Partido AfD contesta legalmente classificação de extremista
5 de maio de 2025
A queixa foi apresentada no tribunal administrativo da cidade de Colónia, no oeste da Alemanha, e será analisada quando a agência nacional de informação do Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) confirmar a notificação.
A classificação como extremista, anunciada na passada sexta-feira (02.05), permite à agência de espionagem intensificar a vigilância do maior partido da oposição no parlamento.
A AfD considera que a decisão é um "golpe para a democracia alemã" e uma decisão "politicamente motivada". Num comunicado divulgado na sexta-feira, os líderes do partido Alice Weidel e Tino Chrupalla anunciaram que a AfD "continuará a defender-se legalmente contra estas difamações, que são perigosas para a democracia".
A ministra do Interior cessante, Nancy Faeser, que apresentou o resumo da investigação com mais de 100 páginas, disse que "a AfD representa um conceito étnico que discrimina grupos populacionais inteiros e trata os cidadãos com um historial de migração como alemães de segunda classe. Isto contraria a garantia da dignidade humana."
Ligações extremistas e laços com Rússia
O segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativas alemãs já andava nos radares da vigilância das autoridades em algumas regiões do país, devido às suas ligações a extremistas e aos seus laços com a Rússia.
Dos 38 800 extremistas de extrema-direita registados pela secreta alemã, em 2024, mais de 10.000 são membros da AfD.
Beatrix von Storch, deputada da AfD, critica a classificação das autoridades, dizendo que não existe em democracias. E acrescenta que "não é surpreendente que a classificação surja numa altura em que a AfD lidera as sondagens. Também não é surpreendente que isso venha numa altura em que o governo está no fim das suas funções e um novo governo tomará em breve. Tudo isto, sim, é indigno de uma democracia."
Já o líder da União Social Cristã (CSU), parceira da União Cristã Democrática da Alemanha (CDU), Markus Söder, pede cautela para lidar com a AfD. "Não devemos diabolizar a AfD. Mas também não se deve relaxar e, por isso, devemos simplesmente adotar uma linha clara ao lidar com a AfD", afirmou.
Rubio acusa Alemanha de "tirania disfarçada"
O chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, acusou a Alemanha de ser uma tirania disfarçada. O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, que também se juntou à polémicA, disse na rede social X que a AfD era o partido mais popular na Alemanha e, de longe, o mais representativo da Alemanha de Leste, que "os burocratas estão a tentar destruí-la".
O ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha já reagiu. Afirma que o país é uma democracia, acrescentando que a classificação da AfD como extremista resulta de uma investigação "completa e independente para proteger a Constituição e o Estado de Direito" alemães. E que só os tribunais é que terão "a palavra final".
Por ocasião da comemoração da libertação do campo de concentração nazi de Dachau, no domingo (04.05), Karl Freller, veterano da II Guerra Mundial, alertou para o perigo da AfD. "Estou seriamente preocupado com o futuro. Porque me apercebi de uma coisa: valorizamos a nossa democracia, estamos a reforçar a nossa democracia, queremos tê-la a todo o custo, mas esta democracia tem um ponto fraco: pode votar em si própria para sair do poder se forem eleitas as pessoas erradas", declarou.