Na província moçambicana de Gaza, pais e entidades ouvidas pela DW discordam da retoma das aulas e sugerem a anulação do ano letivo para salvaguardar vidas humanas. "Não devem usar as crianças como teste", apelam.
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Numa altura em que já existe transmissão comunitária em Moçambique, pais e encarregados de educação e a sociedade civil da província de Gaza, no sul do país, discordam da retoma das aulas a partir de 27 de julho na 12ª classe e institutos de formação de professores. Até ao momento, há 18 casos ativos de Covid-19 na província.
Alguns pais ouvidos pela DW África afirmam que o Governo tomou uma decisão unilateral, sem consultar as comunidades e muito menos tendo em conta a situação em que vivem.
Isidro Banze é um encarregado de educação residente no posto administrativo de Chidenguele, que fica a setenta quilómetros de Xai-Xai, a capital provincial. Diz que o Governo devia pensar primeiro no povo.
África do Sul: Reabertura de escolas divide opiniões
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"Era preciso o Governo pensar em nós primeiro, como é que vive a comunidade. Antes de traçar o programa deve visitar as comunidades. Estamos a receber aquela mensagem de fica em casa, mas o número está a subir. Agora quando as crianças regressarem às suas escolas não sabemos o que vai acontecer", aponta.
Alfredo Munguambe, outro encarregado de educação, lamenta a decisão tomada pelo Governo. E garante que os seus filhos não irão à escola este ano. "Essa experiência que o Governo quer fazer sobre os nossos filhos é mesmo muito lamentável. Não sei onde vou gritar, mas isso é porque não temos onde reclamar. Só posso dizer que pelo menos os meus filhos não irão à escola este ano, para eles vai ser nulo", conta.
Anulação do ano letivo?
Já a sociedade civil afirma que a decisão da retoma das aulas, em si, carrega uma série de riscos de propagação da Covid-19 entre os próprios alunos, para as suas famílias e as comunidades em geral.
Carlos Mhula, da Liga dos Direitos Humanos, defende a anulação do ano letivo. "Não [devem] usar as crianças como teste. Só faltam menos de cinco meses para o fim do ano letivo, é melhor anular este ano. Agora há uma inquietação. É que se pegam nas nossas crianças e as expõem ao vírus é porque sabem que as crianças deles não estão lá, estão em Paris, Nova Iorque, nas melhores escolas e em melhores condições", critica.
Carlos Mhula acrescenta que os três mil milhões e meio de meticais (cerca de 44 milhões de euros) que o Governo pretende gastar na reorganização das escolas deveria aplicá-lo no melhoramento das infraestruturas escolares, com os olhos postos no ano letivo 2021.
Que condições?
Na província de Gaza, só dezassete das trinta e cinco escolas são tidas pelo Governo como as que têm condições razoáveis para a retoma das aulas. E a Escola Secundária Joaquim Chissano, na cidade de Xai-Xai, é uma delas.
O diretor da escola, Samuel Chacate, garante que está tudo a postos para a retoma de aulas. E decorre neste momento a reorganização das turmas para garantir o distanciamento físico e está a ser construído um local para a lavagem das mãos à entrada do recinto escolar.
"Estamos a reformular as turmas para cada comportar vinte alunos e estamos a construir um lavabo para a lavagem das mãos logo na entrada. Teremos que contar com pais e encarregados de educação, sobretudo os vinte e quatro membros do conselho, para ajudar no controlo dentro do recinto escolar. É um desafio", conclui.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.