Para o partido dirigido por Domingos Simões Pereira, o Executivo em preparação, que recusa integrar, resulta de uma decisão unilateral do Presidente guineense. PAIGC também retirou a confiança política a José Mário Vaz.
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O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) não vai participar no novo Governo do país, anunciou este domingo (27.11) o partido vencedor das eleições legislativas na Guiné-Bissau, mas entretanto arredado do poder.
A decisão foi tomada com 112 votos a favor e 11 contra numa reunião do comité central do PAIGC, iniciada no sábado (26.11). Na resolução, a força política "reafirma a intenção inabalável da não participação do PAIGC e dos seus militantes no Governo de iniciativa presidencial".
Para o partido dirigido pelo ex-primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, o Executivo em preparação resulta de uma decisão unilateral do Presidente, que propôs Umaro Sissoco Embaló, general na reserva de 44 anos, para o liderar, contra a vontade do partido.
Em outubro, a classe política guineense chegou a um entendimento na capital da vizinha Guiné-Conacri para ser constituído um executivo de consenso, com todos os partidos representados no Parlamento e cujo líder seria uma figura de confiança do chefe do Estado.
O PAIGC diz que dos três nomes propostos por José Mário Vaz - Sissoco Embaló, Augusto Olivais e Aladje Fadiá - foi escolhido o de Augusto Olivais, militante do partido. Mas como o comunicado final do encontro de Conacri não especifica o nome, tem havido diferentes interpretações.
O partido pede ao líder do Parlamento do país, Cipriano Cassamá, na qualidade de signatário do acordo de Conacri, para que entre em contacto com o Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, na qualidade de mediador da crise guineense, para que se esclareça o que ficou decidido.
Confiança política perdida
O PAIGC também retirou a confiança política ao Presidente José Mário Vaz. A decisão foi tomada na reunião extraordinária do comité central de sábado (26.11), numa votação que foi apoiada por 112 dos 123 presentes na sala.
A decisão visa "retirar a confiança política ao cidadão e militante José Mário Vaz por ser o principal promotor de toda a grave crise política que tem assolado o país há cerca de dois anos", anunciou o porta-voz do partido, João Bernardo Vieira.
Esta força política apoiou a candidatura de José Mário Vaz à presidência da Guiné-Bissau, mas o desentendimento tem reinado nesta legislatura. O Presidente já demitiu dois Governos do PAIGC.
O partido liderado por Domingos Simões Pereira acusa ainda o chefe de Estado de ter atitudes que demonstram que está determinado em prejudicar o partido.
Eleições gerais na Guiné-Bissau, um marco de esperança
As eleições gerais (presidenciais e legislativas) de domingo, dia 13 de abril de 2014, na Guiné-Bissau decorreram sem incidentes até ao encerramento das urnas às 17 horas.
Foto: DW/João Carlos
Primeira votação desde o golpe de Estado de 12 de abril de 2012
As eleições gerais (presidenciais e legislativas) deste domingo (13.04.) na Guiné-Bissau decorreram sem incidentes até ao encerramento das urnas às 17 horas. Segundo a Comissão Nacional de Eleições, CNE, a taxa de participação no escrutínio foi de 79,4%, a mais alta da história do país.
Foto: SEYLLOU/AFP/Getty Images
Guineenses elegem um presidente e 102 deputados
Mais de 770.000 cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais escolheram entre 13 candidatos presidenciais e 15 partidos a concorrerem à Assembleia Nacional Popular. De acordo com as diferentes missões de observação eleitoral, tanto na capital como no interior foram detetados apenas pequenos problemas que não afetam a votação. A CNE deverá apresentar os resultados definitivos dentro de uma semana.
Foto: SEYLLOU/AFP/Getty Images
Quem for eleito "deve ser abraçado por todo o povo", diz Chissano
O ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano (à esq.) pediu aos guineenses que estejam prontos para aceitar com "calma" os resultados das eleições gerais. De acordo com o chefe da missão de observadores eleitorais da União Africana, estavam reunidas todas as condições para a realização das eleições na Guiné-Bissau. A UA tem uma equipa de cerca de 60 pessoas a acompanhar as eleições gerais no país.
Foto: DW/Braima Darame
"Paz, paz" foram as palavras do chefe das forças armadas guineenses
O general António Indjai, que liderou o golpe de Estado que em 2012 interrompeu as eleições presidenciais na Guiné-Bissau, lançou pombas brancas depois de votar este domingo em Bissau. Para as eleições, Indjai trocou o uniforme por uma túnica branca. A impunidade do exército é considerado um dos grandes problemas do país e uma reforma é considerada tarefa urgente do novo Presidente.
Foto: DW/Braima Darame
Bissau parou no último dia de campanha eleitoral
Na sexta-feira (11.04.), comércio e instituições da capital guineense fecharam as portas durante a tarde e milhares de cidadãos saíram às ruas para celebrar a democracia. De forma a evitar confrontos entre apoiantes dos diferentes candidatos e partidos, mais de 2.000 homens das forças de defesa e segurança garantiram a segurança através de barreiras entre os espaços ocupados pelos candidatos.
Foto: DW/Braima Darame
Campanha marcada por "desobediência à disciplina dos partidos"
As clivagens no seio dos partidos guineenses foram notórias durante a campanha eleitoral: tanto dirigentes, como militantes dos diferentes partidos apoiaram candidatos de outros quadrantes. Nos comícios viram-se também apoiantes com adereços do partido que apoiam nas legislativas e com material de um candidato presidencial de outra força. A dissidência foi mais vincada entre os jovens.
Foto: DW/Braima Darame
Ramos-Horta pediu ao partido vencedor que inclua as outras forças políticas
Para José Ramos-Horta, desde o golpe de Estado de abril de 2012 na Guiné-Bissau passaram dois anos difíceis em que se abriram muitas feridas. Segundo o representante da ONU em Bissau, as sanções impostas ao país só poderão ser aliviadas através de “um ato eleitoral que não deixe dúvidas à comunidade internacional” quanto à sua transparência.
Foto: DW/Márcio Pessoa
Amos Sawyer quer integração e desenvolvimento sustentado na Guiné-Bissau
O chefe da missão de observadores eleitorais da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, CEDEAO, pediu aos líderes dos partidos guineenses que estejam “prontos para fazer sacrifícios em prol do país”. O ex-Presidente interino da Libéria lidera a missão de 220 observadores que a CEDEAO enviou para acompanhar as eleições gerais na Guiné-Bissau.
Foto: DW/Márcio Pessoa
Serifo Nhamadjo quer "o mundo a aplaudir as eleições" na Guiné-Bissau
Numa mensagem aos guineenses no último dia de campanha, o presidente de transição apelou à participação em massa no escrutínio: "o mundo está de olhos postos em nós”, disse Nhamadjo, referindo que a população deve votar “em liberdade e consciência”. As eleições são um dos últimos passos no período de transição política que o país vive desde o golpe de Estado de 12 de abril de 2012.
Foto: SEYLLOU/AFP/Getty Images
Morte de Kumba Ialá gerou preocupação entre políticos e população
De acordo com fontes familiares, Kumba Ialá morreu devido a doença cardíaca a 4 de abril passado. Segundo o seu médico particular e sobrinho, Kumba "pediu para ser sepultado só depois da vitória de Nuno Gomes Nabiam", candidato presidencial que apoiava. Recentemente, o representante da ONU em Bissau, José Ramos-Horta, apelou para que “não haja aproveitamento político” da morte do ex-Presidente.
Foto: DW/B. Darame
Cidadãos guineenses na diáspora depositam confiança nos seus futuros governantes
Apesar de reclamações pela lentidão com que decorreu a votação por limitação de urnas, a comunidade guineense em Portugal participou com entusiasmo nas eleições. Os futuros dirigentes da Guiné-Bissau terão a responsabilidade de criar condições para o regresso dos que foram obrigados a deixar o país devido à instabilidade política.