Angela Merkel mostrou-se esta segunda-feira cautelosa para as legislativas de setembro. Já Martin Schulz afirmou que o SPD tem um "caminho difícil" pela frente. CDU venceu com 33% dos votos na Renânia do Norte-Vestfália.
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Na Alemanha há um ditado que diz: "Quando a Renânia do Norte-Vestfália espirra, Berlim constipa-se". Significa que o que acontece na região mais populosa da Alemanha costuma refletir-se no Governo Federal. Por isso, as eleições estaduais deste domingo foram acompanhadas com grande interesse em todo o país.
A ida às urnas na Renânia do Norte-Vestfália é vista como um teste crucial para as próximas eleições legislativas na Alemanha, agendadas para 24 de setembro.
Este domingo (14.05), a União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler Angela Merkel representado neste estado por Armin Laschet, conseguiu uma vitória surpresa, com 33% dos votos. Já o Partido Social-Democrata (SPD), encabeçado na Renânia do Norte-Vestfália por Hannelore Kraft, ficou em segundo lugar, com pouco mais que 31% dos votos. Um golpe duro para o partido de Martin Schulz, não fosse a Renânia do Norte-Vestfália o bastião do SPD.
Merkel cautelosa
Esta é a terceira vitória consecutiva da CDU em eleições estaduais realizadas este ano. Esta segunda-feira (15.05), o partido da chanceler mantinha o entusiasmo. Mas Angela Merkel, como já é habitual, preferiu demonstrar cautela e lembrou que ainda é preciso vencer as eleições de setembro.
Partido de Merkel passa teste de fogo nas estaduais
Afirmando que "as campanhas eleitorais federais estão a entrar numa nova fase", Angela Merkel frisou que se segue uma etapa de trabalho conjunto "para uma campanha bem sucedida para as eleições nacionais de 24 de setembro", tal como aconteceu nas eleições estaduais.
O resultado das eleições de domingo significa um grande impulso para Angela Merkel e o seu partido. A CDU conseguiu derrotar o SPD, que já chegou a governar com maioria absoluta na Renânia do Norte-Vestfália, onde só houve um governo da CDU em 50 anos. O Estado, com quase 18 milhões de habitantes, debate-se atualmente com elevadas taxas de desemprego, criminalidade e graves problemas no ensino público.
Para Ulrich von Harlemann, professor de ciência política na Universidade de Düsseldorf, "os temas regionais dominaram estas eleições, mas questões de política nacional também tiveram influência". Segundo o docente, os temas regionais mais importantes foram a educação, a segurança e o estado da economia.
"Caminho difícil" para o SPD
As eleições de setembro deverão ser dominadas por outras questões, como o desemprego, a saúde e a segurança social. Mas as oportunidades de Angela Merkel voltar a ganhar a corrida aumentaram, porque a vitória da CDU este fim de semana foi um grande revés para o seu rival principal, Martin Schulz.
O líder do Partido Social-Democrata, que nasceu na Renânia do Norte-Vestfália, começou bem nas sondagens e até conseguiu ganhar algum terreno contra Merkel. Mas a popularidade da "locomotiva Schulz", como já lhe chamavam, foi diminuindo, já antes das eleições.
Esta segunda-feira, Martin Schulz mostrou-se desanimado. Aos jornalistas, em Berlim, o social-democrata admitiu que a noite de domingo foi "difícil". "A liderança do partido vai reunir-se para analisar o que correu mal. Mas uma coisa é clara: temos um longo e difícil caminho até às eleições de 24 de setembro. Será difícil, mas o SPD é um partido que está pronto para lutar", asseverou.
A quatro meses das eleições de setembro, alguns especialistas dizem que a maré ainda pode virar. Mas, de momento, os ventos parecem soprar mais a favor de Angela Merkel.
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
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Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
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Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
Foto: imago/imagebroker
Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
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Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.