Nampula: Campanha para eleições arranca na próxima semana
Sitoi Lutxeque (Nampula)
3 de janeiro de 2018
Falta menos de uma semana para o arranque da campanha para as eleições intercalares de 24 de janeiro em Nampula, norte de Moçambique. Os partidos políticos mostram-se preparados para conquistar o eleitorado.
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A campanha eleitoral para a eleição do novo presidente do Município de Nampula, vem na sequência do assassinato de Mahamudo Amurane e arranca na próxima terça-feira, (09.01). Os cinco partidos concorrentes às eleições dizem estar preparados para participar e vencer o pleito. E falam ainda em sucesso na campanha e no escrutínio.
Em entrevista à DW África, a diretora do gabinete eleitoral do partido Movimento Democrático de Moçambique (MDM) que governa a autarquia nortenha desde 2013, Leonor Lopes, diz esperar que o seu partido venha ter "sucesso" nesta campanha que "irá culminar com a nossa vitória”.
A diretora assegura que está tudo garantido e que estão "preparados" para o início da campanha.
Preparado também está o recém-criado partido "Ação do Movimento Unido Para a Salvação Integral (AMUSI) que participa pela primeira vez nesta corrida eleitoral. Segundo o seu candidato, Mário Albino Muquissince, apesar da falta de fundos, ele irá obter bons resultados tanto na campanha eleitoral quanto na votação do dia 24.
"Politicamente, a máquina está preparada. Economicamente, como sabe, é um processo de conta própria. Mas, os membros do partido estão a fazer contribuições para ver se conseguimos adquirir algum material para a campanha. Vamos para essas eleições com toda a força e a caminho da vitória'', explica o candidato.
O Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO) mostra-se também pronto para o embate eleitoral de janeiro.
Conforme explica o seu mandatário, Ussene Martinho : "estamos a afinar as nossas máquinas [para as eleições]. Por exemplo, estamos a efetuar alguns preparativos com os nossos membros por forma a iniciarmos [a campanha]. Os materiais já estão preparados, materiais esses que foram adquiridos com a contribuição dos nossos membros''.
A RENAMO e a FRELIMO também estão otimistas quanto às eleições do próximo dia 24. Estes dois partidos intensificaram nas duas últimas semanas, em pré-campanha, as visitas e os contatos com as populações nos principais bairros da cidade de Nampula.
CNE diz que "tudo estará garantido”
O vogal da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e chefe da brigada de Nampula, António Muacorica, informou à DW África que "tudo está a ser preparado com mínimos de detalhes para que o processo se realize com sucesso”, acrescentado que "tudo estará garantido para que o processo até à votação decorra de forma tranquila e sem obstáculos”.
Por outro lado, Muacorica apela aos partidos políticos concorrentes a pautarem pelo "civismo e boa conduta” durante a campanha eleitoral.
Partidos políticos prontos para as intercalares em Nampula
‘‘A CNE, neste momento, está empenhada em criar condições humanas, materiais e financeiros para que as eleições tenham lugar no dia 24 sem sobressaltos'', assegurou o vogal da CNE.
Para uma melhor atuação dos profissionais de comunicação durante o escrutínio intercalar do dia 24 de janeiro e 10 de outubro, os órgãos da administração eleitoral estão a formar jornalistas e editores na cidade de Nampula.
Cidadãos temem não votar por no terem cartão de eleitor
Muitos cidadãos já perderam os seus cartões de eleitor e temem não votar no dia 24.
Apesar desse receio dos cidadãos em não poderem votar por causa dos cartões de eleitor, a CNE garante que "a falta de cartões não vai impedir o cidadão de ir às urnas eleger o futuro presidente da autarquia”.
O presidente da Comissão Provincial de Eleições de Nampula, Daniel Ramos, avançou à DW África em dezembro (29.12) que ''todo o eleitor que perdeu o seu cartão pode votar com o seu Bilhete de Identidade, tal como pode ir ao Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) provincial para adquirir uma declaração com qualquer identificação que tiver, pode ser carta de condução, ele tem direito de votar".
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.