É como a presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique descreve a atuação da polícia, desde que começaram os protestos contra os resultados das eleições gerais.
O candidato presidencial independente Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido PODEMOS, autoproclamou a sua vitória na eleição presidencial com base nessas contagens. Ao mesmo tempo, a oposição em bloco e observadores eleitorais apontaram irregularidades graves no escrutínio, mesmo depois da Comissão Nacional de Eleições ter anunciado a vitória da FRELIMO e do seu candidato presidencial, Daniel Chapo, na semana passada.
Os protestos nas ruas – convocados por Mondlane – têm sido reprimidos pela polícia com gás lacrimogéneo e tiros. Há relatos de que os agentes têm usado balas reais.
Ferosa Zacarias, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique, diz que a polícia não está a cumprir o seu dever de proteger o povo. Pelo contrário, "a polícia age de forma desumana".
"Parece que estamos num momento de guerra ou a lidar com seres que não são semelhantes a eles. É de extrema preocupação. E isso parece que acontece por conta da irresponsabilidade com que tem se norteado quando estamos diante de situações dessas dos direitos fundamentais dos cidadãos, principalmente quando tem a ver com o exercício da liberdade a manifestação," acrescenta Zacarias.
"Esse assunto precisa de ser tratado e olhado aqui, de forma doméstica, e nós já estamos a contribuir", garante.
O ativista social e defensor dos direitos humanos Abudo Gafuro afirma ser inaceitável que os moçambicanos estejam a passar por esse tipo de violência.
"Não pode ser de hábito e costume que, após as eleições, haja sempre violações dos direitos humanos", critica.
Para Abudo Gafuro, a solução passa por uma repetição do escrutínio.
Publicidade
Ajuda de fora
O partido PODEMOS recorreu, na segunda-feira (28.10), ao Conselho Constitucional contra os resultados das eleições gerais anunciados pela CNE, na semana passada. Apresentou os resultados que apurou da contagem paralela que fez com base em atas e editais recolhidos nas mesas de voto.
O ativista Abudo Gafuro pede ajuda à comunidade internacional:
"Nesse momento, a comunidade internacional deve saber como entrar para a sua mediação tendo em vista a recontagem dos editais verdadeiros e originais, para que as eleições sejam anuladas e haja uma segunda volta," apela.
A pressão externa também pode ajudar a evitar mais abusos pela polícia, acrescenta Ferosa Zacarias, da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique: "Porque Moçambique, quando há situações gritantes noutros países africanos ou no resto do mundo, nós como ativistas e órgãos [não-]governamentais, nos posicionamos."
"E precisamos de sentir ainda mais essa comoção internacional", conclui.
Eleições gerais em Moçambique: Resultados "depenantes" nas províncias
Candidato presidencial da FRELIMO prometeu resultados "depenantes", e é isso que mostram os dados divulgados pelos órgãos eleitorais nas províncias. Chapo venceu, RENAMO e MDM caíram, mas Venâncio Mondlane virou o jogo.
Foto: Zinyange Auntony/AFP
Nampula: Chapo e FRELIMO conquistam maior círculo eleitoral do país
O candidato presidencial Daniel Chapo e a FRELIMO venceram as eleições gerais na província de Nampula, o maior círculo eleitoral do país, segundo a Comissão Provincial de Eleições. Chapo obteve cerca de 60% dos votos, seguido de Venâncio Mondlane, com cerca de 25%. Em terceiro lugar ficou Ossufo Momade, com quase 12%, e por último Lutero Simango, com cerca de 3% dos votos.
Foto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images
Beira: Venâncio Mondlane vence no bastião do MDM
Segundo dados provisórios da comissão distrital de eleições, o candidato independentente apoiado pelo PODEMOS, Venâncio Mondlane, venceu as eleições presidenciais na cidade da Beira com 76.140 votos. Daniel Chapo, da FRELIMO, obteve 64.647 votos. Lutero Simango arrecadou 27.315 votos na única autarquia liderada pelo MDM em todo o país. Ossufo Momade, da RENAMO, contou com 3.625 votos.
Foto: Romeu da Silva/DW
Sofala: Chapo na frente, Momade em último
Ossufo Momade, da RENAMO, ficou em último lugar nas presidenciais em Sofala, com 3,25% dos votos, segundo a CPE de Sofala. Daniel Chapo, da FRELIMO, venceu na província do centro de Moçambique com 65,54% dos votos. Venâncio Mondlane obteve 24,27% e Lutero Simango ficou com 6,94% dos votos.
Foto: Amos Zacarias/DW
Cidade de Maputo: Chapo e FRELIMO vitoriosos, Simango novamente em último
Segundo a CPE, Daniel Chapo foi o vencedor das presidenciais na cidade de Maputo com 53,68% dos votos. Seguiu-se Venâncio Mondlane com 33,84%. Ossumo Momade ficou em terceiro, com 9,62% dos votos, e Lutero Simango ocupa o quarto lugar, com 2,86% dos votos. Nas legislativas, a FRELIMO venceu com 57,78% dos votos, seguindo-se o PODEMOS com 20,53%, a RENAMO com 12,62% e o MDM com 6,34%.
Foto: Nádia Issufo/DW
Província de Maputo: Chapo à frente com 55%, segurança nas ruas
O candidato da FRELIMO, Daniel FRELIMO, lidera a contagem dos votos na província de Maputo, com 53,68%. Venâncio Mondlane, apoiado pelo PODEMOS, é o segundo candidato mais votado (33,84%), de acordo com os dados do apuramento parcial avançados pelos órgãos eleitorais. O clima de tensão cresce com a forte presença policial.
Foto: Roberto Paquete/DW
Zambézia: "Vitória depenante" de Chapo e da FRELIMO
Na Zambézia, 66,59% dos eleitores abstiveram-se de votar. Daniel Chapo venceu as presidenciais com 73% dos votos. Venâncio Mondlane obteve 14,17% dos votos, Ossufo Momade recebeu 9,82% dos votos e Lutero Simango obteve 3%. Nas legislativas, a FRELIMO saiu vitoriosa com 73,09% dos votos, seguida da RENAMO que obteve 14,99%. O PODEMOS conquistou 7,54% dos votos e o MDM teve 2,18% dos votos.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Manica: Vitória expressiva de Daniel Chapo, Simango com menos de 3% dos votos
Em Manica, Daniel Chapo conquistou cerca de 66% dos votos para Presidente e a FRELIMO obteve cerca de 67% dos votos para a Assembleia da República. Venâncio Mondlane alcançou cerca de 24% dos votos presidenciais, seguido de Ossufo Momade, com 6%. Lutero Simango ficou com 2,64%. Entretanto, a oposição rejeita os resultados, alegando fraude, e exige a repetição das eleições.
Foto: Bernardo Jequete/DW
Cabo Delgado: Chapo e FRELIMO vencem com folga
Em Cabo Delgado, Daniel Chapo venceu com 65,81% dos votos, seguido pelo candidato independente apoiado pelo PODEMOS, Venâncio Mondlane, com 22,64%. Ossufo Momade, da RENAMO, obteve 7,56% e Lutero Simango 3,99% dos votos. Na votação para as legislativas, a FRELIMO obteve 66,44% dos votos, seguida pelo PODEMOS com 14,58%. A RENAMO obteve 8,69% e o MDM 3,14% dos votos.
Foto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images
Inhambane: Chapo vota, vence e mais de metade abstém-se
Segundo a CPE, 56,80% dos eleitores de Inhambane abstiveram-se de votar nas eleições gerais. Daniel Chapo, da FRELIMO, venceu as presidenciais com 73,16% dos votos. Venâncio Mondlane, apoiado pelo PODEMOS, ficou em segundo com 19,86%. Ossufo Momade, da RENAMO, foi o terceiro candidato mais votado em Inhambane com 3,68% dos votos, seguido de Lutero Simango, do MDM, que obteve 3,31% dos votos.
Foto: Mozambique Liberation Front/AFP
Vitória esmagadora de Chapo em Tete
De acordo com os resultados parciais divulgados pela CPE de Tete, o candidato da FRELIMO, Daniel Chapo, venceu as presidenciais de 9 de outubro com esmagadores 84,42% dos votos. Venâncio Mondlane, apoiado pelo PODEMOS, ficou em segundo lugar, com 10,84%. Ossufo Momade, da RENAMO, obteve 2,91% dos votos e Lutero Simango, do MDM, 1,83%.
Foto: Jovenaldo Ngovene/DW
Momade em último lugar na província de Gaza
Na província de Gaza, o candidato presidencial do maior partido da oposição em Moçambique, Ossufo Momade, não passou dos 9.288 votos, anunciou a Comissão Provincial de Eleições. Daniel Chapo, da FRELIMO, foi quem ganhou na província, ainda segundo a CPE, com 487.275 votos. Venâncio Mondlane ficou em segundo lugar (66.071 votos) e Lutero Simango em terceiro (13.404 votos).