Jovens tomam de assalto sede do PAIGC em Bissau
18 de outubro de 2017Um grupo de jovens tomou de assalto esta quarta-feira (18.10.) a sede nacional do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), na capital da Guiné-Bissau, tentando impedir os militantes de entrar, e as duas partes acabaram em confrontos.
A polícia interveio quando começaram os confrontos e neste momento há um dispositivo policial junto à sede do partido.
"Cerca de 120 jovens, que vieram de diferentes zonas do país, chegaram e disseram que queriam falar com a direção do partido e como não foram atendidos invadiram as instalações", disse o responsável da segurança do partido, Luís Manuel Cabral, antigo secretário de Estado da Ordem Pública.
"Nós costumamos dormir aqui, porque estamos sempre a receber informações de que há gentes que vai invadir a sede e ficamos a tomar conta. Ontem dormimos 10 pessoas. Por volta da 05:00 vimos pessoas estranhas a invadir a sede e a pedir a chave", contou Lansana Conté, um militante do PAIGC.
Segundo Lansana Conté, como o grupo que estava a dormir na sede era menor "ninguém respondeu" e afastaram-se para telefonar e chamar mais pessoas.
"Por volta das 07:00 conseguimos tomar o controlo da situação", disse, sublinhando que eram mais de 100 jovens, divididos em dois grupos.Questionado pela agência de notícias Lusa sobre os que os jovens invasores queriam, Lansana Conté disse que eles afirmavam que o congresso do PAIGC não ia ocorrer, porque não poderiam participar.
A mesma fonte disse que os jovens vieram das regiões e muitos dos objetos que traziam estão na posse do partido.
A testemunha disse também que há feridos e que foram levados para o hospital, sem precisar quantos.
Montado dispositivo de segurança
A polícia montou um dispositivo de segurança junto à sede do partido, que fica localizado na Praça dos Heróis Nacionais, ao lado da Presidência da República.
Em declarações à agência de notícias Lusa, João Bernardo Vieira, porta-voz do PAIGC disse que "há algum tempo que o PAIGC tem sido ameaçado pelo Grupo dos 15 que tem sido claramente apoiado pelo senhor Presidente da República, que tem dito que representam aquilo que são os verdadeiros guineenses"."Eles (o Grupo dos 15) sentem força por causa do Presidente da República. Portanto, não é difícil de imaginar de onde é que isto veio e quem terá vantagem política com o assalto ao PAIGC. É o grupo dos 15 e o Presidente da República", acrescentou Vieira.
Segundo o porta-voz, "o Presidente da República já tinha dito que o Governo era uma máquina de guerra e fez um conjunto de afirmações que para bom entendedor meia palavra basta. Continuo a reafirmar que isto foram pessoas mandatadas pelo Grupo dos 15 com o apoio do Presidente da República. É lamentável que nunca situação em que estamos todos à espera de paz e de estabilidade haja situações do género", disse o porta-voz do PAIGC.
João Bernardo Vieira afirmou também que considera "estranho" que mais de 100 pessoas tenham invadido a sede nacional do partido, em Bissau, que a "20 segundos do Palácio da Presidência", onde existe um forte dispositivo de segurança e nada tenha sido feito.
"O que é certo, é que vamos continuar a defender as nossas sedes. Se as autoridades não assumirem as suas responsabilidades nós vamos de facto tentar recuperar aquilo que é nosso", afirmou, sublinhando que a polícia só veio depois de tudo estar resolvido.
Impasse político persiste Recorde-se que a Guiné-Bissau vive um impasse político há cerca de três anos, depois de o Presidente da República, José Mário Vaz ter demitido o Governo de Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, partido que venceu as eleições legislativas de 2014.
O Grupo dos 15 é um grupo de deputados expulsos do PAIGC, depois de votarem contra o programa do Governo submetido ao parlamento por Carlos Correia, que substitui Domingos Simões Pereira. Na sequência da expulsão daqueles deputados, o parlamento ficou bloqueado e está parado há cerca de dois anos.
O atual Governo guineense não tem o apoio do PAIGC e o impasse político tem levado vários países e instituições internacionais a apelarem a um consenso para a aplicação do Acordo de Conacri.
O Acordo de Conacri, mediado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), prevê a formação de um governo consensual integrado por todos os partidos representados no Parlamento e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e da confiança do chefe de Estado, entre outros pontos.