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Palma: Centenas de pessoas resgatadas chegam a Pemba

Lusa | DPA | AFP | cvt
28 de março de 2021

Barco com cerca de 1.800 pessoas chegou pela manhã ao porto da capital de Cabo Delgado. Presidentes de Portugal e África do Sul acompanham situação. Total suspendeu retoma de operações.

Hafen in Pemba Mosambik
Porto de Pemba (imagem ilustrativa)Foto: DW/E. Silvestre

Um barco com 1.800 pessoas que fugiram dos ataques terroristas em Palma, norte de Moçambique, estava ao largo de Pemba pela manhã, disse à agência de notícias Lusa uma fonte que está a acompanhar as operações.

Segundo a mesma fonte, a embarcação partiu no sábado (27.03) de Afungi com destino ao porto de Pemba, tendo chegado ao largo da capital provincial de Cabo Delgado na manhã deste domingo (28.03).

Também o secretário de Estado moçambicano em Cabo Delgado, Armindo Ngunga, confirmou à agência de notícias DPA a chegada do navio ao porto de Pemba.

Segundo a DPA, cerca de 1.000 trabalhadores do projeto de gás natural da região, liderado pela empresa francesa Total, foram evacuados nesta embarcação.

No porto de Pemba, registava-se uma concentração de familiares das pessoas que viajaram no barco.

Destas, cerca de 200 expatriados de várias nacionalidades refugiaram-se no hotel Amarula, em Palma, desde quarta-feira (24.03) à tarde, quando o ataque armado à vila começou.

Na quinta-feira (25.03), começaram operações de resgate do hotel para dentro do recinto protegido da petrolífera Total, a seis quilómetros, ações que continuaram na sexta-feira (26.03), quando uma das caravanas foi atacada, disse à Lusa uma fonte que acompanhou as operações. 

Nesta operação, um cidadão sul-africano foi morto, informação confirmada à agência de notícias AFP por uma fonte do Governo sul-africano em Joanesburgo, e um português ficou gravemente ferido, confirmou no sábado (27.03) o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.

Na altura foram reportadas sete mortes, mas a mesma fonte disse, este domingo (28.03) à agência de notícias Lusa, que o número de vítimas é ainda incerto.

Marcelo Rebelo de SousaFoto: Pedro Fiuza/NurPhoto/picture alliance

Presidente Português acompanha situação

O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que o cidadão português resgatado em Palma terá ferimentos "menos graves" do que inicialmente previsto.  

"Em relação a um compatriota, apurou-se que o ferimento pode ser menos grave do que se temia e o resgate ocorreu em termos que, a certa altura, se temia que não fosse possível", afirmou o Presidente da República aos jornalistas, em Lisboa no sábado.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu estar a acompanhar juntamente com o Governo, em particular o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, a evolução da situação em Palma.

"O Governo português tem acompanhado permanentemente, nomeadamente o senhor ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que também permanentemente, ao longo do dia de ontem, na noite de ontem para hoje, na madrugada de hoje e no dia de hoje tem colocado o Presidente da República ao corrente do que se passa", contou.

Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda que "tudo o que tem vindo a público traduz de forma muito fidedigna aquilo que é a situação vivida" pelos portugueses em Cabo Delgado, "no norte do Estado irmão de Moçambique".

Cyril RamaphosaFoto: AFP/P. Magakoe

África do Sul reforça missão diplomática

Entre as vítimas dos ataques haverá vários sul-africanos, o que levou a África do Sul a reforçar a sua missão diplomática em Moçambique, anunciou o Governo sul-africano no sábado.

"A missão diplomática em Moçambique está a ser reforçada com pessoal adicional a fim de realizar o trabalho de localização, identificação e resposta às respetivas necessidades dos afetados", disse em comunicado o Ministério da Cooperação e Relações Internacionais sul-africano.

O comunicado não especifica o número de vítimas sul-africanas afetadas no ataque. Refere apenas que a África do Sul, através da sua missão diplomática em Maputo, "está a trabalhar com as autoridades locais na verificação, bem como na prestação dos serviços consulares necessários".

"A África do Sul está pronta para trabalhar com o Governo de Moçambique na busca de uma paz e estabilidade duradouras", conclui o comunicado do Governo sul-africano.

O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, reuniu-se com altos responsáveis da Defesa devido ao ataque no norte de Moçambique, noticiou a televisão estatal.

A Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês) está a considerar o destacamento de forças especiais para ajudar a conter a situação de guerra no norte do país vizinho, referiu por seu lado uma fonte da segurança ao portal sul-africano News24, também no sábado.

Praça 25 de Setembro, em Palma, antes dos ataquesFoto: privat

Desespero dos familiares

A mãe de um sul-africano de 21 anos, desaparecido após o ataque de rebeldes na vila moçambicana de Palma, disse no sábado à televisão pública da África do Sul, SABC,  que "há vários expatriados desaparecidos, os terroristas entraram na vila altamente armados com bombas e equipamento militar".

"Outros sul-africanos perderam a vida numa emboscada ontem à noite, a situação é terrível, é uma zona de guerra, é traumático", acrescentou.

Segundo o mesmo relato, "há umas centenas" de sul-africanos a trabalhar nos projetos de gás na região de Cabo Delgado e "não houve assistência de nenhum Governo aos expatriados retidos". 

"O meu filho continua desaparecido na zona de guerra, é um jovem, sem experiência militar ou de combate em zonas de guerra e é aterrador não sabermos o seu paradeiro, se está vivo ou se foi raptado porque ninguém ainda nos informou sobre o seu paradeiro e o que aconteceu", relatou.

"A imprensa está a acompanhar os acontecimentos, os americanos condenaram o ataque e dizem-me que a Legião Francesa [forças especiais francesas] está também a caminho [de Moçambique], mas o Governo sul-africano continua em reuniões, há três dias que não sabemos de nada e nem sequer temos ideia do número de afetados", disse ainda no sábado. 

Total suspende retoma de operações

A petrolífera francesa Total, que manifestou na quarta-feira a intenção de retomar os trabalhos para exploração de gás no norte de Moçambique, anunciou no sábado a suspensão das suas operações após o ataque 'jihadista' em Palma.

A Total "não tem vítimas a lamentar no pessoal que trabalha no local do projeto" em Afungi, a 10 quilómetros da localidade de Palma, mas vai "reduzir os trabalhadores ao mínimo" e a "reativação do projeto ponderada esta semana fica suspensa", de acordo com um comunicado citado pela agência de notícias AFP.

Em resposta a questões colocadas pela agência Lusa, a empresa sublinhou que "a prioridade absoluta da Total é garantir a segurança e a proteção das pessoas que trabalham no projeto", expressando ainda "solidariedade e apoio à população de Palma, aos familiares das vítimas e às pessoas afetadas pelos trágicos acontecimentos dos últimos dias".

"A Total tem confiança no Governo de Moçambique cujas forças de segurança pública estão a trabalhar por forma a retomar o controlo da área", concluiu.

As comunicações móveis continuam cortadas e os insurgentes continuam em Palma, numa ocupação que entrou hoje no quinto dia.

O ataque é o mais grave junto aos projetos de gás após três anos e meio de insurgência armada à qual a sede de distrito tinha até agora sido poupada. 

A violência está a provocar uma crise humanitária no norte de Moçambique, com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.

Algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI), entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua em investigação.

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