Parlamento Infantil moçambicano discute direitos da criança
Leonel Matias (Maputo) | Lusa
15 de agosto de 2017
Sob o lema "Só seremos o futuro do amanhã se nos deixarem sonhar", Assembleia da República recebe crianças de todas as províncias para debater temas que as afetam no dia-a-dia. É a sexta edição do evento.
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Cerca de 300 crianças participam na sexta sessão do Parlamento Infantil de Moçambique, que tem lugar esta terça e quarta-feira (15.08 e 16.08), em Maputo.
Saimone Sebastião, um dos participantes, diz que a intenção do encontro é discutir temas que afetam a vida das crianças com o Executivo moçambicano e os seus parceiros, já que elas têm a oportunidade de questionar membros da Assembleia e governantes. Entre os assuntos que preocupam as novas gerações estão os "casamentos prematuros, a gravidez precoce e o trabalho infantil", afirma Sebastião.
São questões também mencionadas pelo presidente do Parlamento Infantil, Dorico José. "Muitas são as crianças com deficiência, órfãos e vulneráveis, que sofrem com a exploração das piores formas de trabalho infantil, casamentos prematuros, que não têm a atenção e cuidados necessários e por isso não podem sonhar como nós", diz.
Parlamento Infantil moçambicano discute direitos da criança
O jovem Clintone Simbine, que também participa no encontro, alerta para as crianças de todo o país que são levadas para Maputo com a promessa de educação e habitação, mas "caem na escravidão - no trabalho que prejudica o seu bem-estar e desenvolvimento como crianças."
Trabalho infantil e casamento prematuro
Dados oficiais indicam que mais de um milhão de crianças moçambicanas estão sujeitas a trabalho infantil. O país tem uma das mais altas taxas de casamentos prematuros no mundo, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Na abertura do encontro, a presidente do Parlamento moçambicano, Verónica Macamo, prometeu que o órgão legislativo vai continuar a tomar medidas para a proteção infantil.
O facto de muitas crianças estudarem ao relento ou sentadas no chão por falta de carteiras, a insuficiência de professores formados em línguas gestuais e o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas nas escolas também foram temas debatidos no primeiro dia da sessão.
A sexta edição do Parlamento Infantil de Moçambique, cujo lema é "Só seremos o futuro do amanhã se nos deixarem sonhar", termina na quarta-feira (16.08).
Crianças moçambicanas: um olhar de Albino Moisés
As imagens do fotógrafo moçambicano Albino Moisés mostram crianças moçambicanas em vários momentos do dia – entre o divertimento e o trabalho infantil – e em várias regiões do país – de Maputo a Mocuba.
Foto: A.Moisés
O sorriso largo das crianças de Moçambique
No terminal dos transportes coletivos "chapas", na Junta em Maputo, uma jovem vende a um menino viajante fósforos para serem usados no abajur tradicional da casa dos avós. Os sorrisos largos estampados no rosto das crianças fazem parte do trabalho do fotógrafo moçambicano Albino Moisés. Em 2013, as suas fotografias foram expostas em Belo Horizonte, no Brasil.
Foto: A.Moisés
Ousadia na diversão
Mesmo em dias sem sol, jovens encontram oportunidade para se divertir com ousadia, como aqui na praia da Costa do Sol de Maputo. Com muita criatividade, jogos artísticos são feitos sem pensar no que pode acontecer.
Foto: A.Moisés
Trabalho infantil
Meninos ganham a vida empurrando a "txova", um carrinho de boi, com produtos de pequenos comerciantes na periferia de Maputo. Ao final do trabalho, ganham um refrigerante, que é dividido para todos do grupo. "Ato que vira uma festa", afirma o fotógrafo Albino Moisés.
Foto: A.Moisés
Concentração na brincadeira
Em meio a construções inacabadas, por falta de recursos, os pequenos abandonados se divertem como podem na areia das obras. Até desanimadas, as crianças, encontram força para brincar. A foto do Bairro Guava, na periferia da capital moçambicana Maputo, data de 2007.
Foto: A.Moisés
Pensando em dias melhores
O pai, portador de deficiência, com a cabeça baixa, pensativo, na companhia da sua filha. Os dois vendem cigarros na baixa da cidade de Maputo para sobreviver. É uma das fotos selecionadas por Rosália Diogo, a curadora brasileira da exposição em Belo Horizonte. Quando viveu em Maputo para escrever a sua tese de doutorado, ela se incomodou com as condições em que vivem as crianças moçambicanas.
Foto: A.Moisés
Trabalho infantil como um dever
A população de Mocuba tenta construir as suas próprias casas. As crianças também participam na fabricação de tijolos para erguer os seus lares, usando enxadas. A imagem é uma das várias fotografias que Albino Moisés tirou na província nortenha da Zambézia e também fez parte da exposição em Belo Horizonte intitulada "Mwana-Mwana: pérolas do Índico".
Foto: A.Moisés
A vida sempre em construção
Jovens ajudam na construção do teto da casa em Mocuba, na Zambézia. Mesmo com todas as dificuldades no dia-a-dia, especialmente pela desigualdade social, o tom da vida, em Moçambique, segundo o fotógrafo Albino Moisés é: "A nossa casa, nós construímos todos juntos".
Foto: A.Moisés
Um olhar distante, mas de esperança
A província de Zambézia tem maior tradição no uso de bicicletas em Moçambique. Aqui na cidade de Mocuba, "o menino já sonha em aprender, desde cedo, a montar uma bicicleta", diz o fotógrafo Albino Moisés. "O olhar da criança é sim incerto, mas de esperança", confirma.