Guiné Equatorial: Oposição denuncia prisão de líder no Chade
Lusa
22 de abril de 2019
Convergência para a Democracia Social, da oposição, exige a libertação imediata do seu líder, Andrés Esono Ondo, detido no Chade no dia 11 de abril. E acusa o Governo chadiano de "sequestro institucional".
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"As autoridades da República do Chade deram a entender que não têm motivos para deter Andrés Essono e que o libertariam rapidamente. Isso não aconteceu (...). A Convergência para a Democracia Social (CPDS) acusa o Governo do Chade do sequestro do seu secretário-geral. Trata-se de um sequestro institucional, uma prática terrorista imprópria de um Estado normal", acusou o partido, num comunicado divulgado esta segunda-feira (22.04) e citado pela agência de notícias EFE.
Andrés Esono foi detido no passado dia 11 no Chade, onde participava no congresso do principal partido da oposição chadiana, União Nacional para a Democracia e a Renovação (UNDR). Foi o Governo equato-guineense, em Malabo - e não o chadiano ou qualquer fonte oficial no Chade - que justificou dois dias depois essa detenção, alegando que o líder da CPDS se deslocou a esse país com o "único objetivo de adquirir armas e munições e recrutar terroristas para cometer um golpe de Estado na Guiné Equatorial com um financiamento estrangeiro".
Juan Antonio Bibang, ministro da Segurança Externa da Guiné Equatorial, acrescentaria no dia 15 que "Andrés Esono Ondo viajou para o Chade sob pretexto de assistir a um congresso organizado pelo partido UNDR na província de Guera, conhecida por (ser um território de) terroristas e de rebeldes, mas também pela facilidade com que se pode comprar armas".
"Curiosamente, foi o Governo da Guiné Equatorial que explicou, através de um comunicado oficial emitido pelo ministro da Segurança Externa no dia 12/04/2019, que Andrés Esono está detido porque viajou para o Chade para comprar armas, munições e para recrutar mercenários com o objetivo de cometer um golpe de Estado na Guiné Equatorial", sublinha o comunicado da CPDS emitido hoje.
"Esta declaração confirma, na nossa opinião, a conivência entre os governos da Guiné Equatorial e do Chade para sequestrar Andrés Esono", acrescentou o partido.
"Falta de provas”
O CPDS, como o UNDR, da oposição chadiana, negam as alegadas intenções golpistas por detrás da viagem de Andrés Esono e sublinham que nem o Chade nem a Guiné Equatorial têm provas para sustentar as acusações.
"O regime que governa a Guiné Equatorial vem desde há anos a preparar montagens toscas com a intenção obsessiva de envolver a CPDS e o seu secretário-geral em imaginárias ações violentas e golpes de estado inventados", acusa o texto.
A CPDS tem vindo a desenvolver vários contactos com meios diplomáticos em todo o mundo com o objetivo de acelerar a libertação de Essono.
O partido considera particularmente importante que a libertação seja formalizada no Chade, sob pena de, caso contrário, qualquer eventual processo judicial se eternizar se Andrés Esono regressar a solo equato-guineense na condição de detido e com as acusações que lhe são imputadas.
Desde o final de março decorre um processo judicial contra alegados instigadores de um golpe de Estado que Malabo afirma ter desmantelado no final de 2017. Mais de 150 pessoas foram acusadas de implicações nessa tentativa de golpe contra o Presidente Teodoro Obiang Nguema, de 76 anos, no poder há 39 anos.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.