O Papa Francisco lançou um apelo à reconciliação durante uma missa campal no estádio do Zimpeto, um mês depois da assinatura do acordo de paz definitiva entre o Governo moçambicano e a RENAMO.
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Apesar da chuva e do frio, 80 mil pessoas foram até ao estádio nacional do Zimpeto, na cidade de Maputo, para participar na missa que marcou o final da visita de três dias do Papa Francisco a Moçambique.
Na hora da despedida, Francisco deixou uma mensagem de esperança: "Não há melhor maneira de guardar a esperança do que permanecer unidos, para que todos aqueles motivos que a sustentam se consolidem sempre mais num futuro de reconciliação e de paz em Moçambique", afirmou.
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A missa campal coincidiu com a passagem de um mês após a assinatura do acordo de paz e reconciliação definitiva entre o Governo moçambicano e o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
"É difícil falar de reconciliação quando ainda estão vivas as feridas causadas durante tantos anos de discórdias ou convidar a dar um passo de perdão que não signifique ignorar o sofrimento nem pedir que se cancele a memória ou os ideais", reconheceu o Papa durante a homilia.
"Mesmo assim, Jesus convida a amar e a fazer o bem. Isto é muito mais do que ignorar a pessoa que nos prejudicou", disse Francisco.
Pela reconciliação, contra a corrupção
O chefe da Igreja Católica lançou um forte apelo à reconciliação nacional, sublinhando que nenhum país tem futuro se prevalecer o ódio e o desejo de vingança. O Papa insistiu que o povo tem direito à paz e que a resposta à violência não está na violência.
"Mais do que dar soluções, as armas e a repressão violenta criam novos e piores conflitos. A equidade da violência é sempre uma espiral sem saída e o seu custo muito alto", alertou Francisco.
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Ainda durante a homilia, o Papa lamentou que, apesar de Moçambique ter um território cheio de riquezas, um grande número de pessoas vive abaixo do nível de pobreza.
"Por vezes, parece que aqueles que se aproximam com o suposto desejo de ajudar têm outros interesses. É triste quando isto se verifica entre irmãos da mesma terra que se deixam corromper. É muito perigoso aceitar que a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa. Que não seja assim entre vocês", apelou Francisco.
Primeiro-ministro: "Que a paz continue a prevalecer"
Para o padre Alberto Buque, as mensagens do chefe da Igreja Católica superaram aquilo que se esperava, pela sua forma didática e profunda, nas quais os moçambicanos se sentiram identificados: "Esta presença do Papa, que dá esta mensagem humana que nos incita para o bem, está além daquilo que se podia esperar, talvez, da parte de alguns."
Por seu turno, o primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário afirmou que a visita do Papa constitui um marco, e os moçambicanos sentem-se abençoados.
Papa encontra-se com jovens moçambicanos
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"Que a paz continue a prevalecer, e a cultura de perdão de homem para homem também continue, para que a reconciliação se faça", pediu o governante.
Já a presidente do Parlamento, Verónica Macamo, sublinhou como ganhos para o país a sensibilização de todos os moçambicanos de que devem estar juntos, unidos, harmonizados e contribuir não só com palavras, mas com ações.
"Ficou-me na mente aquela afirmação [do Papa] de que os políticos devem efetivamente esquecer as diferenças e lutar para fazer deste país um grande país, e que é necessário sempre estarmos atentos às descontinuidades", disse Macamo.
Antes de celebrar a missa, o Papa visitou no Zimpeto um centro de saúde do projeto "Dream", da Comunidade de Santo Egídio, para assistência gratuita a pessoas com HIV-SIDA.
O Papa deixou Maputo ao início da tarde de sexta-feira a bordo de um avião das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) com destino a Madagáscar para uma visita pastoral no quadro do périplo por três países africanos, que inclui ainda uma deslocação às Ilhas Maurícias.
Esperança, paz e reconciliação na visita do Papa Francisco a Moçambique
O líder da Igreja católica foi recebido em festa pelo país inteiro. Mas houve críticas ao alegado aproveitamento político da visita em vésperas de eleições.
Foto: DW/M. Sampaio
Moçambique em festa
Volvidas mais de três décadas sobre a última visita de um Papa a Moçambique, esta quarta-feira, 4 de setembro, foi a vez do Papa Francisco levar aos moçambicanos uma mensagem de paz, justiça e reconciliação. Por poucos momentos, o país esqueceu as dificuldades políticas, económicas e sociais que atravessa para celebrar o sumo pontífice.
Foto: DW/M. Sampaio
Danças e cantares para o Papa
A festa começou logo à chegada do Papa Francisco no fim da tarde. Muitos moçambicanos têm esperança que o chefe da Igreja católica dê um novo ímpeto ao processo de reconciliação, numa altura em que o acordo de paz assinado entre a RENAMO e a FRELIMO há poucas semanas volta a ser posto em causa por milícias armadas.
Foto: DW/M. Sampaio
Aproveitamento político?
O Papa Francisco foi recebido com as devidas honras pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, mas dos partidos da oposição choveram críticas ao alegado aproveitamento político da visita pelo partido no poder, a FRELIMO. Tanto mais que o país está em vésperas de eleições gerais, marcadas para 15 de outubro.
Foto: DW/Ricardo Franco
Suspensão da campanha eleitoral
A campanha eleitoral em Maputo foi interrompida pela duração da visita. A decisão não convenceu os partidos da oposição. O porta-voz do MDM, Sande Carmona, levantou mesmo a suspeita de que a visita do Papa "seja uma oportunidade para a lavagem de dinheiro dos cofres do Estado, para financiar a campanha eleitoral da FRELIMO". A visita do Papa terá custado ao Estado o equivalente a 300 mil euros.
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo aos direitos humanos
A Amnistia Internacional (AI) pediu ao Papa que na sua deslocação a Moçambique aborde com o Presidente Nyusi a situação da violação dos direitos humanos. Uma carta subscrita pela AI e mais 11 organizações moçambicanas e internacionais expressa enorme preocupação "com a crescente intimidação e perseguição aos defensores dos direitos humanos, ativistas, organizações da sociedade civil e média"
Foto: DW/M. Sampaio
Nação abençoada
"Moçambique é uma nação abençoada e vós especialmente sois convidados a cuidar desta bênção", disse o Papa no seu primeiro discurso em Moçambique. Mas Francisco também frisou que "sem igualdade de oportunidades" não há paz duradoura. Francisco criticou "a pilhagem e espoliação" no país.
Foto: DW/Ricardo Franco
Encontro com os jovens de Moçambique
Jovens de todas as confissões foram convidados a encontrar-se com o Papa no Pavihão de Maxaquene em Maputo. O pavilhão encheu para escutar a mensagem de Francisco. Que foi clara: "Estejam atentos àqueles que querem dividir e fragmentar". Uma alusão também a movimentos obscuros de cariz islamita suspeitos de estarem na origem de violência no norte do país.
Foto: DW/M. Sampaio
Alegria ecuménica
Nas redes sociais circularam apelos de proveniência incerta contra a participação de jovens muçulmanos na festa em torno do Papa. Mas muitos muçulmanos foram ouvir a mensagem de paz e reconciliação que lhes foi igualmente dirigida. "A alegria de viver, como se pode sentir aqui, a alegria partilhada e celebrada, reconcilia", declarou Francisco.
Foto: DW/M. Sampaio
A 47ª visita do Papa ao exterior
Jorge Mário Bergoglio é o segundo Papa a escalar Moçambique depois de João Paulo II em 1988. O lema da visita é "Esperança, Paz e Reconciliação". Moçambique é o sétimo país que Francisco visita em 2018, e o 47° desde que chegou ao Vaticano em 2013. De Moçambique o líder católico segue para o Madagáscar e as Ilhas Maurícias.
Foto: DW/Ricardo Franco
Atentos às palavras do Papa
O Estádio Nacional do Zimpeto encheu na manhã de sexta-feira (06.09) para a celebração da missa e homilía pelo Papa Francisco. A missa, que colocou um ponto final na visita papal, foi celebrada no dia em que se assinala um mês da assinatura de um acordo de paz - o terceiro desde 1992 - entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo ao combate contra a corrupção e pela paz
Durante a homilía, o Papa Francisco fez um apelo para o combate à corrupção: "Moçambique possui um território cheio de recursos naturais e culturais", disse, mas apesar destas riquezas, "uma quantidade enorme de população vive abaixo do nível de pobreza". Numa alusão à situação de violência armada em Cabo Delgado, o Papa pediu ainda que se amem os inimigos, sem lhes responder com violência.