Papa Francisco denuncia "colonialismo económico" na RDC
rl | com agências
1 de fevereiro de 2023
Recebido em Kinshasa por milhares de pessoas, o Papa apelou ao fim da exploração desenfreada dos recursos naturais em África e exigiu que os interesses estrangeiros parem de dividir a RDC.
Publicidade
De visita à República Democrática do Congo, o Papa Francisco apelou esta terça-feira (31.01) ao fim da exploração desenfreada dos recursos naturais em África. Recebido em Kinshasa por milhares de pessoas - naquela que é a primeira visita papal ao país nas últimas décadas - o chefe da Igreja Católica exigiu ainda que os interesses estrangeiros parem de dividir a RDC para seu interesse próprio.
"Há uma noção – que sai do inconsciente de tantas culturas e pessoas – que África deve ser explorada. Isso é terrível. A exploração política deu lugar a um 'colonialismo económico' e igualmente escravizador", afirmou perante oficiais do Governo e membros do corpo diplomático nos jardins do palácio nacional de Kinshasa. "O veneno da ganância manchou os diamantes [deste país] com sangue. Parem de sufocar África: não é uma mina a ser explorada, nem uma terra a ser saqueada", apelou.
Também em declarações no palácio presidencial, ao lado do Papa, o chefe de Estado do país, Felix Tshisekedi, criticou "o silêncio cúmplice" da comunidade internacional perante os ataques perpetrados no lestes do país por grupos terroristas "armados por potências estrangeiras".
"A hospitalidade que nos caracteriza tem sido destruída pelos inimigos da paz e grupos terroristas vindos de países vizinhos. Esta desgraça acontece hoje e há 30 anos numa parte do nosso território que é vítima de violência, onde os grupos, armados pelas potências estrangeiras ávidas dos minerais que existem no nosso subsolo, cometem, com o apoio direto do nosso vizinho Ruanda, crimes cruéis", acusou o Presidente congolês.
"Um genocídio esquecido"
Desde 1998 que o leste da RDC está mergulhado num conflito alimentado pelas milícias rebeldes e pelos ataques dos soldados do exército, apesar da presença da missão de paz das Nações Unidas no país (MONUSCO), com cerca de 14 mil efetivos mobilizados no terreno.
Publicidade
A ausência de perspetivas futuras e de alternativas e meios de subsistência no presente empurraram milhares de congoleses a pegar em armas e, segundo o Barómetro de Segurança de Kivu, o leste do país é um campo de batalha para pelo menos 122 grupos rebeldes.
O Presidente criticou que tudo isto "é favorecido pelo silêncio e pela inação da comunidade internacional", o que fez com que "mais de 10 milhões de pessoas tenham sido atrozmente privadas da vida, mulheres inocentes, e também grávidas, são violadas e esfaqueadas, rapazes e jovens são degolados e famílias inteiras ficam condenadas a viver em fuga, à procura da paz por causa das execuções cometidas por estes terroristas ao serviço de interesses estrangeiros".
Perante estas palavras, o papa Francisco também denunciou o que diz ser "um genocídio esquecido" na RDC. "Não podemos continuar assim, perante uma injustiça e este silêncio cúmplice da comunidade internacional", concluiu depois o Presidente do país africano.
Goma fora da agenda
A 40.ª viagem internacional de Francisco, de 86 anos, que se antevê como particularmente desafiante devido aos seus problemas de mobilidade, esteve agendada para julho do ano passado, mas uma dor no joelho provocou o seu adiamento e, desde então, a situação de segurança na região tornou-se mais complicada em ambos os países.
Nesta viagem ao continente africano, estava inicialmente planeada uma paragem na cidade de Goma, nesta região da RDC. No entanto, os recentes combates entre as forças governamentais e o movimento M23 impediram esta deslocação do Papa.
Em Kinshasa, a população tem esperança de que a vinda do Papa ao país traga "soluções". "Quando vi o Papa, vi o rosto da paz, e não chorei de sofrimento mas de alegria por ver o nosso Pai, um Pai que vem com muitas soluções, tanto para o leste do Congo, como para as congregações (igreja católica) e instituições. O Papa trouxe a paz", disse Regine Nsanga, residente em Kinshasa.
"Que o Papa acabe com todos os problemas que existem no Congo, fale com os políticos, fale com o M23. Obrigado, Papa Francisco!", agradeceu por sua vez Chimi Chabene, outro residente.
O Papa Francisco estará no continente africano durante sete dias. Para além da República Democrática do Congo, visitará ainda o Sudão do Sul.
Esperança, paz e reconciliação na visita do Papa Francisco a Moçambique
O líder da Igreja católica foi recebido em festa pelo país inteiro. Mas houve críticas ao alegado aproveitamento político da visita em vésperas de eleições.
Foto: DW/M. Sampaio
Moçambique em festa
Volvidas mais de três décadas sobre a última visita de um Papa a Moçambique, esta quarta-feira, 4 de setembro, foi a vez do Papa Francisco levar aos moçambicanos uma mensagem de paz, justiça e reconciliação. Por poucos momentos, o país esqueceu as dificuldades políticas, económicas e sociais que atravessa para celebrar o sumo pontífice.
Foto: DW/M. Sampaio
Danças e cantares para o Papa
A festa começou logo à chegada do Papa Francisco no fim da tarde. Muitos moçambicanos têm esperança que o chefe da Igreja católica dê um novo ímpeto ao processo de reconciliação, numa altura em que o acordo de paz assinado entre a RENAMO e a FRELIMO há poucas semanas volta a ser posto em causa por milícias armadas.
Foto: DW/M. Sampaio
Aproveitamento político?
O Papa Francisco foi recebido com as devidas honras pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, mas dos partidos da oposição choveram críticas ao alegado aproveitamento político da visita pelo partido no poder, a FRELIMO. Tanto mais que o país está em vésperas de eleições gerais, marcadas para 15 de outubro.
Foto: DW/Ricardo Franco
Suspensão da campanha eleitoral
A campanha eleitoral em Maputo foi interrompida pela duração da visita. A decisão não convenceu os partidos da oposição. O porta-voz do MDM, Sande Carmona, levantou mesmo a suspeita de que a visita do Papa "seja uma oportunidade para a lavagem de dinheiro dos cofres do Estado, para financiar a campanha eleitoral da FRELIMO". A visita do Papa terá custado ao Estado o equivalente a 300 mil euros.
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo aos direitos humanos
A Amnistia Internacional (AI) pediu ao Papa que na sua deslocação a Moçambique aborde com o Presidente Nyusi a situação da violação dos direitos humanos. Uma carta subscrita pela AI e mais 11 organizações moçambicanas e internacionais expressa enorme preocupação "com a crescente intimidação e perseguição aos defensores dos direitos humanos, ativistas, organizações da sociedade civil e média"
Foto: DW/M. Sampaio
Nação abençoada
"Moçambique é uma nação abençoada e vós especialmente sois convidados a cuidar desta bênção", disse o Papa no seu primeiro discurso em Moçambique. Mas Francisco também frisou que "sem igualdade de oportunidades" não há paz duradoura. Francisco criticou "a pilhagem e espoliação" no país.
Foto: DW/Ricardo Franco
Encontro com os jovens de Moçambique
Jovens de todas as confissões foram convidados a encontrar-se com o Papa no Pavihão de Maxaquene em Maputo. O pavilhão encheu para escutar a mensagem de Francisco. Que foi clara: "Estejam atentos àqueles que querem dividir e fragmentar". Uma alusão também a movimentos obscuros de cariz islamita suspeitos de estarem na origem de violência no norte do país.
Foto: DW/M. Sampaio
Alegria ecuménica
Nas redes sociais circularam apelos de proveniência incerta contra a participação de jovens muçulmanos na festa em torno do Papa. Mas muitos muçulmanos foram ouvir a mensagem de paz e reconciliação que lhes foi igualmente dirigida. "A alegria de viver, como se pode sentir aqui, a alegria partilhada e celebrada, reconcilia", declarou Francisco.
Foto: DW/M. Sampaio
A 47ª visita do Papa ao exterior
Jorge Mário Bergoglio é o segundo Papa a escalar Moçambique depois de João Paulo II em 1988. O lema da visita é "Esperança, Paz e Reconciliação". Moçambique é o sétimo país que Francisco visita em 2018, e o 47° desde que chegou ao Vaticano em 2013. De Moçambique o líder católico segue para o Madagáscar e as Ilhas Maurícias.
Foto: DW/Ricardo Franco
Atentos às palavras do Papa
O Estádio Nacional do Zimpeto encheu na manhã de sexta-feira (06.09) para a celebração da missa e homilía pelo Papa Francisco. A missa, que colocou um ponto final na visita papal, foi celebrada no dia em que se assinala um mês da assinatura de um acordo de paz - o terceiro desde 1992 - entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo ao combate contra a corrupção e pela paz
Durante a homilía, o Papa Francisco fez um apelo para o combate à corrupção: "Moçambique possui um território cheio de recursos naturais e culturais", disse, mas apesar destas riquezas, "uma quantidade enorme de população vive abaixo do nível de pobreza". Numa alusão à situação de violência armada em Cabo Delgado, o Papa pediu ainda que se amem os inimigos, sem lhes responder com violência.