Partidos impugnam nomeação de Cristina Ndembi no Kwanza-Sul
Óscar Constantino (Sumbe)
19 de julho de 2021
Vários partidos estão contra a nomeação de Cristina Ndembi do MPLA para a Comissão Eleitoral do Kwanza-Sul. Oposição angolana acusa o partido no poder de violar a lei, promete protestar nas ruas e recorrer aos tribunais.
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FNLA, UNITA, PRS e CASA-CE apresentaram na quarta-feira (14.07) um pedido de impugnação na secretaria do Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ), em Luanda, contra a nomeação de Maria Cristina Ndembi, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) para a Comissão Provincial Eleitoral do Kwanza-Sul.
Em conferência de imprensa, Nelson Custódio, 2º secretário da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) no Kwanza-Sul, apresentou as razões da impugnação: "Desde logo porque ela não é magistrada e não reside na nossa província há cerca de três anos. Se o Tribunal Supremo não se pronunciar nos termos e prazos da lei, vamos partir para o contencioso, nem que tenhamos de parar no Tribunal Constitucional por causa desta questão", frisou.
O secretário provincial da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Adriano Viegas, acusou diretamente o MPLA de ser o mentor deste regresso de Maria Cristina Ndembi à Comissão Provincial Eleitoral.
"O MPLA está consciente de que está a violar gravemente a lei, mas mesmo assim nomeia alguém que já está reformada'', criticou.
Manifestações nas ruas em cima da mesa
Quartim Portugal, da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), frisa que a sociedade civil não pode deixar a luta contra aquela nomeação à responsabilidade dos partidos políticos na oposição, pois está em jogo o processo que vai decidir sobre a vida da província.
''Esta tarefa é séria e não pode ser relegada somente para os partidos políticos. Se até lá não tivermos soluções, vamos sair às ruas'', disse Quartim Portugal.
O secretário para a área da informação do Partido de Renovação Social (PRS), Anastácio Fernandes, apelou aos seus militantes para que não se aceite que a lei seja violada.
''Por isso, o nosso apelo vai para a sociedade angolana e em particular à do Kwanza-Sul que não vamos deixar que este tipo fraude continue a fazer de nós um tapete'', sublinhou.
Reclamações "legítimas"
Para o sociólogo Óscar Boaventura Lourenço, as reclamações dos partidos políticos são "legítimas".
''O objetivo dos partidos não é somente fazer política, mas é também de fiscalizar como as instituições públicas estão a ser geridas", advertiu.
"A colocação repetida vem demonstrar de que há aqui um indício de má-fé, uma vez que a senhora Cristina Ndembi está na reforma. Não vemos por que razão voltou a candidatar-se".
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.