Parlamento moçambicano discute Orçamento retificativo
Lusa
4 de novembro de 2020
O Parlamento moçambicano discute hoje e quinta-feira o Orçamento do Estado retificativo para 2020. Proposta de revisão foi motivada pelo impacto da pandemia de Covid-19 e dos conflitos militares no centro e no norte.
Publicidade
"A proposta de revisão tem em vista a incorporação do impacto financeiro da pandemia no Orçamento do Estado (OE), tendo em conta o Plano Nacional de Preparação e Resposta da Covid-19 que o país está a implementar, que visa minimizar o impacto da doença na esfera económica e social", lê-se no documento que fundamenta a revisão.
A proposta "visa igualmente incorporar as despesas adicionais para as forças de defesa e segurança decorrente da instabilidade nalgumas zonas de Cabo Delgado e da região centro do país", acrescenta.
"As contas têm de ser corrigidas porque as receitas do Estado deverão cair de 235.590 milhões de meticais [2,7 mil milhões de euros] para 214.141 mil milhões de meticais [2,4 mil milhões de euros]", explica o documento, enquanto que "a despesa pública deverá crescer de 345.381 mil milhões de meticais [4 mil milhões de euros] para 374.096 mil milhões de meticais [4,3 mil milhões de euros]".
Ou seja, o défice orçamental deverá passar para 17,9% do Produto Interno Bruto (PIB), crescendo 7,1 pontos percentuais em relação ao OE aprovado em abril - prevendo-se que dois terços sejam cobertos por créditos externos e internos, respetivamente, e o restante por donativos e saldos transitados de mais-valias.
Apoio ao combate à Covid-19
"A proposta tem em vista a incorporação do financiamento interno adicional pelo aumento da utilização de saldos de mais-valias e do crédito interno, bem como dos recursos externos resultantes dos compromissos dos parceiros de cooperação para o apoio à prevenção e combate à Covid-19", refere-se no documento.
Trabalho informal: Alternativa ao desemprego em Moçambique
06:50
"O OE 2020, aprovado em abril, foi elaborado num momento em que a avaliação dos efeitos da Covid-19 era muito preliminar e não estava suficientemente avaliada a dimensão dos seus efeitos", assinala-se.
O cenário atual requereu "um ajuste em alta dos subsídios às empresas e das transferências correntes às famílias", além de reforço de recursos para "educação, saúde, água, energia, agricultura, transportes, proteção social e forças de defesa e segurança".
O OE retificativo prevê uma desaceleração da economia de Moçambique, baixando a previsão de crescimento para este ano de 2,2% para 0,8%.
Publicidade
Conflitos no norte e no centro
Na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, uma insurgência armada que começou em 2017 e se intensificou este ano já provocou entre mil a 2.000 mortes e 435.000 deslocados.
O Estado Islâmico tem reivindicado alguns ataques desde 2019, mas a origem da insurgência continua em debate na região onde está a ser construído o maior investimento privado em África - da ordem dos 25 mil milhões de dólares - para extração de gás natural.
No centro do país, províncias de Sofala e Manica, a autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), uma dissidência do principal partido da oposição, é acusada de protagonizar ataques armados contra autocarros e veículos particulares em alguns troços de estrada, tendo já causado, pelo menos, 30 mortes.
O grupo contesta o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional assinado em 2019 e opõem-se também à atual liderança da RENAMO.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.