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EducaçãoÁfrica

Pais opõem-se à retoma das aulas em Moçambique

Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
15 de julho de 2020

Na província moçambicana de Gaza, pais e entidades ouvidas pela DW discordam da retoma das aulas e sugerem a anulação do ano letivo para salvaguardar vidas humanas. "Não devem usar as crianças como teste", apelam.

Escola Secundária Joaquim Chissano em Xai-Xai, província de GazaFoto: DW/C. Matsinhe

Numa altura em que já existe transmissão comunitária em Moçambique, pais e encarregados de educação e a sociedade civil da província de Gaza, no sul do país, discordam da retoma das aulas a partir de 27 de julho na 12ª classe e institutos de formação de professores. Até ao momento, há 18 casos ativos de Covid-19 na província.

Alguns pais ouvidos pela DW África afirmam que o Governo tomou uma decisão unilateral, sem consultar as comunidades e muito menos tendo em conta a situação em que vivem.

Isidro Banze é um encarregado de educação residente no posto administrativo de Chidenguele, que fica a setenta quilómetros de Xai-Xai, a capital provincial. Diz que o Governo devia pensar primeiro no povo.

África do Sul: Reabertura de escolas divide opiniões

02:59

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"Era preciso o Governo pensar em nós primeiro, como é que vive a comunidade. Antes de traçar o programa deve visitar as comunidades. Estamos a receber aquela mensagem de fica em casa, mas o número está a subir. Agora quando as crianças regressarem às suas escolas não sabemos o que vai acontecer", aponta. 

Alfredo Munguambe, outro encarregado de educação, lamenta a decisão tomada pelo Governo. E garante que os seus filhos não irão à escola este ano. "Essa experiência que o Governo quer fazer sobre os nossos filhos é mesmo muito lamentável. Não sei onde vou gritar, mas isso é porque não temos onde reclamar. Só posso dizer que pelo menos os meus filhos não irão à escola este ano, para eles vai ser nulo", conta.

Anulação do ano letivo?

Já a sociedade civil afirma que a decisão da retoma das aulas, em si, carrega uma série de riscos de propagação da Covid-19 entre os próprios alunos, para as suas famílias e as comunidades em geral.

Carlos Mhula, da Liga dos Direitos Humanos, defende a anulação do ano letivo. "Não [devem] usar as crianças como teste. Só faltam menos de cinco meses para o fim do ano letivo, é melhor anular este ano. Agora há uma inquietação. É que se pegam nas nossas crianças e as expõem ao vírus é porque sabem que as crianças deles não estão lá, estão em Paris, Nova Iorque, nas melhores escolas e em melhores condições", critica.

Carlos Mhula acrescenta que os três mil milhões e meio de meticais (cerca de 44 milhões de euros) que o Governo pretende gastar na reorganização das escolas deveria aplicá-lo no melhoramento das infraestruturas escolares, com os olhos postos no ano letivo 2021.

Lavatório das mãos em construção na Escola Secundária Joaquim ChissanoFoto: DW/C. Matsinhe

Que condições?

Na província de Gaza, só dezassete das trinta e cinco escolas são tidas pelo Governo como as que têm condições razoáveis para a retoma das aulas. E a Escola Secundária Joaquim Chissano, na cidade de Xai-Xai, é uma delas.

O diretor da escola, Samuel Chacate, garante que está tudo a postos para a retoma de aulas. E decorre neste momento a reorganização das turmas para garantir o distanciamento físico e está a ser construído um local para a lavagem das mãos à entrada do recinto escolar.

"Estamos a reformular as turmas para cada comportar vinte alunos e estamos a construir um lavabo para a lavagem das mãos logo na entrada. Teremos que contar com pais e encarregados de educação, sobretudo os vinte e quatro membros do conselho, para ajudar no controlo dentro do recinto escolar. É um desafio", conclui.

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