Partido da União anuncia queixa formal contra a Comissão Eleitoral, alegando fraude nas eleições. Partidos acusam ainda Presidente cessante, Ellen Johnson Sirleaf, de interferência nas eleições.
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O partido no poder na Libéria anunciou este domingo uma queixa formal contra a Comissão Eleitoral, no âmbito dos resultados da primeira volta das presidenciais realizada a 10 de outubro, alegando fraude. A queixa é apresentada nas vésperas da segunda volta, marcada para 7 de novembro e que será disputada pelo vice-Presidente Joseph Boakai, candidato do Partido da União, no poder, e a lenda do futebol africano George Weah.
Num comunicado assinado por outros dois partidos, o Partido da União contesta a Comissão Eleitoral, denunciando "fraudes sistemáticas e a grande escala” e apela "a uma conclusão legal lógica o mais breve possível de acordo com a lei da Libéria”.
O Partido da União anunciou o seu apoio à contestação legal do Partido da Liberdade, do candidato que ficou em terceiro lugar na primeira volta, Charles Brumskine, que pediu à Comissão Eleitoral uma repetição do escrutínio.
"Isto não significa que não vamos participar [na segunda volta]", garantiu Augustine Ngafuan, líder nacional de campanha do Partido da União. "Esperamos que o tribunal decida antes da segunda volta. Se não, vamos decidir o que fazer a seguir”.
Johnson Sirleaf acusada de "interferência”
O documento aponta ainda o dedo à Presidente cessante, Ellen Johnson Sirleaf, também do Partido da União, por "interferir” nas eleições, nomeadamente, devido a uma reunião de carácter privado com funcionários eleitorais realizada na sua residência. O encontro, que teve lugar antes da votação, "constitui claramente interferência no processo eleitoral e não tem qualquer base legal ou justificação”, dizem os três partidos.
Um porta-voz de Johnson Sirleaf recusou comentar as acusações feitas contra a Presidente cessante.
Na semana passada, a Comissão Eleitoral garantiu que iria responder à queixas apresentadas sobre as eleições o mais rapidamente possível e afirmou que os partidos poderiam contestar as conclusões da comissão no Supremo Tribunal, se não estivessem satisfeitos.
Observadores internacionais, nomeadamente da União Europeia, afirmam que não se registaram problemas de maior na votação de 10 de outubro.
Joseph Boakai é o o vice-Presidente de Elle Johnson Sirleaf desde que a chefe de Estado assumiu o poder, em 2006. No entanto, a relação deteriorou-se recentemente quando Johnson Sirleaf se recusou a apoiar Boakai, que se distanciou do último Executivo e se apresentou como o candidato da mudança. O ex-jogador de futebol internacional George Weah venceu a primeira volta com 38,4% dos votos contra os 28,8% de Boakai.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."