Parlamento são-tomense aprova Orçamento de Estado para 2017
Juvenal Rodrigues (São Tomé)
26 de janeiro de 2017
O documento foi aprovado na generalidade apenas com os votos da ADI, o partido no poder. A oposição votou contra. E não está convencida de que o teto orçamental permaneça o mesmo, com a retirada de Taiwan.
Publicidade
Nas Grandes Opções do Plano, o MLSTP-PSD e UDD votaram contra e o PCD absteve-se. As bancadas da oposição reclamaram que o Orçamento do Estado e as Grandes Opções do Plano, entregues pelo Governo ao Parlamento em finais de novembro, não coincidem com os documentos que estão publicados no portal do Ministério das Finanças, com data de 2 de dezembro.
Esse foi um dos motivos para o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) ter votado contra os dois documentos. "Tendo solicitado de forma insistente as alterações das anomalias contidas no referido orçamento, não tendo obtido por parte do Governo o esclarecimento necessário nem a vontade para que as alterações possam ser feitas, a bancada do MLSTP-PSD considera que não existe razão que nos obrigue a votar a favor das Grandes Opções do Plano nem do Orçamento Geral do Estado", justificou Jorge Amado, líder da bancada parlamentar do MLSTP.
25.01.2017 STP/OGE - MP3-Mono
"Estamos convencidos de que nem na especialidade haverá a possibilidade de se fazer qualquer alteração. O MLSTP-PSD reserva o direito de agir junto de outros órgãos [Ministério Público e Tribunal de Contas] para fazer valer a sua razão, relativamente aos problemas levantados neste orçamento", acrescentou o dirigente partidário.
Já Delfim Neves explicou que "a bancada do PCD [Partido da Convergência Democrática] decidiu pela abstenção nas Grandes Opções do Plano, porque entendeu dar o benefício da dúvida ao Governo, tendo em conta que algumas ações descritas [no documento] correspondem aos anseios da população, pese embora não tenham, em grande parte, enquadramento orçamental".
"Relativamente ao Orçamento Geral do Estado, entendemos que a explicação aqui dada pelo Governo foi insuficiente”, acrescentou o deputado do PCD.
Aposta em infraestruturas, educação e saúde
O Orçamento Geral do Estado, estimado em 133 milhões de euros, dá prioridade às nfraestruturas, educação e saúde, segundo o primeiro-ministro. Patrice Trovoada advertiu que 2017 continuará a ser um ano difícil e que os recursos previstos não estão totalmente mobilizados.
"Os recursos inscritos no capítulo das receitas não se encontram ainda nos cofres de Estado, bem como poderão não ser total e efetivamente arrecadados pelo Tesouro Público. Daí a dimensão do esforço que tem de ser feito por todos", anunciou Trovoada.
A economia são-tomense depende, de forma crónica, da ajuda externa que atende praticamente todas as necessidades. O prosseguimento de reformas é a via para se inverter a situação, segundo os políticos.
O debate do Orçamento Geral do Estado na especialidade deverá ocorrer nos próximos dias e terá lugar na plenária. O primeiro-ministro, Patrice Trovoada, garantiu que irá "fazer todos os ajustes, alterações e correções dentro do quadro orçamental" para convencer a oposição, durante a discussão na especialidade.
"Consta da análise feita ao quadro, que resume o Programa de Investimento por financiamento externo, que Taiwan contribuiria no quadro bilateral com 29,8% [do orçamento]. Contudo, é sabido que o Estado são-tomense cortou unilateralmente relações diplomáticas com o referido país. No entender da terceira comissão, o referido quadro devia merecer as devidas correções, ficando o Governo de apresentar outras soluções para preencher as lacunas resultantes do corte de relações com Taiwan”, afirmou Haerton do Rosário, na apresentação do parecer técnico da terceira comissão especializada.
Taiwan era um dos principais parceiros de São Tomé e Príncipe, com apoio a projetos nos sectores da saúde, educação, agricultura, entre outros.
No âmbito da cooperação no sector da saúde, equipas médicas da República Popular da China deverão chegar ao arquipélago lusófono em fevereiro, como anunciou Yong Feng, diretor-geral do Departamento de Saúde chinês.
No quadro da educação, Pequim prometeu conceder bolsas aos estudantes que estão em Taiwan. Estudantes são-tomenses em Taiwan disseram ter recebido orientações para obterem vistos de entrada na China em Hong Kong, para depois serem redistribuídos por instituições de ensino superior chinesas. Esta mudança em termos de cooperação afeta menos os estudantes que estão a iniciar a sua formação. Há vários alunos no último ano de licenciatura, a preparar a tese ou a fazer mestrado. Contudo, não há certeza de que terão equivalências no sistema de ensino chinês.
Intercâmbio comTimor-Leste
Entretanto, o Governo são-tomense propôs a Timor-Leste um intercâmbio em áreas económicas como finanças públicas, imposto e gestão dos fundos petrolíferos.
A informação foi adiantada pelo secretário-geral do G7+, o timorense Hélder Costa, à margem de uma visita de quatro dias da ministra das Finanças de Timor-Leste, Santina Cardoso, a São Tomé e Príncipe.
A delegação timorense visita o arquipélago a convite das autoridades são-tomenses para discutir a cooperação bilateral, no âmbito do Grupo do G7+, uma associação voluntária de países afetados por conflitos e que estão em transição para a próxima fase do desenvolvimento.
Património histórico - Roças de São Tomé e Príncipe
As roças de São Tomé e Príncipe foram a base económica das ilhas até à independência em 1975, altura em que se deu a sua nacionalização. Esta galeria apresenta o património histórico das roças do arquipélago.
Foto: DW/R. Graça
Nas montanhas: a Roça Agostinho Neto
A roça organiza-se através da artéria principal que é fortemente marcada pelo imponente hospital, implantado na extremidade mais elevada, bem como pelos terreiros e socalcos que acompanham o declive. Na era colonial era esta roça que possuia o sistema ferroviário do arquipélago, a partir do qual se estabelecia a ligação e o abastecimento entre as suas dependências e o porto na Roça Fernão Dias.
Foto: DW/R. Graça
Uma roça memorial e emblemática
A Roça Agostinho Neto recebeu este nome após a independência nacional em 1975, em memória do primeiro Presidente de Angola. É uma das mais emblemáticas e impressionantes estruturas agrícolas do país. Situa-se no distrito de Lobata, norte da ilha de São Tomé, a 10 quilómetros da capital. Foi fundada em 1865 pelo Dr. Gabriel de Bustamane e foi explorada a partir de 1877, pelo Marquês de Vale Flor.
Foto: DW/R. Graça
Aqui começou a cultura do cacau
Fundada nos finais do século XVIII, a Roça Água-Izé foi a primeira da Ilha de São Tomé que implementou a cultura de cacau. José Ferreira Gomes trouxe a planta do Brasil para a Ilha do Princípe, inicialmente como uma planta ornamental, mas a cultura do cacau prosperou no arquipélago e tornou as ilhas o maior produtor de cacau a nível mundial. Esta roça é composta por nove dependências.
Foto: DW/R. Graça
O hospital da Roça Água-Izé
Implantada numa zona litoral, a Roça Água-Izé é o exemplo mais representativo da necessidade de expansão. Essa urgência levou à construção de um segundo hospital, de novos blocos de senzalas e edíficios de apoio à produção, como armazéns, fábricas de sabão e cocheiras.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Uba Budo
Localizada na parte leste da ilha de São Tomé, no distrito de Cantagalo, esta roça foi fundada em 1875. Pertenceu à Companhia Agrícola Ultramarina, administrada na altura pelo general português Humberto Gomes Amorim. A principal cultura na Roça Uba Budo era o cacau.
Foto: DW/R. Graça
Cenário de televisão
Nos anos 90, a Roça Uba Budo foi o cenário escolhido pela RTP Internacional, o canal internacional da televisão pública de Portugal, para rodar uma série televisiva. Retratava a história de amor entre uma escrava e o seu patrão.
Foto: DW/R. Graça
Uma das mais antigas: a Roça Monte Café
A Roça Monte Café localiza-se numa zona bastante acidentada, na região de Mé-Zóchi, no centro da Ilha de São Tomé. É uma das mais antigas roças do país, tendo sido fundada em 1858, por Manuel da Costa Pedreira. A 670 metros de altitude, em terrenos bastante propícios para a cultura de café arábica, assumiu o lugar de destaque como a maior produtora de café, entre as restantes roças são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
Uma pequena cidade: Roça Roca Amparo
O desenvolvimento e a modernização das estruturas das roças, originaram um contínuo crescimento de espaços e equipamentos, e a Roça Roca Amparo é um exemplo disso. Esta evolução permitiu que se criasse uma malha de ruas, jardins e praças, cada qual com a sua função e importância. O processo de crescimento correspondia ao de uma pequena cidade.
Foto: DW/R. Graça
Uma noite na roça
A Roça Bombaim localiza-se em Mé-Zóchi, um dos distritos mais populosos de São Tomé. Bombaim é uma das unidade hoteleiras de referência do arquipélago que promove o turismo rural. Encravada no meio de uma floresta densa, a sua estrutura arquitetónica faz dela um espaço único para quem procura paz. Para se aceder à roça passa-se pela Cascata S. Nicolau, um dos encantos são-tomenses.
Foto: DW/R. Graça
A Roça Vista Alegre
A casa principal da Roça Vista Alegre constitui um dos exemplos arquitetónicos de maior interesse. Desenvolve-se sobre uma planta retangular em dois pisos, parcialmente elevada e um terceiro, formando apreendas apoiadas em pilares contínuos de madeira. Conserva-se ainda em estado razoável, devido às intervenções na casa principal, sendo que os restantes edifícios requerem obras de restauro.
Foto: DW/R. Graça
As senzalas - antigas casas dos escravos
Representa a casa do africano, oriunda do quimbundo angolano e referenciada nas pequenas povoações autóctones, formadas por cubatas (pequenas casas de madeira com cobertura de colmo). Com a exportação de mão de obra africana para o Brasil ao longo do século XVI, a dominação "senzala" foi aplicada ao conjunto habitacional onde residiam os trabalhadores escravos nas estruturas agrárias.
Foto: DW/R. Graça
Na Roça Boa Entrada, a maioria é pobre
Hoje, a Roça Boa Entrada é habitada por pessoas de diversas proveniências. Umas vieram de outras roças do país e outras vieram de outros países de África, principalmente de Cabo Verde. A maioria da população de Boa Entrada é pobre. A roça tem uma forte densidade populacional e uma grande concentração de pessoas num espaço relativamente reduzido e organizado em torno da antiga casa senhorial.
Foto: DW/R. Graça
O abandono das roças
A Roça Porto Real, localizada na Ilha do Princípe, faz parte das 15 grandes unidades agro-industriais criadas depois da independência e sucessivamente abandonadas. Antigamente, a roça tinha uma produção agrícola variada. Há quem diga que produzia o melhor óleo da palma de toda a ilha.