Partidos apelam à isenção dos agentes de educação cívica
Bernardo Jequete (Manica)
25 de agosto de 2018
Este sábado (25.08), o STAE lançou a campanha de educação cívica eleitoral para as autárquicas de 10 de outubro, em Moçambique. RENAMO pede atenção a zonas recôndidas. MDM apela à afluência em massa dos eleitores.
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A província de Manica possui cinco autarquias – nomeadamente as cidades de Chimoio, de Manica, Vila Municipal de Sussundenga, Gondola e Catandica - onde foram preparados para o efeito 150 agentes de educação cívica que estarão a mobilizar e recordar aos potenciais eleitores para que no dia 10 de outubro exerçam o seu dever cívico.
Os educadores vão percorrer bairros, escolas, mercados e outros locais de maior concentração populacional, explicando também como será a votação. Terão consigo cópias de boletins de voto para mostrar aos eleitores como proceder.
O material de apoio para o trabalho inclui megafones, panfletos, cartazes e camisetas com textos e imagens sobre como votar.
Na capital, Chimoio, 50 agentes irão disseminar as mensagens em todas as áreas autárquicas, durante 30 dias.
Para o presidente da Comissão Provincial de Eleições em Manica, Januário Rucheque, o número de agentes é reduzido, pelo que apelou a todos estratos da sociedade a serem agentes educadores - principalmente líderes comunitários e religiosos, professores, autoridades governamentais, líderes políticos e a sociedade em geral.
Quando questionado sobre as abstenções, Januário Rucheque respondeu que os números continuavam altos, "pois até as eleições passadas eram assustadores", acrescentando que "pelo que vimos no recenseamento de 2018, tudo indica que algo vai mudar porque no ato de recenseamento não registamos muitas abstenções".
"Não há razões neste momento de não irmos votar", disse ainda Rucheque, apenando para todos se pautem "pela mesma conduta [verificada no recenseamento] no processo de eleição".
"Gostaríamos que tivéssemos zero abstenções em Manica," disse ainda.
Isenção partidária
Ainda em Manica, os partidos políticos apelam aos agentes educadores cívicos a pautarem pela isenção e a "não pautarem pelos ideias de um só partido".
A RENAMO em Manica quer que os agentes educadores atinjam as zonas mais recônditas e não escolham as zonas, "mesmo sabendo que é ou não bastião de qualquer formação eles devem ir mobilizar naquela área".
"Pedimos aos envolvidos na educação cívica eleitoral para que não façam a educação cívica nas zonas que acham melhor responder aos seus patrões, mas que façam para todos territórios - mesmo que saibam que o território X ou Y é bastião de um determinado partido e não alinha com os seus ideais. Nós percebemos que a educação cívica deve ser imparcial," disse Américo Alfredo, representante do maior partido da oposição em Manica.
Américo Alfredo apelou ainda "aos nossos membros e simpatizantes e a toda a sociedade no geral para que recebam os agentes, bem como as instruções trazidas pelos agentes".
Luís Manuel Vurande representante e mandatário do MDM em Manica, disse esperar uma boa mobilização dos agentes cívicos e que no dia propriamente dito os eleitores possam afluir em massa às mesas das assembleias de voto.
"Esperamos, com essa campanha, que todos os munícipes estejam consciencializados e que acatem aquilo que é a orientação dos agentes cívicos, sobre o processo eleitoral. O MDM quer que todos cidadãos que se recensearam possam eleger, no dia 10 de Outubro," afirmou.
Já Tomás Razão, da FRELIMO em Manica, disse que seu partido pauta pela festa, irmandade, camaradagem e moçambicanidade e por esta razão desafiou os potenciais eleitores a acatarem bem as orientações.
"Damos muita força ao STAE, através dos educadores cívicos, para que possam levar a mensagem até a última residência do território e também as organizações da sociedade civil, igrejas, os partidos que complementem este trabalho para que não tenhamos abstenções," declarou.
"Queremos que os munícipes elejam e escolham o partido que desejam que governe os municípios da província de Manica. A FRELIMO, como uma formação partidária, também vai ajudar a disseminar a mensagem. O processo não cabe apenas aos agentes de educação cívica, mas sim a todos os estratos da sociedade, líderes comunitários, religiosos e políticos," concluiu.
As atividades do lançamento da campanha de educação cívica eleitoral na província de Manica tiveram lugar na zona da SOALPO. Uma simulação da campanha pelos agentes educadores, cantos e danças tradicionais, atuação de músicos da praça, teatro retratando aspectos sobre a campanha, coloriram o evento.
Moçambique: Guerra civil com pausas de paz
A paz nunca foi uma certeza em Moçambique. Ela apenas tem intercalado confrontos militares desde a independência. Acordos de paz mal concebidos parecem estar na origem dos conflitos. Mas há novos bons sinais à vista.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
O começo da guerra civil
A guerra entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO começou em 1977, isso cerca de dois anos após a proclamação da independência do país. A RENAMO contestava a governação da FRELIMo e queria democracia. Este movimento tinha o apoio da ex-Rodésia e da África do Sul, dois vizinhos de Moçambique. A guerra matou milhões de moçambicanos e quase paralisou a economia do país.
Acabar com a guerra era o obetivo deste acordo, alcançado em 1984. Foi assinado entre os antigos Presidentes de Moçambique e da África do Sul, Samora Machel e Peter Botha, respetivamente. Ficou acordado que Pretória deixava de apoiar a RENAMO e Maputo parava o apoio ao ANC. Este último que lutava contra o Apartheid. Mas ninguém respeitou o acordo.
Foto: Avant Verlag/Birgit Weyhe
Acordo Geral de Paz de Roma
Colocou finalmente fim a guerra em 1992. Foi patrocinado pela Comunidade Santo Egídio, instituição católica italiana. Nessa altura o país já estava devastado e tinha transitado do sistema socialista para o da economia de mercado. Afosno Dhlakama, líder da RENAMO, e Joaquim Chissano, ex-Presidene de Moçambique, assinaram um acordo que pôs fim a uma guerra de 16 anos.
Eleições: nova era de desentendimentos
Em 1994 o país dava os seus primeiros passos rumo a democracia: início do multipartidarismo e realização das primeiras eleições, patrocinadas pela ONU. O primeiro Presidente eleito do país foi Joaquim Chissano. A RENAMO contestou, mas acabou por aceitar os resultados eleitorais.
Foto: Getty Images/AFP/Gianluigi Guercia
Eleições 1999: RENAMO revolta-se
Nas segundas eleições, em 1999, Joaquim Chissano e a FRELIMO voltaram a ganhar. Mas o processo foi novamente marcado por graves irregularidades, a RENAMO diz que houve fraude e contestou com mais veemência. E no ano 2000 apoiantes da RENAMO manifestaram-se em Montepuez província de Cabo Delgado, contra os resultados. Cerca de 700 manifestantes terão sido detidos e mortos por asfixia nas celas.
Foto: Marc Dietrich-Fotolia.com
Rastilho para o barril de pólvora já arde
As sucessivas irregularidades nas eleições, a lei eleitoral desajustada e difícil integração dos ex-guerrilheiros da RENAMO no exército nacional foram os principais pontos que aumentaram a tensão com o Governo. A falta de confiança que caracteriza a relação entre as partes aumentou.
Foto: Gerald Henzinger
As armas falam novamente
Em 2013 a polícia e homens da RENAMO confrontaram-se. Era o início dos conflitos armados. Nesse ano a RENAMO recusa a aprovação da Lei Eleitoral e não participa nas autárquicas. Há um interregno no conflito para a realização de eleições gerais em 2014. A RENAMO perde e acusa a FRELIMO de fraude. O país volta a ser palco de guerra. RENAMO exige governar as seis províncias onde diz ter ganho.
Foto: Fernando Veloso
Guebuza e Dhlakama: o braço de ferro até ao fim
Em setembro de 2014 o Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO chegam a acordo para por fim ao conflito armado. Abriu-se assim caminho para as eleições gerais, onde a RENAMO participou. Mas as negociações entre os dois homens nunca foram fáceis. Para começar os encontros foram poucos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Na guerra vale tudo
Em Setembro de 2015 Dhlakama sofreu dois atentados. Um deles contra a coluna em que viajava, de Manica a Nampula. Afonso Dhlakama saiu ileso, mas segundo relatos morreram várias pessoas. Mais tarde várias viaturas da comitiva do líder da RENAMO foram queimadas. Dhlakama acusou a FRELIMO pelos atentados.
Foto: DW/A. Sebastião
Cerco a casa de Afonso Dhlakama
Em outubro de 2015 a guarda pessoal do líder da RENAMO foi desarmada pelas forças governamentais durante um cerco à sua residência na cidade da Beira. O Governo pretendia um desarmamento forçado dos homens da RENAMO. O desarmamento da maior força da oposição é um dos pontos controversos nas negociações de paz.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Diálogo de paz pouco frutífero
Infindáveis rondas marcaram as negociações de paz. E em paralelo as armas falavam nas matas, membros da RENAMO eram assassinados a média de um por mês em 2016. Observadores e mediadores, nacionais e internacionais, entraram e saíram do barulho sem conseguir muito. Houve também adiamentos de rondas e algumas pausas no processo.
Foto: Leonel Matias
Dhlakama e Nyusi: maior proximidade, bons sinais
Em agosto de 2017 o Presidente Nyusi deslocou-se à Gorongosa, bastião da RENAMO, para se encontrar com Dhlakama. Os dois líderes acordaram sobre os próximos passos no processo de paz. Esperavam um acordo de paz até ao final de 2017, mas tal não deverá acontecer. Entretanto, Dhlakama está satisfeito com o andamento das negociações. O sigilo entre os dois parece ser o segredo de um bom entendimento.