Parlamento da Turquia aprova envio de tropas para a Líbia
Lusa
3 de janeiro de 2020
Moção aprovada pelos deputados turcos permite ao Presidente Erdogan enviar militares para a Líbia para apoiar o governo de acordo nacional, reconhecido internacionalmente e em dificuldades face a um poderoso rival.
Publicidade
Segundo o presidente da Assembleia Nacional da Turquia, Mustafa Sentop, 325 deputados votaram a favor e 184 contra a moção, que dá ao exército turco um mandato para intervir na Líbia, válido durante um ano.
A moção foi aprovada com os votos do partido no poder, o islâmico Justiça e Desenvolvimento, e do seu parceiro de coligação Movimento Nacionalista (MHP). A oposição social-democrata, esquerdista e centrista votou contra.
O Parlamento da Turquia aprovou no passado dia 21 um acordo de cooperação militar e de segurança assinado com o governo de acordo nacional (GAN) a 27 de novembro, durante uma visita a Istambul do primeiro-ministro da Líbia, Fayez al-Sarraj.
O acordo permite às duas partes enviarem para o outro país pessoal militar e policial para missões de treino e formação. Erdogan disse o mês passado que Sarraj pediu o envio de tropas turcas.
O GAN está sediado em Tripoli, alvo desde abril de uma ofensiva do Exército Nacional Líbio do marechal Khalifa Haftar, homem forte do leste do país.
Salvaguarda dos interesses turcos
Existem preocupações de que as forças turcas possam agravar o conflito líbio, mas Ancara diz que o destacamento pode ser necessário para salvaguardar os interesses turcos na Líbia e no Mediterrâneo oriental.
A moção permite que o governo decida sobre o alcance, a força e o momento de qualquer missão das tropas turcas.
O vice-presidente turco, Fuat Oktay, disse à agência estatal Anadolu que a Turquia enviará "o número necessário (de militares) sempre que for necessário". Mas indicou também que a Turquia não enviará as suas forças se o rival de Sarraj parar a sua ofensiva.
A Líbia é palco de conflito, alimentado por potências regionais rivais, que destrói o país desde a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011.
O governo de Sarraj, reconhecido pelas Nações Unidas, enfrenta as forças de Haftar, que é apoiado por vários países como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Egito, três rivais regionais de Ancara.
Líbia à beira de uma crise de água
Devido ao petróleo, a Líbia já foi um dos países mais ricos de África, mas a intervenção militar internacional e a guerra civil mergulharam o país no caos. Muitos estão em risco de perder o acesso a água potável.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Necessidades básicas
A Líbia atravessa uma crise no seu sistema de saúde. As regiões ocidentais, em particular, estão a ficar sem água potável. 101 das 149 condutas do sistema de abastecimento de água foram já destruídas na sequência da situação caótica que o país vive.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Sistema de condutas de água deteriorado
O país é maioritariamente composto por deserto árido. Na década de 1980, ainda com o ditador Muammar Kadhafi no poder, foi construído um vasto e avançado sistema de condutas conhecido como o "Grande Rio Artificial da Líbia". Um projeto que levou o abastecimento de água potável a mais de 70% da população do país. No entanto, desde a queda de Kadhafi, o sistema tem sido danificado.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Guerra civil e caos
Desde a queda de Kadhafi, em 2011, após uma intervenção militar internacional liderada pelos EUA e a França, o país está mergulhado no caos. O Governo reconhecido pela comunidade internacional, com sede em Tripoli, é fraco e não controla grande parte do território líbio. Por seu lado, o General Khalifa Haftar e o seu autoproclamado Exército Nacional (LNA) controlam o leste do país.
Foto: AFP/M. Turkia
Alvo Tripoli
O LNA, em particular, tem utilizado o sistema de condutas de água para fazer exigências, colocando assim em perigo a população da Líbia. Em maio, as forças leais ao marechal Haftar obrigaram os trabalhadores do setor da água a cortar a principal conduta que abastecia a capital sitiada, Tripoli, durante dois dias. E exigiram que as autoridades libertassem um prisioneiro.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Água como arma de guerra
Mas não são apenas os grupos rebeldes que usam o sistema de abastecimento de água do país como moeda de troca para defender os seus interesses. Há também pessoas que desmontam bocas de poços para vender o cobre de que são feitas estas estruturas. As Nações Unidas já alertaram os diferentes lados do conflito para que não utilizem a água como arma de guerra.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Riscos para a saúde
Mostafa Omar, porta-voz da UNICEF para a Líbia, estima que, no futuro, cerca de quatro milhões de pessoas poderão ser privadas do acesso a água potável se não for encontrada uma solução para o conflito. A falta de água pode resultar em surtos de hepatite A, cólera ou outras doenças diarreicas.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Água imprópria para consumo
A juntar à escassez da água, está o problema da contaminação deste recurso em algumas áreas do país. A presença de bactérias ou um elevado teor de sal tornam a água imprópria para consumo. "De facto, muitas vezes, a água já não é potável", constata Badr al-Din al-Najjar, diretor do Centro Nacional de Controlo de Doenças da Líbia.