Grupo de partidos da Guiné-Bissau pede ajuda da ONU
Lusa | ar
16 de outubro de 2017
Carta enviada ao secretário-geral da ONU por alguns partidos da Guiné-Bissau pede intervenção da comunidade internacional para aplicação dos acordos de Conacri.
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Um grupo de partidos políticos da Guiné-Bissau pediu às Nações Unidas uma intervenção da comunidade internacional para a aplicação do Acordo de Conacri, considerando-o como a "única solução pacífica para a crise vigente no país".
"Porque foi decidido pelo Conselho de Segurança da ONU a aplicação de sanções aos atores políticos guineenses que obstaculizem a implementação do acordo de Conacri, que o Presidente (guineense), José Mário Vaz, depois de todos os prazos, prorrogações e apelos ao seu cumprimento, já declarou publicamente que não pretende cumprir, solicitamos respeitosamente a adoção de medidas conducentes à concretização efetiva das últimas deliberações do Conselho de Segurança da ONU", refere a carta enviada a António Guterres e a que a agência de notícias Lusa teve acesso.
Na carta, os partidos salientam estar convencidos que só a "determinação e a firmeza da comunidade internacional em exigir a pronta implementação dos Acordos de Bissau e de Conacri constituem a única solução pacífica para a crise vigente na Guiné-Bissau".
A carta foi enviada pelo denominado Espaço de Concertação Política dos Partidos Democráticos da Guiné-Bissau, que inclui o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o Partido da Convergência Democrática (PCD), a União para a Mudança, o Partido da Unidade Nacional, o Movimento Patriótico e o Partido de Solidariedade e Trabalho são as formações partidárias que assinaram o documento.O atual Governo da Guiné-Bissau não tem o apoio do partido que ganhou as eleições legislativas de 2014, o PAIGC, e o impasse político tem levado vários países e instituições internacionais a apelarem a um consenso para a aplicação do Acordo de Conacri. Este acordo, patrocinado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), prevê a formação de um governo consensual integrado por todos os partidos representados no parlamento e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e da confiança do chefe de Estado, entre outros pontos.
Usurpação de poderes
Na carta, os partidos dizem ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que a "explicação da crise é extremamente simples" e passa pela "vontade deliberada do Presidente da República, José Mário Vaz, de pisar uma Constituição da qual ele é garante e que jurou solenemente defender".
"É também e, sobretudo, a determinação do Presidente da República de usurpar poderes ao Governo que a Constituição não lhe confere. Estas são as principais causas da crise e a única explicação para a sua persistência", escrevem.
Os partidos denunciam também o que consideram ser um "golpe de Estado perpetrado pelo Presidente" e que tem sido "mantido através da força, violência e violação dos direitos fundamentais dos cidadãos", dando como exemplo a repressão violenta de manifestações e a sua proibição, o impedimento da imprensa estatal de informar com o sindicato dos jornalistas a denunciar "censura" e agressão contra advogados que apoiam processos contra o chefe de Estado e o Governo.Em meados de setembro, o Conselho de Segurança da ONU expressou "profunda preocupação com o impasse político não resolvido na Guiné-Bissau" e pediu a todos os atores políticos para dialogarem para ultrapassar a crise e que o Acordo de Conacri é o "principal para uma resolução pacífica da crise".
Solução da crise nas mãos do Parlamento?
Num discurso proferido a 24 de setembro, o Presidente guineense, José Mário Vaz, disse que a solução da crise política está nas mãos do Parlamento, encerrado há cerca de dois anos.
Sobre o Acordo de Conacri, José Mário Vaz insistiu que foi aplicado porque quando nomeou para o cargo de primeiro-ministro Umaro Sissoco Embaló foi com base no consenso que obteve de mais de 50% dos deputados.
"Assim, o Presidente agiu em obediência estrita à Constituição da República da Guiné-Bissau e não violou o Acordo de Conacri, porque este acordo não prevê a escolha nem por maioria e nem por unanimidade, mas sim por consenso", disse.
O Presidente sublinhou também que o Acordo de Conacri não é um acordo internacional, mas sim um acordo alcançado entre as partes internas em litígio, que não têm poder para rubricarem acordos internacionais em nome do Estado.
"Trata-se de equívocos internacionais criados para colocar em causa soberania da Guiné-Bissau, que é irrevogável e inegociável", salientou.
Guiné-Bissau: futebol descalço entre os buracos da rua
Na maioria dos países, pratica-se futebol com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, no caso dos que se dedicam à prática desta profissão, eles enfrentam situações desconfortáveis.
Foto: Braima Darame
Futebol descalço
Na maioria dos países, pratica-se futebol com uma certa regularidade, com condições apreciáveis e perante um calendário supra definido. Na Guiné-Bissau, os atletas que se dedicam à prática da profissão, enfrentam situações desconfortáveis. As estruturas oferecidas pelas entidades desportivas do país desencorajam o investimento dos atletas em se profissionalizarem.
Foto: Braima Darame
Diamantes anónimos
A Guiné-Bissau é uma mina de diamantes anónimos no futebol. Apesar dessa potencialidade ser reconhecida, o desporto rei foi relegado para segundo plano. Num país onde as escolas públicas andam em constante paralisação e com sucessivas greves de professores, as crianças preenchem o seu tempo com partidas de futebol nas estradas e nas ruas esburacadas.
Foto: DW/B. Darame
Campos improvisados
À primeira vista pode assemelhar-se a uma zona pantanosa, reservada a pasto de gado, contudo, é um terreno destinado à prática futebolística, localizado em São Domingos, no extremo norte do país. São terrenos com obras em curso, impróprios para a prática de desporto, mas ainda assim, este espaço é muito disputado pelas equipas.
Foto: Braima Darame
Pequenos autodidatas
Sem escolas de formação e sem orientação de profissionais, cada um aposta nas qualidades que reconhece em si. Para estas crianças, assumir a posição de ataque em campo é muito apetecível pois sabem que os melhores e mais galardoados jogadores do mundo atuam nas zonas mais avançadas do retângulo de jogo.
Foto: Braima Darame
O sonho da alta competição
Maurício Sissé, apelidado de "Messi" graças à sua agilidade em campo, sonha um dia disputar um Campeonato do Mundo pela seleção nacional portuguesa, pois, segundo ele, é improvável que a Guiné-Bissau reúna condições para disputar o Campeonato. Sissé, de 10 anos, é orfão mas nos últimos meses tem estado à guarda de um empresário de futebol que pretende coloca-lo nas academias de formação na Europa.
Foto: Braima Darame
O treino diário
Chama-se Aliu Seidi, tem 8 anos e estuda na 2ª classe. Aliu é ainda criança mas já cresce nele o sonho de se profissionalizar no futebol. E não deixa que as dificuldades económicas dos seus pais travem neste desejo. Todas as manhãs bem cedo, Aliu arruma os seus equipamentos e segue em direção ao campo pelado de São Domingos, norte da Guiné-Bissau, para mais umas horas de treino.
Foto: Braima Darame
Com os pés no chão
Com muita paixão, garra e vontade de vencer, na Guiné-Bissau as crianças ainda jogam futebol de pés descalços, em lugares impróprios - com pedras ou vidros. Apesar de em cada partida estarem sujeito a se magoarem nos terrenos, o sonho de se tornarem estrelas futebolísticas, fala mais alto e as más condições não os afastam da prática desportiva.
Foto: Braima Darame
Seguir as pisadas rumo ao sucesso
O jogo é constantemente interrompido para permitir a passagem aos carros que circulam. Mas isto não os desmotiva. Têm sempre os olhos no percurso dos internacionais guineenses, desejando igual para si. Um exemplo é Bocindji, jogador na primeira liga francesa. Sami, atualmente na primeira liga portuguesa ou ainda Bruma, transferido do Sporting Clube de Portugal para o Galatasaray na Turquia.
Foto: Braima Darame
Uma partida no intervalo da lavoura
Nos últimos anos têm surgido algumas academias de formação no país. Martinho Sá, da academia Fidjus di Bideras em Bissau, joga futebol no intervalo do trabalho nos campos de arroz, que faz acompanhado pelos seus familiares. Sá conta que já teve lesões graves pela falta de condições dos campos improvisados e que não teve à sua disposição medicamentos de primeiros socorros.
Foto: Braima Darame
Uma incubadora falhada de jogadores
A falta de alimentação diversificada e a fraca formação representam os principais problemas que o país enfrenta para aqueles que vêm no desporto uma carreira em potência. Observadores defendem que se estas questões pudessem ser combatidas, a Guiné-Bissau tinha condições de ser uma incubadora de jogadores de topo.
Foto: Braima Darame
O melhor jogador da aldeia
Saído Baldé, tem apenas 7 anos de idade e nasceu na aldeia de Pelundo, no extremo norte do país. Confessa que nunca teve a oportunidade de assistir a um jogo de futebol na televisão, pois na sua aldeia não há corrente elétrica. Conta que nunca tomou o pequeno-almoço antes de se lançar para campo. Tal como Saído, são muitos os jovens no país que apenas fazem uma refeição por dia.
Foto: Braima Darame
Novos e velhos no Campeonato Defeso
A partir do início da última década, o Campeonato Defeso tem ganho muito impacto entre as comunidades e tem animado os bairros e as aldeias da Guiné-Bissau. Este campeonato de futebol amador e improvisado junta centenas de pessoas curiosas em ver o desempenho de atletas familiares, mas também, interessadas em assistir a novos jogadores que se dão a conhecer à comunidade pela primeira vez.
Foto: Braima Darame
Um campo portátil
E quando a vontade de jogar é muita, qualquer material serve para construir um campo improvisado de futebol. No caso desta fotografia, a cana de bambu foi utilizada para erguer uma baliza. Resta esperar que o resto da equipa chegue para começar uma nova partida.