Em Maputo, presidente do Parlamento suíço poderá tentar minimizar danos da ação do Estado moçambicano contra o Credit Suisse no âmbito das dívidas ocultas, acredita economista. Mas o Idai é motivo da visita de Carobbio.
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A solidaridedade para com as vítimas do ciclone Idai terá sido o motivo que levou a presidente do Conselho Nacional Suíço, o Parlamento, a visitar Moçambique - segundo a narrativa oficial das autoridades suíças. Mas acredita-se que as dívidas ocultas poderão ser, na verdade, o principal tema de agenda de Marina Carobbio. Afinal, o Credit Suisse, envolvido em subornos no caso das dívidas, é um banco suíço.
Em Maputo, a presidente do Parlamento suíço poderá tentar minimizar os danos da ação civil do Estado moçambicano contra o Credit Suisse no âmbito das dívidas ocultas, acredita o economista Muzila Nhansal, ouvido pela DW África. Já o especialista em direito internacional espera que o país helvético anuncie a promoção da participação da sociedade civil moçambicana no processo judicial nos EUA.
"Certa curiosidade"
Segundo o especialista em direito internacional Andre Thomashausen, há uma certa curiosidade pelo pronunciamento de Carobbio nesta visita. Segundo o mesmo, "até é possível que o país mais afetado neste escândalo, que é a Suiça - onde nasce essa conspiração louca essencialmente de um furto de cerca de dois mil milhões de euros -, que esse país possivelmente se interesse e promova uma participação da sociedade civil, das ONGs de Moçambique no processo nos EUA."
Três ex-altos funcionários do Credit Suisse já estão detidos em conexão com o caso, no âmbito de uma acusação norte-americana. E os ilícitos relativos aos empréstimos concedidos por este banco levaram o Estado moçambicano, através da Procuradoria-Geral da República (PGR), a processar no começo de 2019 o Credit Suisse em Londres, a praça financeira onde foi orquestrada a engenharia financeira das dívidas.
Esta ação cível do Estado moçambicano estaria a causar alguma preocupação às autoridades suíças, entende o economista Muzila Nhansal, que por isso não vê com surpresa a visita da líder Carobbio. "Isto no fundo vai criar uma bola de neve. Não só no sistema financeiro suíço, mas também mundial sobre as más práticas dentro do sistema financeiro. É natural que o Governo suíço esteja preocupado com o que possa acontecer com o seu banco", explica o economista.
Credit Suisse
"Basta ver o que significa o Credit Suisse no sistema financeiro mundial. Não falo só do sistema suíço, mas também mundial, e daquilo que representa a Suíça no próprio sistema internacional. É normal que haja essa preocupação, qualquer Governo se preocupa com as empresas do seu país, fazendo bem ou mal, é dever dele no mínimo defender ou saber o que aconteceu de forma a controlar os danos que isso possa causar", acrescenta Nhansal.
Parlamentar suíça em Moçambique: Chang ou dívidas ocultas?
Muzila Nhansal lembra que a economia suíça, considerada uma das mais fortes da Europa, também está baseada na intermediação financeira através das facilidades que fornece, ao ser, por exemplo, uma autêntica lavandaria de dinheiro e por dar as cartas no que se refere às normas finaceiras internacionais.
Embora o economista ressalve a distinção entre o Estado e o privado, deixa claro que as autoridades suíças devam salvaguardar as suas bases de apoio. E, questionado sobre qual seria a abordagem da presidente do Parlamento helvético junto do Governo moçambicano, Muzila Nhansal responde:
"Não sei, mas normalmente o que se tenta fazer nestas situações é negociar o relaxamento das acusações, negociar um acordo fora dos tribunais ou outra saída que minimize os danos - de imagem ou para o próprio país. Sabemos que as ações cíveis levam muito tempo e isso naturalmente desgasta as instituições e o seu bom nome."
Marina Carobbio iniciou uma visita de dois dias a Moçambique nesta quarta-feira (10.4) e encontrou-se com o Presidente da República, Filipe Nyusi, com a presidente do Parlamento moçambicano, Verónica Macamo, e os chefes das três bancadas; FRELIMO, RENAMO e MDM.
Ciclone Idai: Onda de solidariedade alemã para com Moçambique
Na Alemanha, o ciclone Idai provocou uma onda de solidariedade. O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Organizações humanitárias e igrejas cristãs pedem donativos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Cruz Vermelha Alemã: Unidade sanitária móvel para a Beira
A cidade da Beira vai receber uma unidade sanitária móvel para 20.000 pessoas e um sistema de água potável para fornecer 15.000 pessoas, anunciou a Cruz Vermelha Alemã (DRK). Esta organização que coopera com a Cruz Vermelha de Moçambique já conseguiu angariar em termos de donativos individuais 50.000 euros até ao momento. A recolha de fundos ainda está activa.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Cruz Vermelha Alemã: Já esteve ativa na prevenção
Ainda antes do ciclone Idai atingir o território moçambicano houve uma campanha de prevenção para ajudar a população a enfrentar o ciclone. Foram distribuídos comprimidos para purificar a água e kits de primeiros socorros. Além desta ajuda também foram fornecidos cobertores, lonas, colchões e utensílios de cozinha.
Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi
Caritas Alemanha: distribui alimentos
A Caritas alemã, organização da igreja católica, pede donativos no seu site e também já está em Moçambique. Um dos parceiros locais em Moçambique é a Associação Esmabama. Têm distribuído na Beira alimentos como farinha, feijão e óleo para cozinhar e água potável. Também distribuíram produtos de primeira necessidade como roupa, cobertores, sabonetes, kits de primeiros socorros e baldes.
Foto: Caritas International
Diocese de Friburgo: donativo de 100.000 euros
O bispado de Friburgo no sudoeste da Alemanha fez um dos maiores donativos. Deram cem mil de euros à Caritas para ajudar as vítimas do ciclone. "As notícias que nos chegam dos nossos parceiros locais em Moçambique são dramáticas", disse Oliver Müller, director da organização de ajuda da Caritas. Disse que estão a fornecer "alimentos, água potável, artigos de higiene, cobertores e vestuário".
Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger
Diakonie Katastrophenhilfe: cooperação com igrejas em Moçambique
A Diakonie Katastrophenhilfe, a organização de ajuda de emergência da igreja luterana, foi uma das primeiras ONGs a fazer apelos a donativos logo após o ciclone e já conseguiu angariar 100.000 euros. Em conjunto com a CEDES, Comité Ecuménico para o Desenvolvimento Social, tem dado apoio em várias regiões de Moçambique. A ajuda alimentar desta organização já chegou a 50.000 moçambicanos.
Foto: Diakonie Katastrophenhilfe
Igrejas: colheita de donativos
Foram muitas paróquias que dedicaram as colheitas das missas de domingo às vítimas do ciclone em Moçambique. Uma delas foi esta igreja católica reformada de Colónia, a Christi Auferstehung (Alt-Katholische Kirche Deutschlands). O pastor pediu aos fiéis uma ajuda generosa que iria reverter a favor da campanha da Diakonie Katastrophenhilfe.
Foto: DW/J. Beck
Igrejas: Informação sobre a situação em Moçambique
Na porta da igreja, foi afixado um cartaz com informações detalhadas sobre a situação no centro de Moçambique. Destaque para a cidade da Beira e as destruições causadas na província de Sofala. O cartaz lembra a necessidade de apoiar as vítimas que perderam quase tudo.
Foto: DW/J. Beck
Diakonie Katastrophenhilfe: prioridade assegurar água potável
Uma das principais prioridades da Diakonie Katastrophenhilfe é garantir que haja água potável. Nesse sentido já foram distribuídos medicamentos para purificar a água. O director responsável de África da Diakonie Katastrophenhilfe, Kai M. Henning garante o seguinte, “agora temos de sobretudo fornecer água potável às pessoas, há um grande risco das águas ficarem contaminadas e espalharem doenças.”
Foto: DW/B. Jequete
Action Medeor: foco em medicamentos
“A logística para a área do desastre é difícil porque grande parte das infra-estruturas da região foram destruídas pelo ciclone", relata Bernd Pastors. A fim de poder levar rapidamente os medicamentos para a zona sinistrada, a Action Medeor está a processar as entregas de ajuda urgentemente necessárias através das filiais na Tanzânia e no Malawi.
Foto: Action Medeor
Action Medeor e DMG: parceria com a Universidade Católica
Juntamente com a Sociedade Alemã-Moçambicana (Deutsch-Mosambikanische Gesellschaft - DMG), a Action Medeor está a preparar ajuda médica para a Universidade Católica de Moçambique na Beira. Os doentes da cidade mais gravemente afectados pelo ciclone podem ser tratados através do centro de saúde associado.
Foto: DW/J. Beck
UNICEF Alemanha: foco na educação
O comité nacional da UNICEF, a organização educacional das Nações Unidas, juntou-se ao apoio das vítimas do ciclone. Cerca de 2.600 salas de aulas foram destruídas (foto de escola na Beira) durante o ciclone e há uma grande preocupação em recuperar as escolas rapidamente. Será uma das tarefas principais da UNICEF em Moçambique.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hadebe
Ordem de Malta Internacional: equipa de ajuda no local
Uma equipa da Ordem de Malta Internacional da Alemanha (Malteser International) já viajou para Moçambique para prestar socorros urgentes (foto simbólica). "A situação é confusa. ... As infra-estruturas do país estão muito danificadas e estamos numa corrida contra o tempo", diz Oliver Hochedez, Chefe de Ajuda de Emergência da Ordem de Malta Internacional.
Foto: DW/B. Jequete
Technisches Hilfswerk: 5.000 litros de água por hora
A agência estatal da Alemanha de ajuda técnica, Technisches Hilfswerk (THW), enviou uma equipa a Nhangau, nos arredores da Beira. Na quinta-feira (28.03), já conseguiu instalar uma unidade móvel que fornece 5.000 litros de água potável por hora. "Os 30 poços da região estão contaminados com bactérias de diarreia", conta Jens-Olaf Knapp, que lidera a equipa do THW na província de Sofala.
Foto: THW/Jörg Eger
Technisches Hilfswerk: escola com água saudável
Os responsáveis do THW, que na sua maioria costumam ser voluntários alemães, relatam que ficaram muito contentes com a reação da população local de Nhangau após a instalação da central de água. "Um passo muito importante para manter as crianças saudáveis", comentou Esmeralda Basela, a diretora da escola local, onde foi instalada a unidade móvel de água do THW.