Parlamento líbio aprova corte de relações com Turquia
Lusa
4 de janeiro de 2020
Decisão foi tomada, este sábado (04.01), numa sessão "urgente" do parlamento, na sequência do acordo de cooperação militar e de segurança assinado entre Ancara e o Governo de Acordo Nacional (GNA).
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O parlamento líbio, que não reconhece a legitimidade do Governo de Acordo Nacional (GAN), aprovou este sábado (04.01), "por unanimidade", a rotura das relações com a Turquia.
O parlamento exigiu também que o chefe do GNA, Fayez al-Sarraj, fosse julgado por "alta traição", afirmou o porta-voz da assembleia, Abdallah Bleheq, à Agência France Presse (AFP).
Foi ainda aprovado "o cancelamento dos memorandos de segurança e cooperação militar [...] entre o Governo" de al-Sarraj e Ancara.
A decisão da Líbia surge depois de, na quinta-feira, os parlamentares turcos terem aprovado uma moção permitindo que o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, envie soldados para a Líbia para apoiar o GNA de Trípoli contra a ofensiva do marechal Khalifa Haftar, o homem forte no leste da Líbia.
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, disse, entretanto, estar "profundamente preocupado com a deterioração da situação na Líbia e o sofrimento contínuo do povo líbio".
"As várias ameaças de interferência política ou militar nos assuntos internos do país aumentam o risco de confronto, com motivações que nada têm a ver com os interesses fundamentais do povo líbio e as suas aspirações por liberdade, paz, democracia e desenvolvimento", referiu Moussa Faki Mahamat.
Duas autoridades disputam o controlo da Líbia: o GNA, reconhecido pela Organização das Nações Unidas, e um Governo e um parlamento no leste da Líbia sob o comando de Haftar.
Líbia à beira de uma crise de água
Devido ao petróleo, a Líbia já foi um dos países mais ricos de África, mas a intervenção militar internacional e a guerra civil mergulharam o país no caos. Muitos estão em risco de perder o acesso a água potável.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Necessidades básicas
A Líbia atravessa uma crise no seu sistema de saúde. As regiões ocidentais, em particular, estão a ficar sem água potável. 101 das 149 condutas do sistema de abastecimento de água foram já destruídas na sequência da situação caótica que o país vive.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Sistema de condutas de água deteriorado
O país é maioritariamente composto por deserto árido. Na década de 1980, ainda com o ditador Muammar Kadhafi no poder, foi construído um vasto e avançado sistema de condutas conhecido como o "Grande Rio Artificial da Líbia". Um projeto que levou o abastecimento de água potável a mais de 70% da população do país. No entanto, desde a queda de Kadhafi, o sistema tem sido danificado.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Guerra civil e caos
Desde a queda de Kadhafi, em 2011, após uma intervenção militar internacional liderada pelos EUA e a França, o país está mergulhado no caos. O Governo reconhecido pela comunidade internacional, com sede em Tripoli, é fraco e não controla grande parte do território líbio. Por seu lado, o General Khalifa Haftar e o seu autoproclamado Exército Nacional (LNA) controlam o leste do país.
Foto: AFP/M. Turkia
Alvo Tripoli
O LNA, em particular, tem utilizado o sistema de condutas de água para fazer exigências, colocando assim em perigo a população da Líbia. Em maio, as forças leais ao marechal Haftar obrigaram os trabalhadores do setor da água a cortar a principal conduta que abastecia a capital sitiada, Tripoli, durante dois dias. E exigiram que as autoridades libertassem um prisioneiro.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Água como arma de guerra
Mas não são apenas os grupos rebeldes que usam o sistema de abastecimento de água do país como moeda de troca para defender os seus interesses. Há também pessoas que desmontam bocas de poços para vender o cobre de que são feitas estas estruturas. As Nações Unidas já alertaram os diferentes lados do conflito para que não utilizem a água como arma de guerra.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Riscos para a saúde
Mostafa Omar, porta-voz da UNICEF para a Líbia, estima que, no futuro, cerca de quatro milhões de pessoas poderão ser privadas do acesso a água potável se não for encontrada uma solução para o conflito. A falta de água pode resultar em surtos de hepatite A, cólera ou outras doenças diarreicas.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Água imprópria para consumo
A juntar à escassez da água, está o problema da contaminação deste recurso em algumas áreas do país. A presença de bactérias ou um elevado teor de sal tornam a água imprópria para consumo. "De facto, muitas vezes, a água já não é potável", constata Badr al-Din al-Najjar, diretor do Centro Nacional de Controlo de Doenças da Líbia.