Deputados britânicos decidem esta terça-feira se aceitam o acordo proposto pelo Governo de Theresa May para a saída do Reino Unido da União Europeia. Tudo está em aberto e os cenários possíveis são vários.
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A votação sobre o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia devia ter acontecido a 11 de dezembro, mas a primeira-ministra Theresa May decidiu adiá-la por ser quase inevitável, na altura, o chumbo do documento.
Sensivelmente um mês depois, terá May conseguido convencer os deputados britânicos de que este é o melhor acordo possível? Os observadores acreditam que não, ou seja, que esta terça-feira (15.01), a primeira-ministra não reunirá, em Londres, os 320 votos de que precisa.
Ainda assim, na véspera da votação, Theresa May instou os deputados a aprovar o acordo com Bruxelas.
"Desafio os membros de todas as alas do Parlamento, independentemente da posição que defenderam até agora, para, nestas próximas horas, darem uma segunda olhadela neste acordo", afirmou May. "Não, não é [um acordo] perfeito. E sim, é um compromisso, mas, quando os livros de História forem escritos, as pessoas olharão para a decisão desta Assembleia e perguntarão: 'cumprimos a vontade do país de deixar a União Europeia e protegemos a nossa economia, segurança e a nossa união ou dececionámos o povo britânico?'"
Votação histórica e difícil
Theresa May apresentou ainda aos deputados as "garantias adicionais" dadas esta segunda-feira pela União Europeia acerca da fronteira da Irlanda do Norte com a Irlanda, o ponto mais sensível deste acordo.
Na véspera da votação, os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu dirigiram uma carta a Londres na qual reafirmaram que, se porventura o chamado "backstop" fosse alguma vez ativado, seria "apenas de forma temporária", até as partes chegarem a um acordo definitivo. O "backstop" foi a solução provisória encontrada por ambas as partes - Reino Unido e União Europeia - para manter a região britânica alinhada com as regras do mercado único europeu.
No entanto, e segundo admitiu a própria primeira-ministra britânica, os esclarecimentos de Bruxelas "não foram tão longe como alguns deputados gostariam".
Humor: O ministro diz: Bem-vindo à África!
01:22
Novas eleições e "exit" do Brexit?
O líder do partido Trabalhista, por exemplo, desvalorizou a carta de Bruxelas, dizendo que é mais do mesmo. Jeremy Corbyn frisou que "o Governo está em desordem" e que espera que, "se o acordo da primeira-ministra for rejeitado, tenham lugar eleições gerais."
"É hora de um novo Governo", defendeu Corbyn.
Se o acordo for rejeitado, Theresa May tem três dias para apresentar um "plano B".
A governante disse anteriormente que, mesmo que vença o não, o Reino Unido sairá da União Europeia, mas sem acordo. Não se sabe se, neste caso, Theresa May se demitiria da liderança do Partido Conservador.
Mas, caso vença o não, Jeremy Corbyn certamente não facilitará a vida da primeira-ministra.
Parlamento britânico vota acordo sobre o Brexit
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O líder do Partido Trabalhista já deixou clara a sua intenção de apresentar uma moção de censura contra o Governo, que, caso seja aprovada, abre espaço a novas eleições. E neste cenário, admitiu também Corbyn, a probabilidade do Brexit ser adiado é grande.
Cerca de cem eurodeputados fizeram saber, esta segunda-feira, que estão disponíveis para "apoiar o Reino Unido caso o país decida suspender o pedido de ativação do artigo 50 feito ao Presidente do Conselho Europeu".
De acordo com estes deputados, e como tem vindo a ser defendido por muitos analistas, o pior que pode acontecer é uma saída do Reino Unido do bloco sem acordo. Por esse motivo, acrescentam, "qualquer decisão britânica de permanecer na União Europeia será bem-vinda" no Parlamento Europeu.
No entanto, e confrontado pelos jornalistas em Bruxelas sobre o que aconteceria se Londres pedisse um adiamento da sua saída do bloco para julho, o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, disse que não entraria em especulações sobre cenários que não contemplem o acordo que está em cima da mesa.
"Recebemos uma carta da primeira-ministra britânica anunciando a saída do Reino Unido a 29 de março", sublinhou. Essa data mantém-se.
Bienvenu à Matonge: um pedaço de África em Bruxelas
Bruxelas é a capital da União Europeia - e lar de cerca de 100 mil africanos. No colorido bairro de Matonge, eles vivem um pouco como na terra natal, a República Democrática do Congo (RDC).
Foto: DW/E. Shoo
Kinshasa na Bélgica
Cerca de 100 mil pessoas com raízes africanas vivem em Bruxelas, o que é quase 10% da população da capital da Bélgica. A maioria veio das ex-colónias belgas - República Democrática do Congo e Ruanda. Outros, de países do Oeste Africano - como Senegal, os Camarões e Burkina Faso. Todos eles encontram um pedaço de casa em Matonge, que é também o nome de um bairro da capital do Congo, Kinshasa.
Foto: DW/E. Shoo
Vestidos para ocasiões especiais
Pode-se comprar de todas as cores e modelos: tecidos de algodão para casamentos ou festas religiosas. Mesmo as europeias compram aqui e apreciam as opções coloridas. Em muitas lojas, a proprietária corta o modelo desejado na hora. Porém, os tecidos não são provenientes do Gana ou do Congo, mas da Holanda. "Eles têm uma melhor qualidade", diz uma vendedora.
Foto: DW/E. Shoo
Cabelos do Brasil, da Índia e da China
Perucas, tranças, cosméticos. Em Matonge, estão os especialistas em cabelos crespos. É lá que as mulheres de ascendência africana vão buscar seu novo visual - do mais simples ao mais complexo. As extensões de cabelo e perucas variam consideravelmente em qualidade e preço. Mechas de cabelo artificial podem custar a partir de 10 euros. Uma peruca feita de cabelo brasileiro pode valer até 300 euros.
Foto: DW/E. Shoo
Bate-papo em Matonge
Também os homens vêm a Matonge. Emmanuel sempre recebe aqui o seu novo corte de cabelo. Ele vem de Kinshasa, e em Matonge ele se sente um pouco como em casa. "Sempre encontro conhecidos aqui," diz. Por um novo visual, os pagam menos que as mulheres - o corte de cabelo custa a Emmanuel apenas oito euros.
Foto: DW/E. Shoo
Ligação com África
As lojas em Matonge se adaptaram às necessidades dos seus clientes africanos. Especialmente populares são as lojas de telefonia que oferecem chamadas de baixo custo para a terra natal. Além disso, se instalaram aqui prestadores de serviços financeiros que ganham bastante com os muitos africanos que transferem parte de seu salário para a família em África.
Foto: DW/E. Shoo
Pequenos presentes de África
Quem procura um presente colorido de África na cinzenta Bruxelas, vai encontrá-lo aqui. A variedade na loja Afrikamäli (ou "Tesouros de África", na tradução literal) vai de brincos e colares a castiçais e cestos. Os produtos provêm de países como o Quénia, a África do Sul, Moçambique, Burkina Faso e Mali. Em Matonge, muitos comerciantes mantém uma ampla rede de fornecedores no continente africano.
Foto: DW/E. Shoo
Um ponto de encontro
A Associação Cultural Kuumba integra africanos e europeus. Há comida africana, bem como concertos, noites de cinema ou passeios guiados pelo bairro Matonge. Além do suaíli, fala-se especialmente o francês. Mas em Kuumba pratica-se também o holandês: o café cultural é apoiado em grande medida pela comunidade flamenga.
Foto: DW/E. Shoo
Construíndo pontes entre África e Europa
O café cultural Kuumba foi ideia de Jeroen Marckelbach. "Tudo começou, quando circulei de bicicleta de Matonge em Bruxelas a Matonge em Kinshasa em 2008", diz ele. "Eu queria fazer algo para melhorar a relação entre os africanos e os belgas. Eles se conhecem muito pouco. Por meio de cursos de línguas, arte e literatura, as culturas devem aprender uma com a outra."
Foto: DW/E. Shoo
Multicultural e multilingue
Em Matonge, encontram-se diferentes culturas e línguas. Muitos falam francês, alguns também inglês ou holandês. Alain Mpetsi, que nasceu no Congo, se beneficia da diversidade linguística. Ele fala cinco línguas e trabalha como intérprete. Além disso, ele também dá aulas de suaíli e lingala, duas das línguas mais importantes da República Democrática do Congo.
Foto: DW/E. Shoo
Tesouros culinários
A comunidade africana não vem a Matonge apenas para fazer compras. É igualmente importante encontrar-se para tomar uma cerveja e ouvir música africana, ou para comer. Vários restaurantes oferecem bebidas e pratos tradicionais de África. O restaurante Soleil d'Afrique (ou "Sol de África", na tradução literal) é um dos mais famosos em Matonge. Tanto moradores quanto turistas vêm aqui.
Foto: DW/E. Shoo
Banana cozida e mandioca
No cardápio, estão pratos como Mafe (carne com molho de amendoim), Yassa (carne marinada temperada), peixe e bolinhos recheados com legumes ou carne moída. Os pratos geralmente vêm da África Oriental e Ocidental. Como acompanhamento há, por exemplo, arroz ou banana frita. Em Matonge substituem as tradicionais batatas fritas da Bélgica.
Foto: DW/E. Shoo
Música congolesa ao vivo
Em Matonge, a música é omnipresente. Cantores, alguns deles estrelas na República Democrática do Congo, se apresentam em muitos restaurantes e bares africanos nos finais de semana. Também nas lojas e salões de cabeleireiros, ouve-se música por todo dia. Assim, Matonge traz um pedaço colorido da alegria de viver africana ao cotidiano de Bruxelas, no coração da Europa.