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Para HRW, prisão de médico serve para silenciar críticas na Guiné Equatorial

8 de maio de 2012

Organização Human Rights Watch diz que julgamento que condenou médico a prisão não tem bases credíveis. Wenceslao Mansogo é do principal partido da oposição. Na foto, presidente Teodoro Obiang, no poder há quase 33 anos.

Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo
Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema MbasogoFoto: AP

A justiça da Guiné Equatorial condenou, na segunda-feira (07.05), o médico Wenceslao Mansogo a três anos de prisão, na sequência da morte de uma paciente durante uma cirurgia.

Wenceslao Mansogo é médico e considerado agora um preso de consciência pela organização Amnistia Internacional.

Está atrás das grades, no estabelecimento prisional de Bata, a capital económica da Guiné Equatorial que fica na parte continental do país, localizada entre Camarões e Gabão. Mansogo foi detido a 09.02, na sequência da morte de uma paciente durante uma cirurgia, na sua clínica privada naquela cidade.

A sentença, anunciada esta segunda-feira (07.05), condena Mansogo a três anos de prisão, ao pagamento de uma indemnização à família da vítima de 5 milhões de francos CFA (7.500 euros) e de 1,5 milhões ao Estado (2.300 euros), além de ficar impedido de exercer medicina durante a pena e de ter a sua clínica encerrada.

Membro da oposição

Mansogo, que é também crítico ao governo do país, foi acusado de negligência médica e de profanação de cadáver. Mas, mais tarde, um relatório médico terá concluído que não houve profanação e que a morte foi causada por um ataque cardíaco da paciente - o que iria contra a acusação de negligência.

Por isso, para a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, o julgamento é uma farsa, como disse o representante Reed Brody: "A condenação tem sido resultado de um processo judicial que é uma farsa, o que mostra que os partidos políticos estão totalmente hostilizados. É uma condenação que não resiste a uma análise séria e que devia ser anulada", acredita o jurista.

Wenceslao Mansogo é um ativista e responsável pelo dossiê de direitos humanos no principal partido da oposição do país, a Convergência para a Social Democracia, cujos membros são regularmente detidos e intimidados.

Nesse sentido, para a Human Rights Watch, a condenação de Mansogo é uma manobra para o governo do presidente Teodoro Obiang silenciar uma voz crítica. "É um julgamento claramente oportunista, destinado a afastar Mansogo do cenário político", afirma Brody. "Nós examinamos de perto o julgamento e a condenação não se justifica pelas circunstâncias da morte da paciente. Para nós, o governo de Obiang tem aproveitado as circunstâncias da morte dessa paciente para tomar represálias contra um dos principais críticos", explica.

Temor de represálias

A organização de defesa dos direitos humanos está também preocupada com possíveis represálias contra os advogados de Mansogo. Segundo a HRW, um deles tem sido, alegadamente, sucessivas vezes ameaçado pelo pai da paciente que perdeu a vida durante a cirurgia; o outro tem visto ameaçada a sua licença para praticar advocacia por causa dos argumentos críticos contra o governo que usou em tribunal.

Os advogados vão recorrer da sentença. Reed Brody, da Human Rights Watch, não baixa os braços mas reconhece que será difícil a justiça voltar atrás, pois o sistema jurídico da Guiné Equatorial não é independente. Os tribunais, segundo Brody, "têm intervenção direta do presidente para proteger os seus interesses pessoais. Os advogados que têm sido ativos em direitos humanos têm sido hostilizados. E o presidente, pela Constituição, tem um controlo quase total, é o presidente do Conselho Supremo de Magistratura e nomeia os outros membros", diz o advogado norte-americano.

A HRW ainda citou que a International Bar Association, que representa os advogados de todo o mundo, considerou, após uma visita à Guiné Equatorial em 2003, que os tribunais não são independentes nem imparciais.
Mansogo já escreveu uma carta a pedir ajuda à UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Sem água e sem eletricidade

Neste momento, Mansogo está na prisão de Bata, onde não existe água canalizada ou própria para consumo, a eletricidade é esporádica e a comida inadequada.

Apesar de o tribunal ter garantido direito total de visitas, o médico só teve ainda permissão para receber os seus advogados e a esposa. Além disso, a 18.04, agentes policiais entraram na sua cela e confiscaram bens como computador, livros, rádio e canetas.

Segundo especialistas, a Guiné Equatorial regista elevados níveis de corrupção e fracas condições socioeconómicas, apesar de possuir um dos mais elevados Produtos Internos Brutos do mundo.

Este episódio belisca o respeito pelos Direitos do Homem, condição que é considerada essencial para a adesão à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), à qual o país de Teodoro Obiang deseja há muito poder integrar.

Autora: Glória Sousa
Edição: Renate Krieger / António Rocha

Unidade de gás liquefeito próxima à capital Malabo; riqueza em recursos transformou país no terceiro produtor de petróleo da África Subsaariana em 2008Foto: Renate Krieger
Apesar do alto PIB per capita, população Guiné Equatorial não reflete riqueza do petróleoFoto: Renate Krieger

08.05.12 HRW - Guiné Equatorial/ Mansogo - MP3-Mono

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