PAIGC exige "demissão imediata" do Governo guineense
Braima Darame (Bissau) | Lusa
21 de fevereiro de 2017
O partido vencedor das legislativas na Guiné-Bissau pede nomeação de Augusto Olivais como primeiro-ministro. Líder do PAIGC também acusou José Mário Vaz de facilitar narcotráfico no país. Presidência ainda não reagiu.
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O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) exigiu esta segunda-feira (20.01), em comunicado, "a imediata demissão do atual Governo", liderado por Umaro Sissoco Embaló, e "a nomeação sem demoras de Augusto Olivais".
Para o partido liderado pelo ex-primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, a nomeação de Olivais, dirigente do PAIGC, colocaria fim ao impasse político na Guiné-Bissau e faria com que fosse respeitado o Acordo de Conacri.
PAIGC exige "demissão imediata" do Governo guineense
O PAIGC regozija-se ainda com as palavras do presidente da Comissão da Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO).
Marcel de Souza defendeu, em declarações à RTP África, que a persistência do impasse político na Guiné-Bissau se deve ao facto de o nome de consenso escolhido à luz do Acordo de Conacri, o de Augusto Olivais, ter sido preterido pelo de Umaro Sissoco Embaló, nomeado primeiro-ministro.
Narcotráfico volta ao debate
Numa entrevista exclusiva à DW África, o presidente do PAIGC acusou José Mário Vaz e o atual Governo de facilitarem o tráfico de droga no país. A DW África solicitou uma reação à Presidência da República e ao Executivo guineense, mas ainda aguarda uma resposta.
Não é a primeira vez que se fala num alegado envolvimento das autoridades no narcotráfico nas ilhas Bijagós. Ultimamente, em Bissau, foram referidos os nomes do Presidente da República, José Mário Vaz, e do primeiro-ministro, Umaro Sissoco Embaló, como estando associados a essas práticas.
Num encontro mantido na semana passada com operadores turísticos no país, José Mário Vaz avisou que não irá tolerar qualquer atividade que envolva o tráfico de droga no país. "Eu não quero droga na Guiné-Bissau", frisou.
O chefe de Estado guineense deixou ainda um conselho aos operadores que eventualmente estejam ligados a essa prática: "Terminem rapidamente com isso. Se não terminarem, terão a casa fechada e podem ir para prisão".
As denúncias têm sido feitas por grupos de militantes do PAIGC e pelo Movimentodos Cidadãos Consciente e Inconformados. Dizem quepequenos aviões clandestinos oriundos da América do Sul carregados de cocaína aterram com uma certa frequência nas ilhas do arquipélago dos Bijagós. Por vezes, acrescentam, os traficantes preferem largar a droga empacotada no mar, perto do arquipélago.
Interpol sem meios
"A Guiné-Bissau tem cerca de 86 ilhas e não temos meios para chegar lá", admite Martinho Camará, diretor nacional da delegação na Guiné-Bissau da Interpol, a Organização Internacional de Polícia Criminal, que tem recebido notificações de atividades ilícitas nas ilhas.
"Estamos na eminência de os traficantes se aproveitarem das nossas fragilidades para as suas atividades ilícitas. É um perigo para a Guiné-Bissau e para o mundo", adverte o responsável da Interpol.
Neste momento, diz, a Guiné-Bissau ainda é um país de trânsito, mas com o tempo pode vir a tornar-se um país consumidor ou produtor.
Segundo Martinho Camará, tem aumentado a compra de carros topo de gama em Bissau com dinheiro que se supõe estar ligado ao narcotráfico. "São viaturas de proveniência duvidosa. Mas há um inquérito em curso e estamos a trabalhar em parceria com outras corporações", diz.
País pobre com táxis de luxo
Táxis e autocarros da Mercedes-Benz definem o cenário nas ruas de Bissau. Quase todos os taxistas deste país pobre conduzem viaturas da construtora alemã de carros topo da gama, sobretudo modelos a gasóleo dos anos 80.
Foto: DW/B. Darame
Táxis da Mercedes-Benz por todo o lado em Bissau
Nas estradas da Guiné-Bissau, país situado na África Ocidental, prevalecem carros da marca Mercedes-Benz. Apesar deste ser um dos países mais pobres do mundo, ocupando a 12ª posição a contar do fim no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, quase todos os taxistas conduzem viaturas da Daimler, construtora alemã de carros topo da gama.
Foto: DW/B. Darame
Modelos resistentes a gasóleo
Os modelos mais resistentes são também os mais procurados. Ao contrário dos modelos modernos, os mais antigos podem ser reparados pelos proprietários e condutores sem conhecimentos de informática. Quase a totalidade dos transportes públicos de Bissau, com os seus 400 000 habitantes, é operada com táxis coletivos e mini-autocarros da marca Mercedes-Benz.
Foto: DW/B. Darame
Amado conduz este Mercedes-Benz desde 1999
Um tio que emigrou para a Alemanha em 1997 enviou este Mercedes para Bafatá, no leste do país, para apoiar a família. Em 1999, o carro foi levado para a capital, Bissau. Desde então serve de ganha-pão ao taxista Amado. As receitas chegam para pagar o almoço e o jantar a toda a família.
Foto: DW/B. Darame
Todos os táxis são táxis coletivos
Tal como todos os taxistas em Bissau, também Amado recolhe sempre vários passageiros que querem ir mais ou menos para o mesmo lado. Os táxis de Bissau estão quase sempre em movimento. Se ainda há um lugar livre, pode-se mandar parar o táxi. Mas o destino deve ser próximo daquele dos restantes passageiros. Também é possível ter o uso exclusivo do táxi, mas é mais caro.
Foto: DW/B. Darame
Painéis dos anos 80
Uma apreciação do interior da viatura revela instrumentos clássicos dos anos 80. Este é o interior de um modelo 190D da série Mercedes-Benz W201. Entre 1982 e 1993 foram produzidos cerca de 1,8 milhões de exemplares deste predecessor da atual classe C. Olhando com atenção deteta-se no lado direito da imagem uma bandeira alemã. Este género de símbolos é muito popular entre os taxistas.
Foto: DW/B. Darame
Oficina da rua
Muitos táxis já têm mais de um milhão de quilómetros de rodagem, e, por isso, sofrem de numerosos defeitos. A reparação torna-se assim num negócio rentável, no qual se especializaram várias oficinas da rua. Sobretudo os jovens aprendem aqui como reparar os modelos da Mercedes-Benz, ocupação que lhes garante o sustento.
Foto: DW/B. Darame
Carros canibalizados
Hoje em dia é fácil obter em Bissau todas as peças sobressalentes dos modelos mais comuns da Mercedes-Benz. Elas não são importadas da Alemanha, mas extraídas dos numerosos táxis cujas carroçarias já não resistem ao uso. As viaturas são canibalizadas e usadas como depósito de peças de reposição. Neste caso foi extraído o bloco completo do motor para ser inserido noutro táxi.
Foto: DW/B. Darame
Investimento conjunto
Sete guineenses juntaram-se para comprar este táxi Mercedes-Benz. Com a matrícula, 42-11-CD, é um dos táxis mais conhecidos da cidade. No fim do mês, o condutor paga o aluguer aos proprietários. Quando o negócio anda de vento em popa, sobra o equivalente a 75 euros para cada um. O que na Guiné-Bissau é uma pequena fortuna. O rendimento médio per capita no país é inferior a 50 euros mensais.
Foto: DW/B. Darame
O modelo para carreiras de longo curso
O modelo 240TD da série 123 foi construído de 1975 a 1986, e é conhecido pelo nome de "sete plass" (sete lugares) na Guiné-Bissau. Este carro é considerado muito resistente e usado, sobretudo, para carreiras de longo curso. Este táxi coletivo faz a carreira de Bissau para Ziguinchor, na Casamansa (Casamance), no vizinho Senegal. A publicidade no para-brisas revela a sua origem.
Foto: DW/B. Darame
Furgonetas da Mercedes para rotas fixas
Enquanto os pequenos táxis coletivos têm rotas flexíveis, as grandes furgonetas da Mercedes-Benz cumprem carreiras fixas. É o caso deste mini-autocarro do tipo 210D ("Mercedes Transporter"), chamado de "toca-toca", que faz a ligação entre o centro da cidade o Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira em Bissau, como se pode ler na placa que diz “Aeroporto”.
Foto: DW/B. Darame
Miríade de tipos
Também há vários tipos de mini-autocarros, mas a preferência dos motoristas pelos modelos da Mercedes-Benz é evidente. Os carros desta marca têm a fama de ser resistentes. O furgão do tipo 210D foi construído na fábrica de Bremen, no norte da Alemanha, entre 1977 e 1995. Deste modelo de nome “Bremer Transporter” foram fabricados 970.000 unidades. Hoje ele é construído sob licença na Índia.
Foto: DW/B. Darame
A importação é sempre de segunda mão
Tanto as furgonetas amarelas e azuis que servem de mini-autocarro como os táxis azuis e brancos são geralmente importados em segunda mão. Normalmente os carros oriundos da Europa entram em África via Banjul, cidade portuária na vizinha Gâmbia. Daí seguem via sul do Senegal e norte da Guiné-Bissau para a capital, Bissau. Onde são pintados nas cores típicas.
Foto: DW/B. Darame
Parte integrante do cenário de Bissau
Na imagem, vários táxis pintados em azul e branco seguem numa estrada secundária de terra batida em Bissau. Os táxis da Mercedes-Benz são hoje parte integrante do cenário da capital da Guiné-Bissau. Como as viaturas são muito resistentes e fáceis de reparar, é muito provável que os modelos dos anos 80 e do início da década 90 ainda possam ser admirados por muito tempo nas ruas de Bissau.