Passaram 37 anos desde a última visita de um Papa a Kinshasa. O Santo Padre é aguardado por um país com cerca de 52 milhões de católicos. A mensagem será de "paz" e "perdão" pela guerra, dizem os especialistas.
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OPapa Francisco chega esta terça-feira (31.01) ao continente africano onde visitará a República Democrática do Congo (RDC) e o Sudão do Sul. A viagem que era para ter sido realizada o ano passado, mas que foi adiada por razões de saúde do sumo pontífice, de 86 anos, é aguardada em Kinshasa com muita expetativa.
"É uma grande alegria. Porque em toda a minha vida, nunca vi um Papa vir ao nosso país. Quero realmente vê-lo pessoalmente e participar na missa. Ainda não sei se todos terão acesso à cerimónia, mas o meu desejo é de lá estar para assistir à missa", diz Jean Marie Yenga, um vendedor ambulante de 35 anos.
Papa quer 'curar' feridas da guerra
Passaram já 37 anos desde a última visita de um Papa a Kinshasa. Na altura, quando a RDC era ainda conhecida como Zaire, João Paulo II encontrou-se com o ex-Presidente Mobutu Sese Seko. De lá para cá, a paz não regressou em muitas regiões. Só entre 1998 e 2007, 5,4 milhões de pessoas perderam a vida na sequência de conflitos e crises humanitárias.
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Para além da capital Kinshasa, o Papa Francisco queria também visitar Goma, a capital da província do Kivu do Norte, no leste do país. No entanto, a recente ofensiva do Movimento M23 não o permitiu. Ainda assim, e a cerca de 1.500 quilómetros de distância da zona em conflito, os seus discursos irão concentrar-se no leste do país. Francisco viaja para o Congo com uma mensagem de paz, segundo o diz embaixador do Vaticano no país, Ettore Balestrero.
"O Papa, e digo isto como amigo da RDC, quer consolar as pessoas que tanto sofreram nos últimos anos. Ele quer curar as feridas abertas pela violência, condenar as atrocidades e pedir a Deus perdão pelo sangue que foi e continua a ser derramado [no país]. O Papa quer ajudar os congoleses a virar a página", referiu.
"Guerra diz respeito a todos"
Christophe Lomami, presidente da comuna de Barumbu, em Kinshasa, acrescenta que, apesar dos conflitos no leste não afetarem diretamente a sua população, a "guerra diz respeito a todos".
"A resposta é a paz. O Papa vem com uma mensagem de paz. Haverá alguém neste mundo que possa recusar a paz? Saudamos o Papa com a sua mensagem de paz. A República Democrática do Congo, atualmente governada pelo Presidente da República, Félix Tshisekedi, precisa de paz”, frisou.
A RDC é um dos países mais católicos do mundo. Segundo as estatísticas do Vaticano, mais de 52 milhões de pessoas, cerca de metade da população, segue a Igreja Católica - que tem um importante papel na política, saúde e educação do país.
Esperança, paz e reconciliação na visita do Papa Francisco a Moçambique
O líder da Igreja católica foi recebido em festa pelo país inteiro. Mas houve críticas ao alegado aproveitamento político da visita em vésperas de eleições.
Foto: DW/M. Sampaio
Moçambique em festa
Volvidas mais de três décadas sobre a última visita de um Papa a Moçambique, esta quarta-feira, 4 de setembro, foi a vez do Papa Francisco levar aos moçambicanos uma mensagem de paz, justiça e reconciliação. Por poucos momentos, o país esqueceu as dificuldades políticas, económicas e sociais que atravessa para celebrar o sumo pontífice.
Foto: DW/M. Sampaio
Danças e cantares para o Papa
A festa começou logo à chegada do Papa Francisco no fim da tarde. Muitos moçambicanos têm esperança que o chefe da Igreja católica dê um novo ímpeto ao processo de reconciliação, numa altura em que o acordo de paz assinado entre a RENAMO e a FRELIMO há poucas semanas volta a ser posto em causa por milícias armadas.
Foto: DW/M. Sampaio
Aproveitamento político?
O Papa Francisco foi recebido com as devidas honras pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, mas dos partidos da oposição choveram críticas ao alegado aproveitamento político da visita pelo partido no poder, a FRELIMO. Tanto mais que o país está em vésperas de eleições gerais, marcadas para 15 de outubro.
Foto: DW/Ricardo Franco
Suspensão da campanha eleitoral
A campanha eleitoral em Maputo foi interrompida pela duração da visita. A decisão não convenceu os partidos da oposição. O porta-voz do MDM, Sande Carmona, levantou mesmo a suspeita de que a visita do Papa "seja uma oportunidade para a lavagem de dinheiro dos cofres do Estado, para financiar a campanha eleitoral da FRELIMO". A visita do Papa terá custado ao Estado o equivalente a 300 mil euros.
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo aos direitos humanos
A Amnistia Internacional (AI) pediu ao Papa que na sua deslocação a Moçambique aborde com o Presidente Nyusi a situação da violação dos direitos humanos. Uma carta subscrita pela AI e mais 11 organizações moçambicanas e internacionais expressa enorme preocupação "com a crescente intimidação e perseguição aos defensores dos direitos humanos, ativistas, organizações da sociedade civil e média"
Foto: DW/M. Sampaio
Nação abençoada
"Moçambique é uma nação abençoada e vós especialmente sois convidados a cuidar desta bênção", disse o Papa no seu primeiro discurso em Moçambique. Mas Francisco também frisou que "sem igualdade de oportunidades" não há paz duradoura. Francisco criticou "a pilhagem e espoliação" no país.
Foto: DW/Ricardo Franco
Encontro com os jovens de Moçambique
Jovens de todas as confissões foram convidados a encontrar-se com o Papa no Pavihão de Maxaquene em Maputo. O pavilhão encheu para escutar a mensagem de Francisco. Que foi clara: "Estejam atentos àqueles que querem dividir e fragmentar". Uma alusão também a movimentos obscuros de cariz islamita suspeitos de estarem na origem de violência no norte do país.
Foto: DW/M. Sampaio
Alegria ecuménica
Nas redes sociais circularam apelos de proveniência incerta contra a participação de jovens muçulmanos na festa em torno do Papa. Mas muitos muçulmanos foram ouvir a mensagem de paz e reconciliação que lhes foi igualmente dirigida. "A alegria de viver, como se pode sentir aqui, a alegria partilhada e celebrada, reconcilia", declarou Francisco.
Foto: DW/M. Sampaio
A 47ª visita do Papa ao exterior
Jorge Mário Bergoglio é o segundo Papa a escalar Moçambique depois de João Paulo II em 1988. O lema da visita é "Esperança, Paz e Reconciliação". Moçambique é o sétimo país que Francisco visita em 2018, e o 47° desde que chegou ao Vaticano em 2013. De Moçambique o líder católico segue para o Madagáscar e as Ilhas Maurícias.
Foto: DW/Ricardo Franco
Atentos às palavras do Papa
O Estádio Nacional do Zimpeto encheu na manhã de sexta-feira (06.09) para a celebração da missa e homilía pelo Papa Francisco. A missa, que colocou um ponto final na visita papal, foi celebrada no dia em que se assinala um mês da assinatura de um acordo de paz - o terceiro desde 1992 - entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo ao combate contra a corrupção e pela paz
Durante a homilía, o Papa Francisco fez um apelo para o combate à corrupção: "Moçambique possui um território cheio de recursos naturais e culturais", disse, mas apesar destas riquezas, "uma quantidade enorme de população vive abaixo do nível de pobreza". Numa alusão à situação de violência armada em Cabo Delgado, o Papa pediu ainda que se amem os inimigos, sem lhes responder com violência.