Gorongosa continua a registar recuperação da vida selvagem
Lusa | ar
14 de dezembro de 2016
O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) continua a registar uma recuperação da vida selvagem, que foi quase dizimada durante a guerra civil em Moçambique, segundo uma contagem realizada este ano.
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A contagem, feita de helicóptero pelos serviços do PNG entre 18 e 31 de outubro, cobrindo a área que de maior densidade de vida selvagem do parque, registou a existência de 78.627 animais de 19 espécies, sobretudo grandes herbívoros, contra os cerca de 70 mil observados em 2014.
O PNG considera que "a recuperação da vida selvagem continua a progredir bem", apesar da seca nos últimos dois anos, que teve "um impacto significativo em várias espécies", da instabilidade política e militar que afeta a região e da pressão da caça furtiva.
Através da contagem aérea, a segunda em dois anos e considerada um instrumento "crítico para avaliar a evolução da recuperação [da vida selvagem] e a eficiência da gestão do parque", o inhacoso (um grande antílope também conhecido como piva) representa mais de metade das espécies, com cerca de 45 mil indivíduos, mais 10 mil do que em 2014.
Resultados positivos
As populações de impala (que quase duplicou para 4.705 ocorrências comparativamente a 2014), de inhala (1.299 face às 964 anteriores) e de cudu (1.466 contra1. 223) "tiveram subidas substanciais".O relatório aponta igualmente resultados positivos na população de pala-pala (que eram 786 e agora são 810), e os elefantes e os búfalos, apesar da seca, tiveram um aumento (para 567e 696 respetivamente), mas abaixo do esperado.
O número de bois-cavalos (ou gnus) manteve-se estável, uma preocupação já manifestada em 2014.
Dados divulgados na Gala do PNG
O PNG observa que espécies mais pequenas parecem ter sido bastante mais atingidas pelos efeitos da seca, incluindo a imbabala, o porco do mato o chango, o oribi e o facocero, devido aos seus hábitos mais seletivos de alimentação.
As zebras mantêm-se estáveis, com uma população de 34 indivíduos, das quais 15 mantidos em território cercado no chamado Santuário, segundo os dados da contagem, que deverão ser divulgados esta quarta-feira (14.12) na 3.ª Gala do PNG, em Maputo.
O PNG lembra que a contagem diz respeito a um número mínimo, numa área de184. 500 hectares totalmente coberta pela pesquisa e correspondente aos melhores habitats e maior densidade de vida selvagem, mas outros animais ocorrem noutras zonas do parque e dos quais não foi realizada nenhuma estimativa.
A contagem também não abrange a população de leão, devido à dificuldade de observação por via aérea, mas os dados registam a existência de cerca de 80 indivíduos e uma subida em relação a 2014.
Dados oficiais indicam que, durante a guerra civil em Moçambique de 16 anos, encerrada em 1992, o parque perdeu 95% dos seus animais. Parque atrai turistas e cientistas
Numa contagem realizada em 1972, o PNG contava, por exemplo, com cerca de 14 mil búfalos, 2.500 elefantes, 3.500 hipopótamos e outras tantas zebras, 6.500 gnus e ainda a ocorrência frequente de leão e leopardo, espécie entretanto extinta no parque e que deverá ser reintroduzida no próximo ano.
Em 2007, o Estado moçambicano assinou um contrato de gestão conjunta do PNG com fundação do filantropo norte-americano Gregory Carr, com a vigência de 20 anos, e desde então o parque tem conhecido assinaláveis níveis de recuperação e atraído turistas e cientistas de todo o mundo.
Mais recentemente, o PNG assinou a 30 de novembro um acordo com o Entreposto para a conversão de mais de 200 mil hectares de uma coutada de caça contígua em área de proteção total.
Ao abrigo do acordo, o PNG começará trabalhos conjuntos com o grupo Entreposto de avaliação ecológica, levantamentos junto das comunidades locais e análise de potencial turístico na Coutada 12, e que poderá levar ao alargamento da atual maior área protegida moçambicana e que apresenta um dos maiores níveis de biodiversidade da África Austral.
O documento só terá validade com um decreto do Conselho de Ministros moçambicano, ao qual cabe delinear as áreas protegidas do país.
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.