após as eleições gerais de 23 de agosto e afirma que "os resultados foram enviesados". Por isso, deve haver a recontagem dos votos e a Igreja deve aconselhar os políticos rumo a uma democracia credível.
DW África: Qual é a avaliação que faz do processo pós-eleições angolanas de 23 de agosto?
Jacinto Wacussanga (JW): É extremamente confuso o resultado dessas eleições. Os resultados foram enviesados a partir do momento em que os comissários da oposição disseram que os resultados provisórios não correspondem àqueles que constam nas atas eleitorais. A partir daí começou o indicador de que houve vontade do regime em subverter o resultado das eleições.
Padre Wacussanga: "Resultados das eleições foram enviesados"
DW África: Qual deveria ser o papel da Igreja em todo este processo eleitoral?
Jacinto Wacussanga (JW): O papel da Igreja é o de aconselhar os políticos a aceitarem o veredito do povo, não procurarem vias para poderem subverter o processo. E, ao mesmo tempo, é o de trabalhar com o povo angolano em geral para se evitar o máximo possível o recurso a qualquer tipo de violência.
DW África: Ainda não há resultados definitivos das eleições de 23 de agosto. Porque pretende uma recontagem dos votos?
Jacinto Wacussanga (JW): Na nossa declaração, aconselhamos que houvesse espaço para recontar os votos e houvesse um corpo (entidade) considerado independente, porque a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) tem, neste momento, a sua credibilidade extremamente questionada. Só esperamos que haja uma recontagem que reflita realmente aquilo que os angolanos foram fazer às urnas dia 23.
DW África: Como vai acontecer a recontagem?
Jacinto Wacussanga (JW): Enquanto sociedade civil, sugerimos que dessem espaço (à recontagem dos votos). Já está em curso a contagem paralela dos partidos da oposição. Se nós, sociedade civil, tivéssemos possibilidades e meios, com o apoio de agências internacionais que conhecem o sistema, poderíamos também ajudar nesse processo.
DW África: No comunicado, a sociedade civil refere que os "resultados foram produzidos pela cúpula do MPLA”. Que provas tem sobre esta afirmação?
Jacinto Wacussanga (JW): Essa afirmação é tirada da informação que os próprios comissários de vários partidos da oposição ofereceram. As informações são públicas. Nós cruzamos as informações de vários partidos da oposição e, a partir daí, a sociedade civil afirma que os resultados não refletem o que está nas atas.
DW África: Que lacunas houve no processo de contagem dos votos?
Jacinto Wacussanga (JW): O que se diz não se trata de lacunas mas de um deliberado de que, ao invés de contar o resultado final da votação, é trazer-se para a CNE resultados fora da votação. Foram colhidos esses resultados fora da votação e é essa a informação que nós temos.
Angola: Resultados por províncias
Conheça os dados apresentados até agora pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), província por província, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos.
Total nacional: Vitória do MPLA
O MPLA vence as eleições gerais em Angola com 61,05% do total de votos e João Lourenço é eleito Presidente da República, segundo a CNE, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos. A UNITA obteve 26,72%, CASA-CE 9,49%, PRS 1,33%, FNLA 0,91% e APN 0,50%. Foram eleitos 150 deputados do MPLA, 51 da UNITA, 16 da CASA-CE, 2 do PRS e 1 da FNLA.
Bengo
MPLA 66,92%; UNITA 24,67%; CASA-CE 5,6o%; FNLA 1,24%; PRS 0,94%; APN 0,62%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Benguela
MPLA 61,51%; UNITA 27,60%; CASA-CE 8,95%; PRS 0,90%; FNLA 0,62%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: ato de massas da CASA-CE em Benguela)
Foto: DW/N. S. D´Angola
Bié
MPLA 57,44%; UNITA 38,26%; CASA-CE 1,79%; PRS 1,05%; FNLA 0,86%; APN 0,61%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: ato de campanha do PRS no Cuito)
Foto: DW/M. Luamba
Cabinda
É a província que apresenta os resultados mais equilibrados, com os dois principais partidos da oposição a terem mais votos juntos do que o partido que sem mantém no poder. MPLA 39,75%; CASA-CE 29,33%; UNITA 28,18%; PRS 1,05%; FNLA 0,90%; APN 0,78%. O MPLA e a CASA-CE elegem dois deputados cada e a UNITA apenas um.
Foto: DW/C. Luemba
Cuando Cubango
MPLA 73,20%; UNITA 21,53%; CASA-CE 2,87%; PRS 1,13%; FNLA 0,85%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Norte
Aqui a CASA-CE surge na frente da UNITA: MPLA 77,59%; CASA-CE 10,48%; UNITA 7,91%; FNLA 1,89%; PRS 1,56%; APN 0,57%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Sul
MPLA 76,46%; UNITA 14,70%; CASA-CE 5,97%; PRS 1,23%; FNLA 1,11%; APN 0,53%. O MPLA elege cinco deputados.
MPLA 58,19%; UNITA 35,90%; CASA-CE 3,42%; PRS 1,21%; FNLA 0,77%; APN 0,50%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: registo eleitoral no Huambo, em março)
Foto: DW/J.Adalberto
Huíla
MPLA 76,56%; UNITA 12,39%; CASA-CE 8,38%; PRS 1,24%; FNLA 0,95%; APN 0,47%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: João Lourenço durante a campanha no Lubango)
Foto: DW/A. Vieira
Luanda
Na província de Luanda, o partido no poder e o maior da oposição estão próximos. MPLA 48,17%; UNITA 35,44%; CASA-CE 14,64%; FNLA 0,76%; PRS 0,60%; APN 0,38%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois.
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Norte
Nesta província, a CASA-CE, o segundo maior partido da oposição, aparece em quarto lugar na votação. MPLA 66,66%; UNITA 22,93%; PRS 5,14%; CASA-CE 3,44%; FNLA 1,05%; APN 0,77%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Sul
Aqui o partido no poder vence com um diferença de menos de 5%. E a CASA-CE também aparece no quarto lugar, depois do PRS. MPLA 45,96%; UNITA 41,06%; PRS 9,62%; CASA-CE 2,11%; FNLA 0,79%; APN 0,47%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: centro de Saurimo)
Foto: DW/Sul D'Angola
Malanje
MPLA 76,53%; UNITA 10,78%; CASA-CE 8,88%; PRS 1,95%; FNLA 1,28%; APN 0,58%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: barragem hidroelétrica de Capanda)
Foto: DW/G. C. Silva
Moxico
Aqui, mais uma vez, o PRS aparece em terceiro lugar, seguido pela CASA-CE em quarto. MPLA 74,48%; UNITA 18,90%; PRS 2,78%; CASA-CE 2,73%; FNLA 0,73%; APN 0,39%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Namibe
No Namibe, a CASA-CE surge em segundo lugar na votação, mas o partido no poder tem maioria absoluta dos votos. MPLA 76,48%; CASA-CE 15,61%; UNITA 5,56%; PRS 1,07%; FNLA 0,73%; APN 0,54%. O MPLA elege quatro deputados e a CASA-CE um. (Foto: pavilhão multiuso do Namibe)
Foto: DW/A. Vieira
Uíge
MPLA 71,36%; UNITA 18,55%; CASA-CE 6,19%; FNLA 1,62%; PRS 1,50%; APN 0,78%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: B. Ndomba
Zaire
MPLA 51,31%; UNITA 26,67%; CASA-CE 18,12%; FNLA 1,73%; PRS 1,21%; APN 0,96%. O MPLA elege três deputados, a UNITA e a CASA-CE apenas um. (Foto: oleodutos da Sonnagol na província do Zaire)