Covid-19: Parlamento moçambicano aprova relatório de Nyusi
Leonel Matias (Maputo)
4 de agosto de 2020
Parlamento moçambicano aprovou esta terça-feira o relatório do Presidente Filipe Nyusi relativo ao estado de emergência, instaurado no país em abril devido à Covid-19. Oposição votou contra e criticou medidas do Governo.
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Os 179 deputados da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, presentes votaram a favor e os 53 parlamentares da oposição votaram contra a resolução, que considera que as medidas tomadas durante a vigência do estado de emergência respeitaram o princípio da proporcionalidade e limitaram-se, nomeadamente quanto à extensão dos meios utilizados e quanto à duração, ao estritamente necessário ao pronto restabelecimento da normalidade constitucional.
As medidas também observaram o princípio da salvaguarda do direito à vida, integridade pessoal, a capacidade civil e a cidadania. O documento foi apresentado pelo primeiro vice-presidente do Parlamento, Hélder Njonjo.
"As medidas restritivas de direitos aplicadas pelo Governo no contexto do estado de emergência foram equilibradas e proporcionais, de forma a conciliar as necessidades de proteger a população, manter em funcionamento os serviços básicos da sociedade e a economia, bem como assegurar a resposta do sistema nacional de saúde", considerou Njonjo.
Críticas da oposição: Mais pobreza no país
O maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), considera que o Sistema Nacional de Saúde entrou em colapso. Observou também que o relatório está ferido de vício formal ao não apresentar a lista nominal dos cidadãos abrangidos pelo estado de emergência, conforme estabelece a Constituição.
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O deputado Arnaldo Chalaua manifestou, igualmente, a preocupação da RENAMO pelo facto do Governo ter recorrido ao ajuste direto para o fornecimento de serviços e bens contratados internamente. Esta operação envolveu cerca de 68 mil milhões de meticais, o equivalente a cerca de 818 milhões de euros.
"É verdade que numa situação do estado de emergência pode não haver aquele rigor praticamente de procurement, mas efetivamente era necessário dizer quais são as empresas que se beneficiaram necessariamente", defendeu o deputado da RENAMO.
Por seu turno, o porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição, Fernando Bismarque, afirmou que "as medidas económicas anunciadas pelo Governo não produziram os efeitos, desejados, do ponto de vista da assistência social Moçambique assistiu a mais pobreza."
Já a FRELIMO elogiou o Governo. "Tivemos um Presidente junto do seu Governo, tiveram de avançar com medidas extraordinárias para que a situação no nosso paÍs não seja catastrófica. O nosso país esta entre os países com menos óbitos e casos positivos", destacou o porta-voz da bancada, Jacinto Capito.
O Parlamento não avançou qualquer sugestão sobre os próximos passos para conter a propagação da Covid-19. Espera-se que o chefe de Estado faça uma declaração à nação nos próximos dias.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.