Parque no Congo é o mais perigoso para guardas-florestais
Bettina Rühl
8 de setembro de 2017
Nas últimas duas décadas, 140 guardas-florestais foram assassinados no Parque Nacional de Virunga (RDC). É onde há mais de 20 anos, grupos lutam pelo poder e pelo acesso aos recursos naturais da região.
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O cheiro de enxofre, que toma conta do ar, não incomoda o guarda-florestal congolês Patrick Saroti – a 3469 metros de altura. Muito menos o frio ou o nevoeiro que cobre o cume do vulcão Nyiragongo, na República Democrática do Congo.
Saroti, de 25 anos, é guarda há dois e sobe ao topo do vulcão com o colega Deogracias Matemane para acompanhar turistas. Os guardas-florestais são dois dos 600 que trabalham no Parque Nacional de Virunga. O trabalho é de risco. Mais de 140 deles foram mortos nas últimas duas décadas. "Claro que é perigoso. Você sabe que há grupos armados entrincheirados no parque. Mas não podemos desistir de nossa profissão apesar dos riscos. Precisamos defender o Virunga", diz Deogracias Matame.
Ameaças
Os inimigos não são somente as milícias dos grupos armados. Também, caçadores e lenhadores ilegais. Eles não querem que os guardas-florestais atrapalhem os negócios: o contrabando de marfim, de filhotes de gorilas e chimpanzés – até a derrubada de árvores para fazer carvão. Mas Matemane fala que as armas, por aqui, são mera precaução. "Nesta área, não há mais problemas. Aqui conseguimos acabar com os milicianos", sustenta.
Os perigos do Parque Nacional de Virunga
Apesar do perigo existente no parque, o processo de seleção para se tornar um guarda-florestal é disputado por milhares de candidatos para cerca de cem vagas. Saroti, que já entrou em combate com caçadores duas vezes, reconhece o risco, mas alega que não há trabalho no Congo, "não dá para escolher", diz ele.
Apoio familiar
Patrick Saroti recebe o apoio da esposa."Ela tem orgulho da minha profissão e, geralmente, é ela que me encoraja a seguir em frente. Ela diz que não é vergonhoso morrer pelo país", declara Saroti, que tem dois filhos pequenos.
O colega Deogracias Matemane, com dois filhos também, é outro que trabalha apoiado pela esposa. "Ela que me fez pensar em me tornar um guarda-florestal. Estava desempregado", comenta Matemane.
Em comum, os dois têm a determinação de manter a riqueza natural do Parque Nacional de Virunga. E estão dispostos até a entrar à triste estatística que faz do parque o mais perigoso do mundo para um guarda-florestal. "Claro que contamos com combate a qualquer hora. Caso morra em um deles, é o desejo de Deus", defende Matemane.
Pôr fim ao conflito do estanho na RD Congo
Os minérios são uma causa do derrame de sangue na República Democrática do Congo (RDC), onde milícias rivais tentam apoderar-se dos recursos naturais. Um projeto quer que o estanho deixe de estar ligado ao conflito.
Foto: DW/J. van Loon
Afastar as milícias
Os mineiros artesanais da mina de estanho de Kalimbi foram dos primeiros a usar o sistema "empacotar e rotular". Trata-se de uma forma de validar o mineral, que assim pode ser seguido desde a sua origem. O objetivo é impedir que caia nas mãos das milícias.
Foto: DW/J. van Loon
Assegurar o futuro das minas
A região de Kalimbi tem uma história atormentada. Várias milícias competem aqui pela posse dos minérios. O Instituto Internacional de Pesquisa de Estanho (ITRI - International Tin Research Institute) escolheu a mina de Kalimbi para o seu primeiro projeto de metais "isentos de conflito", para assegurar a sobrevivência a longo prazo das comunidades que dependem da extração para a sua subsistência.
Foto: DW/J. van Loon
A dura realidade
Kalimbi situa-se no Kivu Sul e é uma das cerca de 900 minas da região. Um dos mineiros, Safari Masumbuko, trabalha na mina há mais de doze anos. "Adorava fazer outra coisa, mas nesta região não há outro trabalho", diz o jovem de 25 anos. Muitos rapazes desempregados acabam por ser recrutados pelas milícias.
Foto: DW/J. van Loon
A vida nas minas
Enquanto se envidam esforços para eliminar a violência do comércio congolês de matérias-primas, as condições de trabalho para os mineiros são ainda muito precárias. Muitos passam mais de doze horas seguidas em estreitos túneis, centenas de metros abaixo da superfície, sem capacetes de segurança nem sapatos robustos.
Foto: DW/J. van Loon
Fechar os canais que alimentam o conflito
Em 2010 entrou em vigor nos Estados Unidos da América a Lei Dodd-Frank que exige que as empresas certifiquem que os seus minérios são "isentos de conflito". Um dos objetivos era combater a pobreza na RDC, mas a lei acabou por impedir a venda do mineral local. "Transformou-nos a vida num inferno", diz Ajeje Munguiko, de 27 anos. "Tivemos de vender a nossa roupa para dar de comer aos nossos filhos."
Foto: DW/J. van Loon
Trazer o comércio de volta
Juntamente com o ITRI, em 2012, o diplomata holandês Jaime de Bourbon-Parma ajudou a implantar o sistema "empacotar e rotular" na mina de Kalimbi. Este prevê que cada saco seja pesado e rotulado com um código de barras, que certifique a "isenção de conflito". O diplomata espera que o sistema de validação e a possibilidade de comprar estanho "limpo" tragam os comerciantes de volta à RDC.
Foto: DW/J. van Loon
Não há como escapar à violência
Os mineiros dizem que, desde que foi introduzido o sistema de transparência, passaram a ser menos incomodados por grupos armados. Mas ainda acontece serem intimidados. Por exemplo, no ano passado um comandante do exército tentou contrabandear estanho de Kalimbi. As autoridades não se atreveram a intervir. O Governo só suspendeu o oficial graças à pressão internacional.
Foto: DW/J. van Loon
Estanho sujo declarado limpo
Mas a falta de transparência permanece um desafio para o setor de extração artesanal. Há casos de funcionários corruptos, que vendem os rótulos "isento de conflito" pelo equivalente de 14 euros para aplicar no estanho sujo, diz Eric Kajemba, diretor de uma organização não-governamental na região. "Os funcionários das minas ganham menos de 50 euros por mês, por isso é fácil suborná-los".
Foto: DW/J. van Loon
Aumentar o preço do estanho
"O sistema de empacotar e rotular é bom, mas o preço do estanho é demasiado baixo", diz Madeleine Witanene, 50 anos, corretora da aldeia de Niyabibwe. Witanene diz que os preços são baixos porque só poucos exportadores compram o mineral rotulado. Alargar o sistema a outras minas pode fomentar a competição e melhorar as condições de trabalho dos mineiros.
Foto: DW/J. van Loon
Metal valioso
O leste do Congo detém três por cento do estanho a nível mundial. Empresas como a Phillips e a Tata Steel utilizam o estanho "isento de conflito" de Kalimbi em casquilhos, latas e placas de metal.
Foto: DW/J. van Loon
Um modelo para outras minas
O sucesso obtido pelo projeto "empacotar e rotular" na redução da violência na extração de estanho depende agora inteiramente da vontade de outras empresas em apoiar a sua expansão. Depois da derrota do grupo rebelde M23, o ITRI planeia agora lançar o sistema "empacotar e rotular" em Rubaya, no Kivu Norte, entre muitos outros locais.