Partidos em campanha: diferentes estilos, diferentes meios
António Cascais
2 de agosto de 2017
Seis partidos concorrem aos 220 assentos na Assembleia Nacional de Angola. Todos eles têm estilos diferentes e contam com meios completamente desiguais. As táticas na caça ao voto são multifacetadas.
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As diferentes táticas dependem em grande escala dos meios materiais disponíveis, afirma o jornalista e analista angolano, Reginaldo Silva, em entrevista à DW: "Eu, a brincar, até costumo dizer que afinal não há apenas duas divisões, mas há três: uma em que está o MPLA sozinho, devido à sua robustez financeira, resultante de um conjunto de fatores históricos. E depois tens dois partidos - a UNITA e a CASA-CE. E a seguir tens então a terceira divisão."
MPLA com acesso a marketing profissional
Angola - diferentes estilos de campanha - MP3-Mono
De facto, o MPLA com um avanço de "anos luz" em relação aos outros partidos no que diz respeito a meios técnicos, como aliás aconteceu também nas eleições de 2008 e 2012.
Isso é evidente quando se escuta os "tempos de antena" do MPLA, nas rádios e televisões: fica claro que o partido no poder dispõe de meios sofisticadíssimos. A qualidade de som e imagem são "topo de gama". Basta dizer - a título de exemplo - que o partido é acionista da maior empresa de marketing e publicidade do país - a ORION.
Reginaldo Silva conclui: "Os outros partidos não têm a capacidade que o MPLA tem de ir de município para município, colocar autocarros, colocar meios à disposição para trazer pessoas para os centros urbanos, onde os comícios têm lugar."
Oposição aposta nos votos de protesto e no carisma dos seus candidatos
Resta aos partidos da oposição "jogar" com o descontentamento da população, sobretudo, devido à crise económica, assim como confiar no carisma dos seus candidatos; carisma que alegadamente falta ao candidato do regime, João Lourenço.
O candidato da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, é, aparentemente, o candidato que mais apela às emoções do eleitorado. O seu discurso, os seus gestos e o seu estilo fazem lembrar o histórico líder da UNITA, Jonas Savimbi.
Abel Chivukuvuku, recorda o jornalista e analista Reginaldo Silva, foi durante largos anos membro da UNITA, e nunca escondeu o seu apreço por certas facetas do caráter do falecido líder do galo negro: "Claro que as pessoas ligadas à UNITA têm esta herança no quadro da oratória. Os gestos, a linguagem, a forma como se fala: eventualmente se possa fazer, de facto, essa conotação."
Isaías Samakuva, o líder da UNITA, em termos de retórica, não atinge as capacidades de Abel Chivukuvuku, dizem os observadores. Ele prefere apresentar-se como estadista, capaz de conduzir a transição de forma ordeira e pacífica. O discurso de Samakuva parece nítidamente mais comedido, afirma também Reginaldo Silva: "Samakuva tem essa imagem de ser uma pessoa mais 'low profile', mas na campanha ele tem-se soltado bastante! Mas como na televisão e nos próprios tempos de antena recebemos apenas uma parte da realidade, ficamos com essa impressão do líder da UNITA."
Pequenos partidos: Conseguirão escapar à extinção?
Restam os três pequenos partidos que concorrem às eleições em Angola no dia 23 de agosto de 2017: São os "partidos da terceira liga", como diz o jornalista e analista, Reginaldo Silva: Trata-se da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), um partido histórico, mas que continua muito dividido entre a ala de Lucas Ngonda e a ala de Ngola Kabango. Outro partido concorrente é o PRS (Partido de Renovação Social), que também atravessou uma fase de transição, substituindo o seu presidente histórico, Eduardo Kuangana, por Benedito Daniel. Concorre ainda um partido novo, a Aliança Patriótica Nacional - APN - de Quintino Moreira.
Os meios destes três pequenos partidos são reduzidíssimos, recorda Reginaldo Silva. A campanha dos mesmos é, por conseguinte, muito menos visível. O marketing político praticamente não existe: "Em termos de resultados eu até receio que algum desses três pequenos partidos possa não conseguir ultrapassar a cláusula dos 0,5 por cento dos votos expressos, o que significaria que poderá pender sobre eles a ameaça de extinção."
Todos partidos são iguais perante a lei eleitoral. As táticas, estilos e sobretudo possibilidades são completamente diferentes nesta campanha eleitoral Angola 2017.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.