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PALOP empenhados na luta contra a fome

Rafael Belincanta/Roma21 de novembro de 2014

É imprescindível lutar contra a fome no mundo. Este é um dado adquirido que ninguém disputa. Mas como fazê-lo? Há muitas propostas, mas pouca coordenação. Agora, o mundo encontrou-se em Roma para remediar a situação.

Foto: picture-alliance/dpa

A 2ª Conferência Internacional sobre a Nutrição, organizada pela FAO ( Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) e que decorre até esta sexta-feira (21.11), atraiu a Roma, capital da Itália, governantes mundiais, entre os quais representantes dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP). Foi assinada uma “Declaração de Roma sobre a Nutrição”, que compromete os governos a adotar medidas que privilegiem o combate à fome à desnutrição.

Porque o problema da fome não é simples: alimentos de qualidade garantem uma boa nutrição; alimentos em quantidade suficiente determinam a segurança alimentar. Esta distinção explica a diferença entre a luta contra a fome e os esforços para garantir uma alimentação que tenha os nutrientes essenciais para o ser humano.

Desnutrição em Moçambique atinge sete milhões

Em Moçambique cresce o número de pequenos agricultores que prefere dedicar-se ao garimpoFoto: DW/E. Silvestre

Presente na cimeira esteve também o ministro da Saúde de Moçambique, Alexandre Manguele, que interveio no plenário. À DW África, Manguele disse que a conferência é uma oportunidade para buscar soluções para resolver o problema dos sete milhões moçambicanos que sofrem de desnutrição crónica: “Um encontro internacional como este, em que se partilham ideias, conhecimentos e experiências diversificadas, nós vamos com certeza colher aqui algumas delas, para tentarmos baixar o alto nível de desnutrição que ainda impera no nosso país, sobretudo nas crianças”.

Por seu turno, o ministro da Agricultura de Angola, Afonso Canga, falou à plenária na manhã da quinta-feira (20.11). Canga destacou que o seu país atingiu a meta de desenvolvimento do milénio de reduzir a desnutrição em 50% até 2015. Porém, Angola ainda tem quase quatro milhões de pessoas desnutridas.

Défice de vontade política

A Guiné-Bissau apresenta um dos maiores índices de anemia entre crianças menores de cinco anos: aqui, mais de 70% estão desnutridas. Cabo Verde conseguiu bons resultados no combate à fome e à desnutrição nos últimos anos. Todavia deve investir mais para garantir a segurança alimentar de 10% da população que ainda sofre com a falta de alimentos, seja em qualidade como em quantidade, admitem os seus responsáveis. Segundo a ministra das Finanças e do Planeamento de Cabo Verde, Cristina Duarte: “Soluções técnicas, felizmente, é o que não falta. Neste momento há um mundo com todo este desenvolvimento científico e tecnológico”, o défice, disse a ministra, é outro. “A necessidade de todos nós assumirmos, que, para resolver estes problemas, acima de tudo é preciso forte vontade política”

Em Angola ainda há quatro milhões de pessoas desnutridasFoto: Jörg Böthling/Brot für die Welt

Papa apela ao fim da especulação com alimentos

O ponto alto da conferência foi o discurso de papa Francisco, na quinta-feira, 20 de novembro, logo pela manhã. Segundo o líder da Igreja Católica, no mundo atual a tónica dos discursos é colocada mais nos direitos do que nos deveres: “Talvez nos preocupemos muito pouco com os que passam fome. Além disso, dói constatar que a luta contra a fome e a desnutrição é dificultada pela ‘prioridade do mercado’ e pela ‘preeminência da ganância’, que reduziram os alimentos a uma mercadoria qualquer, sujeita à especulação, inclusive financeira”.

O diretor geral da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, destacou que o modelo de agricultura e nutrição que se baseia no consumo e na produção local, idealizado no Brasil com o programa Fome Zero, tem ajudado muitos países africanos a superar o ciclo de fome e pobreza.

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