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Papa em Moçambique: Oposição contra aproveitamento político

5 de setembro de 2019

A RENAMO e o MDM e a sociedade civil moçambicana querem que o Papa Francisco discuta com Filipe Nyusi a violação dos direitos humanos no país e pedem que não se faça um aproveitamento político da visita.

Mosambik Maputo Papst Franziskus & Präsident Filipe Nyusi
Foto: Reuters/M. Hutchings

O Papa Francisco aterrou esta quarta-feira (04.09) na cidade de Maputo, one foi recebido com música e danças tradicionais no arranque de uma visita ao país onde vai manter um encontro de cortesia com o chefe do Estado, Filipe Nyusi, no Palácio da Ponta Vermelha, além de celebrar uma missa no Estádio Nacional do Zimpeto, esta sexta-feira (06.09), seu último dia de trabalho em Moçambique.

Sob o lema Esperança, Paz e Reconciliação, Jorge Mário Bergoglio, de seu nome completo, Papa Francisco é o segundo Papa a escalar Moçambique depois de João Paulo II em 1988. Moçambique é o sétimo país que Francisco visita em 2018, e o 47° desde que chegou ao Vaticano em 2013. 

A igreja Católica moçambicana considera este momento histórico para o país, e quer aproveitar a visita do "Santo" padre para fortalecer a reconciliação nacional, segundo disse em entrevista à DW África, Dom António Juliasse, bispo auxiliar de Maputo e porta-voz do conselho Episcopal de Moçambique.

"Este ato e reflexão é feito no âmbito da igreja, mas os nossos políticos participam nesta discussão e abrange toda a sociedade", afirma Juliasse, para quem "as palavras que o Papa Francisco vai pronunciar em Moçambique vão ter uma repercussão muito grande, para dar mais forças para que os moçambicanos continuem a buscar a reconciliação nacional".

Os partidos políticos da oposição e a sociedade civil moçambicana deixam, no entanto, um alerta contra o aproveitamento político da visita pelo partido no poder, a FRELIMO.

Na sua agenda, o Papa Francisco tem ainda encontro marcado com a juventude moçambicana - representada por diferentes congregações religiosas do país.

Recepção ao papa na Base Aérea de MaputoFoto: DW/M. Sampaio

Violação dos direitos humanos

A Amnistia Internacional pediu ao Papa que nesta sua primeira deslocação a Moçambique aborde com Filipe Nyusi a situação da violação dos direitos humanos. E o mesmo pedem os partidos da oposição moçambicana com assento no Parlamento – a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

José Manteigas é o porta-voz do principal partido da oposição moçambicana, a RENAMO: "Queremos que no nosso país vingue a democracia e o respeito pelos direitos fundamentais, por isso esse apelo da Amnistia Internacional é bem-vindo", disse Manteigas.

Por seu turno, o porta-voz do Conselho Episcopal de Moçambique, Dom António Juliasse defende que "não pode haver verdadeira paz, sem liberdade e sem justiça", considerou Juliasse acrescentando que "tudo que o Santo padre irá dizer sobre o bem-estar dos moçambicanos, também estará a falar sobre os direitos humanos. Nós esperamos que ele focalize-se  nestes assuntos".

Moçambicanos no aeroporto de Maputo à espera da chegada do Papa FranciscoFoto: DW/Ricardo Franco

Aproveitamento político

O MDM, na voz do seu porta-voz Sande Carmona, acusa o partido no poder, a FRELIMO, de transformar na visita de Papa num momento de auto-promoção e afirma mesmo que "há alguma tendência de tornar a visita do Papa uma oportunidade para a lavagem de dinheiro dos cofres do Estado, para financiar a campanha eleitoral da FRELIMO". Carmona considera que "existe uma roubalheira em nome da visita da Papa. A FRELIMO com certeza está a fazer desta visita um momento para a sua campanha eleitoral".

Papa em Moçambique: Oposição contra aproveitamento político

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A RENAMO, na voz de José Manteigas, apela à não partidarização da visita do Papa Francisco a Moçambique: "Os moçambicanos pela primeira vez vão receber o Santo padre como irmãos reconciliados e sem partidarizar a sua visita". 

Mas Caifadine Manasse, porta-voz da FRELIMO, diz não perceber como pode ser usada uma visita do Papa para se fazer propaganda política: "Não compreendo como pode se pensar isso, porque não se pode pensar que o fato de o Papa aceitar vir a Moçambique neste período seja por razões políticas e não sei como politicamente se aproveita um assunto destes", disse Manasse. "Estamos num momento de paz e temos que aproveitar este momento para a profundar a nossa reconciliação nacional", conclui.

Entretanto, o MDM diz que o seu braço juvenil foi excluído do encontro que o Papa vai ter com a juventude moçambicana, agendado para o princípio da tarde desta quinta-feira, no pavilhão do Maxaquene, na cidade de Maputo.

A igreja Católica responde às críticas, lembrando que a organização do encontro inter-religioso é da responsabilidade do Estado, através do Ministério da Justiça e Assuntos Constitucionais e Religiosos. E "se haverá alguma manobra política isto está fora daquilo que tem sido discutido", esclarece Dom Juliasse.

Papa Francisco chegou ontem à Maputo, por volta das 18:30 minutos locais, acompanhado por uma delegação de 50 integrantes entre Bispos, Cardeais e a guarda suiça. 

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